Deputados do PSL tomam conta de comissão presidida pelo PT e blindam Damares

Parlamentares do partido de Jair Bolsonaro tomaram os ataques contra Paulo Guedes como lição e protegeram a ministra de Direitos Humanos em sessão da comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados

Damares Alves foi salva por deputados do PSL na Comissão de Direitos Humanos da Câmara
Foto: Michel de Jesus/Agência Câmara
Damares Alves foi salva por deputados do PSL na Comissão de Direitos Humanos da Câmara


Os deputados do PSL  conseguiram dominar a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara e orquestraram um ataque ao Ministério Público Federal (MPF), dirigido à procuradora federal dos Direitos do Cidadão, Deborah Duprat. Numa audiência nesta quarta-feira para discutir o esvaziamento de conselhos de representação social, patrocinado pelo governo de Jair Bolsonaro, deputados defensores do presidente atacaram Duprat e blindaram a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves , ambas presentes na audiência. 

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Depois de o ministro da Economia, Paulo Guedes, ter ficado exposto aos ataques da oposição na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), ao ponto de uma sessão sobre a reforma da Previdência ter sido encerrada porque o ministro irritou-se ao ser chamado de “tchutchuca”, desta vez o  PSL e os simpatizantes da pauta de costumes de Damares se organizaram e dominaram a audiência pública.

A sessão durou mais de cinco horas e foi marcada por forte embate, mas com clara vantagem à defesa ferrenha do governo. Os deputados bolsonaristas estavam presentes em massa e foram os primeiros a se inscrever para falar. Sete deputados fizeram ataques ao MPF, na figura de Duprat.

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A procuradora está à frente da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), um colegiado que funciona no âmbito da Procuradoria-Geral da República (PGR). Duprat tem um histórico de atuação na defesa dos direitos humanos. Nos 100 dias de governo Bolsonaro , a PFDC foi a unidade do MPF que mais combateu atos do governo. O colegiado emitiu recomendações contra a comemoração do golpe de 1964, determinada pelo presidente, e contra a presença de militares na Comissão de Anistia, cuja composição foi redefinida por Damares.

A Comissão de Direitos Humanos na Câmara é presidida pelo PT. Mesmo assim, o protagonismo foi dos bolsonaristas. Damares ficou blindada a maior parte do tempo, diferentemente da representante do MPF.

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Em sua fala, Duprat criticou a extinção de conselhos representativos, a falta de autorização para o pleno funcionamento de mecanismos de combate à tortura e a nova composição da Comissão de Anistia, que incluiu militares.

"Essa composição deve incluir pessoas da área de direitos humanos, ligadas à memória, sem ligação a quem deve pedir perdão. Não é razoável que militares participem de Comissões de Anistia, da Verdade e de Desaparecidos. Sobre os conselhos, há uma incompreensão muito grande sobre o papel desses comitês", afirmou Duprat.

Os ataques à procuradora foram puxados pelo deputado Filipe Barros (PSL-PR), titular da Comissão de Direitos Humanos. Ele questionou, antes mesmo da fala, se Duprat estava na audiência como representante do MPF ou pessoalmente. Barros questionou se há base legal para a emissão das recomendações pela PFDC. E acusou integrantes do Ministério Público de usar o poder que têm para “expressar suas posições políticas”.

O líder do PSL na Câmara, delegado Waldir (GO), chamou de “bulliyng” a proposta de que militares sejam vetados na Comissão de Anistia. A líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), disse que na mesa havia um “cinco contra uma”, em referência à divergência de posições entre Duprat, representantes de conselhos participantes da audiência e a ministra da Família.

O deputado Delegado Éder Mauro (PSD-PA) criticou o deputado Rogério Correia (PT-MG) por cumprimentar Duprat e não Damares. O ataque mais direto, porém, foi feito pelo deputado Julian Lemos (PSL-PB).

"Algumas autoridades querem usurpar o poder da família. Sua fala sobre militares não tem guarida na lei. Usa-se o poder atribuído à senhora para fazer militância política e ideológica, afirmou o parlamentar.

As deputadas Carla Zambelli (PSL-SP) e Chris Tonietto (PSL-RJ) também partiram para cima da representante do MPF. 

"Onde a senhora estava quando a ministra foi atacada no episódio da goiabeira? Quando aquela policial militar foi atacada por defender sua família? ", disse Zambelli.

"Repudio a declaração extremamente infeliz de Deborah Duprat de que os filhos não pertencem às famílias, mas ao Estado", afirmou Tonietto.

A manifestação da oposição que mais repulsa gerou nos bolsonaristas foi a fala da deputada Erika Kokay (PT-DF), quando ela cobrou o funcionamento de conselhos voltados a questões violência sexual contra crianças e adolescentes.

"Nem todas as meninas vítimas de violência podem se salvar por um Jesus na goiabeira", afirmou a deputada, em referência a uma pregação feita pela pastora Damares antes de virar ministra, em que ela relatou ter sofrido abuso sexual na infância. Logo depois, a petista foi contestada por parlamentares do PSL .