Brasil não deixará o Acordo de Paris "por ora", afirma Bolsonaro em Davos

Presidente disse a empresários presentes no Fórum Econômico Mundial que o País não seguirá o exemplo dos Estados Unidos e sairá do acordo climático

Bolsonaro discursou no Fórum Mundial Econômico, em Davos ontem e não citou o Acordo de Paris, mas disse em particular a empresários que país não sairá do acordo climático 'por ora'
Foto: Alan Santos/PR - 22.1.19
Bolsonaro discursou no Fórum Mundial Econômico, em Davos ontem e não citou o Acordo de Paris, mas disse em particular a empresários que país não sairá do acordo climático 'por ora'

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) disse nesta terça-feira (22), em encontro com executivos no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, que "por ora" o Brasil não vai deixar o Acordo de Paris sobre o clima. O tratado mundial prevê a redução da emissão de gases que aumentam a temperatura do planeta e foi assinado pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT) numa conferência das Nações Unidas realizada em 2015 em Nova Iorque, nos Estados Unidos.

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A declaração de Bolsonaro sobre o Acordo de Paris foi dada em particular a empresários pouco depois de  realizar um discurso rápido na conferência em que o presidente disse que "nossa missão agora é avançar na compatibilização entre a preservação do meio ambiente e da biodiversidade com o necessário desenvolvimento econômico, lembrando que são interdependentes e indissociáveis".

Segundo jornalistas que acompanham o Fórum Econômico Mundial em Davos , a fala sobre o Acordo de Paris era aguardada pelos empresários presentes. Eles ficaram frustrados ao não ver Bolsonaro citar o acordo climático em seu discurso e consideraram a fala do presidente brasileiro rasa, superficial. Mesmo nas três perguntas realizadas pelo presidente do evento, Klaus Schwab, Bolsonaro não especificou nem se aprofundou nas medidas práticas que pretende tomar para atacar os problemas que ele mesmo citou no discurso como a corrupção.

De qualquer forma, a declaração dada por Bolsonaro adiciona mais um capítulo na relação inconstante do novo presidente com os termos do Acordo de Paris . Durante a campanha eleitoral, em setembro, Bolsonaro disse que, se eleito, poderia retirar o Brasil do tratado. No mês seguinte, no entanto, afirmou que não iria tira o País do tratado caso se tornasse presidente. Em dezembro, já eleito, afirmou que só sairia do acordo se este não fosse alterado. E agora, após tomar posse, não colocou condições para dizer que o Brasil não sairá mais do acordo "por ora".

Apesar de, no cenário nacional, os empresários brasileiros já estarem se acostumando com as idas e vindas do governo, no exterior, as mudanças constantes de opinião do presidente a respeito de temas sensíveis como este ainda assusta os empresários e comprometem os planos do governo de atrair mais investimentos estrangeiros no Brasil.

Um exemplo disso é a declaração dada pelo embaixador da Alemanha no Brasil, Georg Witschel, que na segunda-feira (21) disse que é preciso que o governo adote política públicas que expliquem melhor à comunidade internacional as intenções da nova gestão nas áreas de direitos humanos e clima.

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Ao sair do Palácio do Planalto após uma reunião com o presidente em exercícido do Brasil, general Hamilton Mourão, Witschel disse achar "importante que o governo faça uma política pública que explique as intenções, as reformas e também explique que os direitos humanos, a luta contra a mudança climática continuará. Estou otimistas, mas temos afazeres juntos", afirmou o embaixador.

Agenda de reuniões de Bolsonaro em Davos

Foto: Alan Santos/Presidência da República
Fala de Jair Bolsonaro foi considerada vaga pelos empresários presentes no Fórum Econômico Mundial, mas participação do ministro da Economia, Paulo Guedes, impressionou os presentes

Após o discurso de ontem, no segundo dia de participação no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíca, a primeira viagem internacional do novo presidente, os ministros de Bolsonaro, Paulo Guedes e  Sérgio Moro tiveram outras reuniões na qual, segundo jornalistas que acompanham o evento de perto, deixaram boa impressão com o empresariado.

Em uma longa fala numa reunião mais fechada, o ministro da Economia, por exemplo, impressionou os presentes,  detalhou as propostas do governo na área econômica que eram tão aguardadas e disse ter o apoio necessário para aprovar a Reforma da Previdência, vista como fundamental pelo mercado para retomar o crescimento econômico do Brasil.

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De qualquer forma, no terceiro dia em Davos, será o próprio presidente Jair Bolsonaro quem deverá retomar o protagonismo ao participar de reuniões sobre diversos temas, entre elas as perpectivas econômicas, políticas e sociais sobre o Brasil, as questões bilaterais, como a extradição do italiano Cesare Battisti, e o agravamento da crise social, econômica e humanitária na Venezuela, país vizinho que faz fronteira com a região norte do Brasil.

O presidente terá um almoço de trabalho denominado “O Futuro do Brasil” e, em seguida, se reúne com o primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte. O encontro ocorre dez dias depois de Battisti ser capturado e preso, na Bolívia, para onde fugiu do Brasil, na tentativa de escapar da extradição decretada ainda pelo ex-presidente Michel Temer (MDB) após Jair Bolsonaro (PSL) fazer pressão pública sobre o tema.

Foto: Reprodução/TV Globo
Cesare Battisti volta ao país natal após 40 anos considerado foragido. Ele deverá cumprir 30 anos de prisão, apesar da sentença de prisão perpétua após ser extraditado pelo Brasil e capturado na Bolívia

Condenado na Itália à prisão perpétua pelo assassinato de quatro pessoas, a captura, prisão e extradição de Battisti se transformaram no principal tema da imprensa na Itália e no Brasil.

Bolsonaro concedeu entrevista exclusiva à RAI, emissora pública de televisão italiana, em que lembrou ter sua origem na região de Lucca, e disse que pretende visitar o país.

Foto: Divulgação
Nicolás Maduro tomou posse em 10 de janeiro para segundo mandato na Venezuela, mas eleições não foram reconhecidas pela oposição e por grande parte da comunidade internacional, incluindo o Brasil

Já o agravamento da situação na Venezuela e a crise humanitária ocuparão dois momentos distintos na agenda do presidente. Inicialmente, uma reunião diplomática, e depois um jantar com presidentes latino-americanos. No intervalo, é aguardada uma declaração à imprensa.

A conversa sobre a Venezuela ocorre no dia em que os opositores promovem, em Caracas, a chamada jornada anti-chavismo e em meio a protestos intensos nas principais cidades do país. Civis e militares entram em confronto, segundo imagens divulgadas por organizações não governamentais. Na véspera, Bolsonaro chegou a citar a Venezuela em seu discurso e na terça-feira (21) disse que irá liderar um movimento global para resolver a questão do país vizinho.

Em Davos, ontem (22) o presidente discursou na abertura do Fórum Econômico Mundial e jantou com empresários. Ele ressaltou a preocupação do governo federal em promover o desenvolvimento econômico associado à preservação do meio ambiente. Também defendeu valores e reiterou a preocupação em promover mudanças, a partir das reformas que pretende implementar.

"Minha equipe sabe o dever de casa que tem que ser feito e esperamos obter esse apoio do Parlamento", disse Bolsonaro. "Minha confiança nos senhores é muito grande e sei da minha responsabilidade", acrescentou em vídeo publicado em sua conta pessoal do Twitter.

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O presidente Jair Bolsonaro reafirmou ainda os compromissos de campanha e sua preocupação com o combate à corrupção e o aperfeiçoamento da segurança pública no Brasil. Acrescentou que o país tem praias, florestas e o pantanal, que precisam ser conhecidos, e convidou os presentes para vir ao Brasil.