Filho de Herzog envia carta a Ernesto Araújo e pede que "renuncie imediatamente"
Ivo Herzog afirmou que o pai foi "brutalmente assassinado" por aqueles que deram o emprego ao ministro; jornalista foi torturado pela ditadura militar
Por iG São Paulo |
Ivo Herzog, filho do jornalista Vladimir Herzog, assassinado pela ditadura militar, enviou uma carta ao ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. No texto, ele rebate as declarações do chanceler sobre o regime militar e o nazismo e pede que ele "renuncie imediatamente ao cargo". As informações são da jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo .
“A família do meu pai veio para o Brasil fugindo dos nazistas. Os que lá ficaram foram brutalmente assassinados. O meu pai foi brutalmente assassinado por aqueles que te deram o emprego que o senhor tem. Meu pai sempre foi de esquerda. O senhor entendeu ou precisa desenhar?”, escreveu Ivo Herzog .
Na última quarta-feira (27), Ernesto Araújo afirmou, na Câmara dos Deputados, que não considera que houve golpe em 1964 e que a intervenção militar foi um "movimento necessário para que o Brasil não se tornasse uma ditadura".
No dia seguinte, em entrevista ao site "Brasil Paralelo", o ministro voltou a causar polêmica quando afirmou que regimes autoritários como o nazismo e o fascismo na Alemanha eram "fenômenos de esquerda" , contrariando historiadores e a própria embaixada do país. Na carta, Ivo também disse ao chanceler que os nazistas foram derrotados pela URSS, que era de esquerda.
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Vladimir Herzog era diretor de jornalismo da TV Cultura e militante do Partido Comunista Brasileiro. Em 1975, durante a gestão do general Ernesto Geisel, o jornalista se apresentou espontaneamente para prestar depoimento sobre suas ligações com os partidos, mas foi preso, torturado e assassinado nos porões do DOI-Codi.
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Na época, os militares divulgaram que ele havia se suicidado. Somente em 2012 o registro de óbito foi alterado, informando que a morte decorreu de "lesões e maus-tratos sofridos em dependência do II Exército – SP". No ano passado, a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou o Brasil por negligência na investigação do caso Herzog . Os responsáveis nunca foram punidos.