Já está a caminho da Itália o terrorista Cesare Battisti, preso na cidade boliviana de Santa Cruz de La Sierra . O avião que transporta o italiano, condenado à prisão perpétua por quatro assassinatos na década de 1970 (aos quais ele nega), decolou pouco depois das 19h deste domingo (horário de Brasília) com destino a Roma, onde deve pousar já nessa segunda-feira (14). Os detalhes para a extradição de Cesare Battisti foram definidos após intensa negociação entre os governos da Itália, da Bolívia e do Brasil.
As autoridades da Itália e da Bolívia selaram um acordo para que a extradição de Cesare Battisti pudesse ser realizada de modo imediato e sem escalas. O esquema contraria o roteiro traçado inicialmente pelo governo brasileiro, que pretendia fazer com que o italiano passasse antes pelo Brasil.
O trajeto Santa Cruz de La Sierra-Roma foi anunciada pelo premiê italiano, Giuseppe Conte, sendo corroborado mais tarde pelo ministro do Interior da Bolívia, Carlos Romero. O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PSL), também publicou mensagem no início desta noite para confirmar que o Brasil não deveria atuar diretamente no trâmite.
"Em reunião hoje com os ministros da Justiça, Relações Exteriores e GSI, bem como em contato com as autoridades italianas, decidimos por ajudá-los a prontamente enviar para a Itália o terrorista Cesare Battisti, se necessário, com escala no Brasil, já que se encontra na Bolívia", escreveu Bolsonaro.
O presidente complementou: "O Brasil não mais será refúgio de marginais ou bandidos travestidos de presos políticos".
Mais cedo, o ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), havia assegurado que o terrorista italiano seria trazido ao Brasil por um avião da Polícia Federal e, só depois, encaminhado para a Itália.
A informação era a mesma trazida pelo assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Filipe Martins. "O terrorista italiano Cesare Battisti foi preso na Bolívia esta noite e, em breve, será trazido para o Brasil, de onde provavelmente será levado até a Itália para que ele possa cumprir pena perpétua, de acordo com a decisão da Justiça italiana", escreveu.
Cesare Battisti foi capturado por volta das 17h de sábado (12), no horário local (19h de Brasília). Segundo relatos, ele não tentou escapar. Interrogado pelos policiais, ele respondeu em português e entregou documentos brasileiros. O italiano usava calça azul e camiseta, óculos escuros e barba falsa
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Cesare Battisti momentos antes de ser preso:
O advogado Igor Tamasauskas, que defendia o italiano no Brasil, disse esperar que o caso “tenha um desfecho de respeito aos direitos fundamentais de nosso cliente”. “A respeito da prisão do Cesare Batistti temos a informar que, como as notícias dão conta de que ele não se encontra no Brasil, seus advogados brasileiros não possuem habilitação legal para atuar em outra jurisdição que não a brasileira. Esperamos que o caso tenha um desfecho de respeito aos direitos fundamentais de nosso cliente”, disse Tamasauskas, em nota.
A defesa chegou a entrar com recurso no Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar evitar a extradição, mas o pedido de habeas corpus não deve ter efeito, uma vez que o terrorista não passará pelo Brasil.
Condenação e extradição de Cesare Battisti
Condenado à prisão perpétua na Itália, Battisti foi sentenciado pelo assassinato de quatro pessoas , na década de 1970, quando integrava o grupo Proletários Armados pelo Comunismo, um braço das Brigadas Vermelhas. Ele se diz inocente. Para as autoridades brasileiras, ele é considerado terrorista.
No Brasil desde 2004, o italiano foi preso três anos depois. O governo da Itália pediu sua extradição, aceita pelo STF. Contudo, no último dia de seu mandato, em dezembro de 2010, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu que Battisti deveria ficar no Brasil, e o ato foi confirmado pela Suprema Corte.
O presidente Jair Bolsonaro, mesmo antes de empossado, defendia a extradição de Cesare Battisti . Após a captura de Battisti, hoje (13), Bolsonaro afirmou na conta pessoal no Twitter: “finalmente a justiça será feita”. Ele elogiou os responsáveis pela prisão, numa operação conjunta das polícias da Bolívia e da Itália.