Preso na manhã desta quinta-feira (21) , na zona oeste da capital paulista, o ex-presidente Michel Temer (MDB) responde a dez inquéritos, cinco deles em primeira instância – agora que ele não ocupa nenhum cargo público e perdeu o foro privilegiado – e cinco no Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo informações preliminares, a prisão teria envolvimento com a delação do José Antunes Sobrinho, dono da Engevix.
A primeira denúncia contra Michel Temer foi formulada em junho de 2017 pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Na época, o ex-presidente foi acusado por corrupção passiva, em investigações iniciadas a partir do acordo de delação premiada da JBS. O áudio da conversa gravada pelo empresário Joesley Batista, um dos donos da empresa, com o presidente, em março de 2017, no Palácio do Jaburu, é uma das provas usadas no processo.
O ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (MDB-PR) também foi denunciado pelo mesmo crime. Em abril de 2017, Loures foi flagrado recebendo uma mala contendo R$ 500 mil, entregue pelo executivo do grupo J&F Ricardo Saud. Para o então procurador, Temer usou Rocha Loures para receber vantagens indevidas. O ex-presidente nega as acusações. Em 2019, o caso deve ser analisado pela Justiça Federal em Brasília.
A segunda denúncia contra o ex-presidente também foi apresentada por Janot em setembro de 2017. Nesta ação, Temer é acusado de praticar os crimes de tentativa de obstrução à Justiça e de organização criminosa junto a integrantes do chamado "quadrilhão do MDB na Câmara".
O ról de acusados por organização criminosa inclui também os ex-ministros Eliseu Padilha, Moreira Franco e Geddel Vieira Lima; os ex-presidentes da Câmara Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves; e o ex-assessor especial de Temer Rodrigo Rocha Loures.
Já em relação ao crime de tentativa de obstrução à Justiça, Temer é acusado junto ao empresário Joesley Batista e ao ex-executivo Ricardo Saud. A denúncia se baseia na suposta tentativa do ex-presidente em tentar evitar a assinatura de acordos de colaboração premiada do lobista Lúcio Funaro e de Eduardo Cunha com a PGR.
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Na denúncia, Janot afirma que Temer passou a exercer a liderança do núcleo político do " quadrilhão do MDB " tão logo ele assumiu a Presidência da República, em maio de 2016. Em 2019, o caso deve ser analisado pela Justiça Federal em Brasília. O inquérito que investiga suposto recebimento de propina da empresa Odebrecht por Michel Temer está suspenso desde outubro pelo ministro Edson Fachin.
Conforme delação premiada de seis ex-executivos da Odebrecht, o pagamento de R$ 10 milhões via caixa dois para a campanha de Paulo Skaf ao governo de São Paulo em 2014 teria sido acertado em um jantar no Palácio do Jaburu quando Temer era vice-presidente, em maio daquele ano.
Participaram do encontro o ex-presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, e Eliseu Padilha, que à época era ministro da Aviação Civil. Em relatório final, a Polícia Federal concluiu que outros R$ 4 milhões em caixa dois teriam sido solicitados por Moreira Franco em ocasião não especificada. Segundo a PF, R$ 1,4 milhão teriam sido recebidos por Temer por meio de intermediários. Em 2019, PGR pediu para que o caso fosse encaminhado à Justiça Federal no Distrito Federal, mas Fachin deve enviá-lo para Justiça Eleitoral.
No ano passado, a PGR ofereceu nova denúncia contra Temer e mais cinco pessoas por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O ex-presidente é investigado por supostamente ter recebido propina da Rodrimar, empresa que opera o Porto de Santos (SP), em troca de favorecimentos à empresa por meio de decreto assinado em maio de 2017 que regulamenta contratos de concessão e arrendamento do setor portuário.
De acordo com o inquérito, há "indícios" de que Temer tenha recebido R$ 5,9 milhões em propina e participe de "grupo criminoso" com empresas que atuam no Porto de Santos desde a década de 1990. Em 2019, também o caso deve ser analisado pela 10ª Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal.
Além da terceira denúncia apresentada em dezembro, a chefe da PGR, Raquel Dodge, pediu ainda a abertura de mais cinco inquéritos contra Temer, três deles relacionados à empresa Argeplan, que, segundo as investigações, pertence ao emedebista. Os inquéritos visam apurar:
- Suspeita de lavagem de dinheiro supostamente cometido pela filha Maristela em reforma de imóvel em São Paulo. PGR pede que, em janeiro de 2019, o caso vá para a Justiça Federal de São Paulo.
- Suspeitas apontadas pelo delator José Antunes Sobrinho de que houve pagamento de R$ 1,1 milhão, em 2014, solicitados por João Baptista Lima Filho (o coronel Lima) e pelo ministro Moreira Franco, com a anuência de Temer. Caso tem relação com o esquema investigado na Eletronuclear e Dodge pede que ele vá a Justiça Federal do Rio de Janeiro, que já tem inquéritos em andamento sobre a estatal.
- Suspeita de contratação da Argeplan/Concremat pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), com indícios de serviços não prestados e superfaturamento em contrato avaliado em cerca de R$ 100 milhões. Temer teria usado seu cargo para beneficiar a empresa. Dodge pede que o caso vá para a Justiça Federal de São Paulo.
- Suspeitas narradas pelo delator Flávio Calazans e pela auditoria interna da empresa Pérola S/A sobre suposto contrato fictício de prestação de serviço no valor de R$ 375 mil no porto de Santos. PGR pede que caso vá para a Justiça Federal em Santos.
- Suspeitas de contrato irregular entre a Argeplan Arquitetura e Engenharia e a empresa Fibria Celulose S/A, com valores em torno de R$ 15,5 milhões, além de relações entre a Construbase Engenharia LTDA e a PDA Projeto e Direção Arquitetônica – foram 58 transações, entre setembro de 2010 e agosto de 2015, envolvendo R$ 17,7 milhões. Dodge quer que o caso vá para a Justiça Federal de São Paulo.
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Devido à dignidade do cargo que ocupou, o emedebista pode receber o mesmo benefício do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e cumprir a pena em uma cela especial. Michel Temer nega todas as acusações que pesam contra ele. Ainda não ficou clara qual a investigação que resultou na prisão do emedebista.