O novo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou que seu partido vai mudar. Mesmo tendo conquistado a vitória mais apertada nas eleições 2018 num estado em que seu partido governa desde 1995, Doria contou com o fracasso de seu padrinho político e desafeto pessoal, Geraldo Alckmin (PSDB), nas eleições presidenciais para sair das urnas como principal liderança do partido já que, agora, é o integrante do partido que ocupa o cargo de maior destaque no País e estabeleceu uma relação próxima com o presidente Jair Bolsonaro (PSL).
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Na curta carreira política de Doria até aqui, o ex-prefeito de São Paulo acumulou vários desafetos dentro do partido que resultaram em discussões públicas e privadas, mas após o resultado eleitoral parece ter assumido o comando da tradicional legenda que agora chama de "meu PSDB", desde a posse em 1º de janeiro.
Em entrevista à Folha de S. Paulo concedida durante o Fórum Econômico Mundial de Davos, no Suíça, o governador de São Paulo avaliou que é preciso que o PSDB respeite seu passado, mas deixe de se submeter a ele para estar "sintonizado com a população" e citou "aqueles que foram próceres do PSDB".
Dentre eles, Doria destacou "desde o [André Franco] Montouro, passando pelo Mario Covas, e destacando Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Geraldo Alckmin, entre outros. Cada um cumpriu seu papel bem. Mas a partir de agora o PSDB vai estar sintonizado com a população, e não mais com seu passado", disse Doria numa clara intenção de colocar lideranças recentes dos tucanos como ex-governadores de São Paulo, Alckmin e Serra numa página virada da história do partido.
Além disso, João Doria disse que o "novo partido" será "de posições centrais, de centro. Não de centro-direita. E terá relações respeitosas com a esquerda e com a direita, seja centro-direita, extrema-direita, centro-esquerda, extrema esquerda. Um partido de diálogo mas com posições claras e bem definidas".
A fala de Doria revela um possível novo rumo do partido, mas que ainda não se comprovou já que, na prática, as atitudes do governador de São Paulo tem cido outras. Por dois motivos:
Primeiro, Doria continua fazendo um discurso duro contra o PT e a esquerda e, inclusive, chegou a se envolver em polêmica com uma deputada estadual petista que aprovou um projeto de funcionamento das Delegacias da Mulher 24 horas por dia em todo o estado e que acabou sendo vetado pelo governador.
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Segundo, tão logo Doria avançou para o segundo turno das eleições 2018 e viu seu correligionário Alckmin sair da disputa presidencial, o então candidato a governador de São Paulo anunciou publicamente um movimento que já fazia nos bastidores de apoio àquele que viria a ser eleito presidente, Jair Bolsonaro.
Doria chegou a passar por uma saia justa numa das várias ocasiões em que tentou fazer um aceno de aproximação a Bolsonaro e viajou para o Rio de Janeiro para se encontrar com o então candidato favorito à Presidência, mas acabou não sendo sequer recebido. O movimento de aproximação continuou após a posse de ambos e o governador já anunicou o apoio do PSDB a vários projetos tidos como prioritário pelo novo governo, como a Reforma da Previdência.
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"Meu interesse é o Brasil", se defende Doria, "e eu sei a importância da reforma da Previdência para o País. Você vai ver nesses dias aqui [em Davos], como os investidores conscientes sabem da importância da reforma da Previdência".
Virtual candidato à Presidência pelo PSDB em 2022, o governador de São Paulo também preferiu poupar munição e não atacar, pelo menos por enquanto, a família Bolsonaro. Perguntado sobre as questões que têm sido levantadas sobre os filhos do presidente, Doria primeiro disse que "não tenho me manifestado sobre o tema dos filhos', mas depois disse que "minha posição não é de fugir ao tema, é que as investigações prossigam. Não defendo que a investigação deixe de existir ou seja facilitada por serem filhos do presidente. Mas não vou fazer condenação prévia. Defendo que as investigações prossigam."
Se esforçando para se livrar da pecha de "tucano em cima do muro", Doria falou abertamente sobre o candidato que apoia para assumir a presidência do partido, ocasião na qual declarou que "não tenho problema de falar sobre isso, se eu fosse um tucano das antigas eu iria dizer 'veja bem, é cedo', mas eu sou claro e objetivo. Nós estamos trabalhando para que o Bruno Araújo possa ser eleito presidente nacional do PSDB".
Na sequência, porém, Doria foi questionado sobre se era contra ou a favor do porte de armas e, se esquivou, "não estou querendo ser tucano, mas é algo que precisa ser estudado. À posse, sou favorável, desde que respeitados os critérios e a regulamentação."
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Já em outra resposta, disse: "Acho que [o decreto sobre posse de armas como foi liberado] foi aprovado razoavelmente. Agora, porte de arma é outra coisa, você precisa de um cuidado redobrado, você não pode ter, ainda que aprovado pela legislação, uma generalização. O porte de arma é algo que precisa ser tratado com muita atenção, porque da mesma maneira que ele pode proteger quem precisa ele pode desproteger alguém que possa ser vítima. Precisa ter um aprofundamento", encerrou Doria .