Um novo relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) enviado ao Ministério Público do Rio (MP-RJ) mostra novas movimentações consideradas atípicas feitas por Nathalia Melo de Queiroz para o pai dela, Fabrício Queiroz, quando a jovem trabalhava no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro.
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De acordo com o relatório, a jovem repassou 80% do salário que ganhou na Câmara para a conta do pai entre os meses de junho e novembro de 2018. Foram R$ 29,6 mil dos R$ 36,6 mil que recebidos.
A Promotoria suspeita que Queiroz tenha comandado uma pratica conhecida como "rachadinha", onde funcionários repassam uma parte de seus salários de volta para os parlamentares.
Em um depoimento por escrito ao Ministério Público do Rio de Janeiro no início de janeiro, Fabrício Queiroz afirmou que recolhia parte dos salários dos funcionários do então deputado estadual para redistribuir para outras pessoas que também trabalhavam para Flávio, ainda que não estivessem formalmente vinculadas à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Queiroz chamou a função de “gerenciamento financeiro dos salários do gabinete”.
De acordo com Queiroz, o objetivo era “ampliar a rede de colaboradores” de Flávio Bolsonaro para aproximar o deputado de sua base eleitoral. O ex-assessor afirmou ainda que Flávio não sabia da prática. O agora senador não se posicionou sobre as declarações.
“Por contar com elevado grau de autonomia no exercício de sua função, resultante de longeva confiança que nele depositava o deputado, o peticionante nunca reputou necessário expor a arquitetura interna do mecanismo que criou ao próprio deputado e ao chefe de gabinete”, diz o documento entregue ao MP-RJ.
Queiroz afirmou que não considerava a prática ilícita pois o dinheiro não era usado em benefício próprio ou de terceiros, e sim para “multiplicar e refinar os meios de escuta da população por um parlamentar”.
Entenda a ligação de Nathalia Queiroz com a família Bolsonaro
Ainda em 2007, aos 18 anos, Nathalia começou a atuar na vice-liderança do PP, então sigla de Flávio Bolsonaro, onde ficou até fevereiro de 2011. Já de agosto do mesmo ano até dezembro de 2016, ela esteve lotada no gabinete do deputado estadual e agora senador Flávio Bolsonaro.
Sabe-se que quando ainda era servidora da Alerj, entre 2011 e 2012, Nathalia também trabalhava como recepcionista numa academia que fica em um shopping no Rio de Janeiro e foi contratada para participar de eventos de fitness também em horário comercial de dias úteis.
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Contratada pelo gabinete de Jair Bolsonaro no final de 2016, Nathalia mudou de cargo duas vezes, e nos seus últimos meses como secretária, recebeu um salário bruto de R$ 10.088,42. Ela trabalhou com o agora presidente da República até o final de 2018.
Apesar de ter sido contratada em dezembro de 2016 com regime de 40 horas semanais, clientes que contratavam a educadora física certificada em eletroestimulação como personal trainer relataram que ela prestava atendimento rotineiramente em dias úteis e horário comercial, no Rio de Janeiro. O registro de frequência dos secretários é administrado pelos próprios parlamentares.
Em um relatório prévio do Coaf, o nome de Nathalia já estava associado a uma transferência de R$ 84 mil para a conta de Fabrício Queiroz.