"Sempre agi dentro da legislação", diz ministro do Turismo sobre 'laranjas'

Marcelo Álvaro Antônio foi questionado no Senado pelas acusações de comandar esquemas de candidaturas laranjas nas eleições em Minas Gerais

Foto: Marcos Corrêa/PR
Marcelo Álvaro Antônio negou relação com supostas 'candidaturas laranjas' do PSL em Minas Gerais

O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG), negou em audiência no Senado Federal que tenha cometido qualquer irregularidade relacionado a candidaturas laranjas de mulheres pelo seu partido em Minas Gerais. A afirmação foi feita durante uma audiência da Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo, após o ministro ser questionado pela senadora Elizine Gama (PPS-MA). O tema do debate era o turismo regional.

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"Sempre agi estritamente dentro da legislação eleitoral à frente do partido em Minas. Nunca fiz qualquer procedimento inadequado que pudesse macular a imagem do partido ou a minha", afirmou o ministro do Turismo .

Deputado federal desde 2010, Marcelo Álvaro Antônio , que foi nomeado para o comandar o Ministério do Turismo em janeiro, é investigado pelo Ministério Público em Minas Gerais e pela Polícia Federal por ter supostamente patrocinado com dinheiro dos fundos partidário e eleitoral candidaturas femininas de fachada.

Em maio do ano passado, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou que partidos devem reservar ao menos 30% dos recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), conhecido como fundo eleitoral, para financiar candidaturas femininas.

A senadora questionou o ministro sobre a investigação e disse que a utilização de candidaturas de mulheres como laranjas para a repartição de recursos públicos colocou em risco a cota de 30% do fundo eleitoral para mulheres.

"Para mim, é uma desculpa para tentar excluir a participação das mulheres. Há uma denúncia em relação ao seu nome pelo uso de candidaturas laranjas pelo PSL, a exemplo do que aconteceu com (Gustavo) Bebianno, que acabou sendo demitido", acusou Elizine Gama .

Em seguida, o presidente da comissão, Izalci Lucas (PSDB-DF), pediu que as perguntas se limitassem ao tema da audiência. O líder de governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), disse que aquele não era o ambiente para discutir o tema das laranjas. O ministro respondeu logo depois.

"O processo corre em segredo de justiça. Confio plenamente nas instituições da Polícia Federal e do Ministério Público e sempre tenho dito, e reafirmo, que esse inquérito será a melhor oportunidade que terei para reafirmar que não tenho nenhum problema", completou.

Entenda a acusação contra o ministro do Turismo

Marcelo Álvaro Antônio foi denunciado pela terceira vez por uma suposta candidata laranja do PSL em Minas Gerais. A denunciante da vez é Adriana Moreira Borges, que concorreu ao cargo de deputada federal pelo partido nas eleições de 2018. As informações são do Jornal  O Globo  , que entrevistou a candidata no mês passado.

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Adriana, que teve 11.830 e não foi eleita, acusa o ministro do Turismo de condicionar o repasse da verba parlamentar de campanha, que era de R$ 100 mil, à devolução de R$ 90 mil para o partido em nove cheques em branco assinados. Ela afirma ter sido instruída por Roberto Silva Soares, ex-assessor do gabinete de Álvaro Antônio na Câmara dos Deputados e atual primeiro-secretário do diretório do PSL em Minas. 

"Perguntei [a Roberto Soares] do fundo partidário. Foi quando ele me fez uma proposta para que eu recebesse R$ 100 mil. Ficaria com 10% para minha campanha e assinaria cheques em branco para que ele pudesse, com os R$ 90 mil restantes, pagar a campanha de outros candidatos.", explicou.

Antes, outras duas candidatas já haviam denunciado o agora ministro. Em fevereiro, Cleuzenir Barbosa dissa ao jornal  Folha de São Paulo que Marcelo Álvaro Antônio sabia do esquema de candidaturas laranjas. 

“Era o seguinte: nós mulheres iríamos lavar o dinheiro para eles. Esse era o esquema. O dinheiro viria para mim e retornaria para eles”, disse. Ela ainda acusou assessores do ministro de ameaça. 

"Me mudei [para o exterior] exclusivamente por causa dessa situação. Peço para as mulheres que denunciem. Não fiquem caladas, se exponham, sim. Eu vou entrar com pedido de proteção à vítima. Esse povo é perigoso. Hoje eu sei, eles são uma quadrilha de bandidos."

Já no dia 7 de março, também em entrevista para a  Folha de São Paulo , foi a vez de Zuleide Oliveira, de 49 anos e moradora da cidade de Santa Rita de Caldas denunciar o ministro. Ela foi inscrita para disputar uma vaga como deputada estadual, mas teve a candidatura impugnada por ser ficha suja. 

De acordo com Zuleide, ela chegou a se reunir com o agora ministro, seus assessores e outros membros do PSL, que prometeram que cuidariam das contas da campanha com o dinheiro do fundo partidário. A mulher afirma que não sabe quanto dinheiro foi depositado para sua candidatura, pois o controle da conta bancária ficou com dirigentes do partido.

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"Eu não entendia de nada, eles que fizeram tudo [para registrar a candidatura], eu não tirei uma certidão minha, eles tiraram por lá, eu só enviei meu documento e eles fizeram tudo. Acredito, sim, que fui mais uma candidata laranja, porque assinei toda a documentação que era necessária e não tive conhecimento de nada que eu estava fazendo", disse Zuleide, que ainda afirmou que o PSL a "usou para fazer lavagem de dinheiro". 

Uma outra reportagem da  Folha de São Paulo  revelou que o ministro do Turismo teria repassado verbas de campanha a quatro possíveis candidatas laranjas de Minas Gerais. Os repasses também teriam sido autorizados pelo ex-presidente do PSL Gustavo Bebianno , que acabou sendo exonerado do cargo de secretário-geral da Presidência porJair  Bolsonaro.