Davi Alcolumbre (DEM-AP), aos 41 anos de idade, é o novo presidente do Senado Federal. Ele foi eleito neste sábado (2) com 42 votos, ainda no primeiro turno, em uma eleição que se arrastou por dois dias e foi marcada por impasses, interferência do Judiciário, bate-bocas e pela desistência de Renan Calheiros (MDB-AL) já durante o andamento da eleição para a presidência do Senado.
Alçado do baixo clero e quase anonimato diretamente à presidência do Senado , Alcolumbre teve apoio silencioso de integrantes da equipe do governo Jair Bolsonaro (PSL) e conseguiu concentrar os votos daqueles que tentavam evitar o retorno de Renan. Sua vitória põe o partido Democratas à frente das duas casas que compõem o Congresso, uma vez que Rodrigo Maia (DEM-RJ) foi reeleito pelos deputados .
O democrata superou quatro adversários na votação desta tarde: Fernando Collor (PROS-AL), que recebeu 42 votos; Angelo Coronel (PSD-BA), que teve 8; Esperidião Amin (PP-SC), escolhido por 13 colegas; e Reguffe (Sem partido-DF), que ficou com 6 votos. Renan, antes de desistir, somou 5 votos.
Em seu discurso após a vitória, Davi Alcolumbre agradeceu aos senadores Major Olímpio (PSL-SP), Alvaro Dias (PODE-PR) e Simone Tebet (MDB-MS) – que abriram mão da disputa em nome de uma aliança anti-Renan –, e também a Tasso Jereissati (PSDB-CE), que costurou apoios ao democrata.
"Assumo o compromisso com o Senado e com o Brasil. Eu quero dividir essa responsabilidade com os 80 senadores que compõem esta casa", declarou Alcolumbre, acenando também ao próprio Renan Calheiros . "O senhor terá o mesmo tratamento que todos os partidos devem ter."
O senador pregou a "reunificação" do Senado por meio do diálogo. "Não produzirei um Senado de revanchismo. Todos encontrarão diálogo e a mais ampla colaboração", disse. "Precisamos reunificar o Senado em torno do que nos deve ser mais caro: a República e o interesse público. Situação e oposição contarão com o mais amplo respeito desta presidência."
Alcolumbre defendeu a transparência no Congresso a reforçou a necessidade de "reformas complexas" no País – pincelando seu discurso com a mensagem de que o Legislativo não se curvará a outros poderes.
"No que depender da minha condução, esta será a derradeira sessão do segredismo. Só com a transparência de todas nossas práticas o Senado recuperará o prestígio", disse. "O Senado é uma casa que precisa ter independência e precisa, sim, ser respeitada. [...] Enfrentaremos reformas complexas que, com urgência, nosso país clama. Com o Legislativo forte e reabilitado com a cidadania, que não se incumbe à posição mesquinhada do Judiciário ou de qualquer outro Poder, o Brasil conta conosco. Não podemos nos dar ao luxo de falhar."
Renan sai de cena
A desistência de Renan Calheiros se deu por volta das 17h40, quando sua candidatura já não demonstrava fôlego para superar Alcolumbre. O emedebista justificou sua decisão alegando que o processo "não era democrático", uma vez que seus aliados estariam sendo intimidados a abrirem seus votos. O emedebista reclamou que os senadores, ao permitirem a declaração dos votos, descumpriram
decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli
, que determinou voto fechado na eleição no Senado.
"Esse processo não é democrático. Para demonstrar que esse processo não é democrático, eu queria lhe dizer que o Davi [Alcolumbre] não é o Davi. Ele é o Golias. Ele é o novo presidente do Senado e eu retiro a minha candidatura", anunciou Renan Calheiros.
Àquela altura da sessão, os senadores já participavam da segunda tentativa de votação do dia. A primeira foi anulada após a apuração da mesa diretora descobrir haver 82 votos dentro da urna, sendo que o Senado comporta só 81 parlamentares. As cédulas, adotadas após acordo entre os senadores que acabaram contrariados pela decisão de Dias Toffoli, acabaram parando na trituradora de papel.
A renúncia de Renan provocou novo impasse no plenário, com candidatos pedindo o reinício da votação. O pedido, no entanto, foi negado.
Antes da votação, Alcolumbre fez discurso transmitindo mensagem de "esperança" e renovação, alfinetando seu até então principal adversário, Renan. "Nós não precisamos de mais do mesmo", disse. "É hora de assumirmos o compromisso com a renovação do nosso país. É o momento de dar lugar à nova ordem", complementou.
O senador também criticou a interferência do STF no rito de votação no Senado. "O que vimos ontem e o que aconteceu nesta madrugada demonstram, de forma clara, que os poderes devem ser independentes. O que, infelizmente, não se fez valer", reclamou.
Eleição para presidência do Senado durou dois dias
A escolha do novo presidente do Senado deveria ter sido concluída nessa sexta-feira (1ª), assim como ocorreu na Câmara dos Deputados. Mas o dia foi marcado por confusão, manobras e impasse sobre o modelo de votação.
Remanescente da última mesa diretora, Davi Alcolumbre assumiu o posto de presidente do Senado na sessão desta sexta e colocou em votação a possibilidade de voto aberto, que acabou aprovada pela maioria esmagadora da Casa. Renan e seus aliados, no entanto, contestaram a legitimidade de Alcolumbre em conduzir a sessão, uma vez que ele seria também candidato.
O impasse se prolongou durante várias horas, período no qual a senadora Kátia Abreu (PDT-TO) chegou a 'roubar' a pasta de trabalhos de Alcolumbre para impedir que ele avançasse com os trabalhos. Por volta das 22h, decidiu-se suspender a sessão.
Nesse primeiro teste no comando da Casa, Davi Alcolumbre acabou acuado pelos apoiadores de Renan e não conseguiu demonstrar pulso firme na condução dos trabalhos. Ele será peça-chave para o sucesso ou não dos projetos do governo Bolsonaro, uma vez que a pauta de votações é definida pela presidência do Senado .
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