A CUT ( Central Única dos Trabalhadores ) vai deixar o prédio próprio no bairro do Brás, em São Paulo, sua sede há 23 anos, para um endereço no centro da cidade.
A decisão de vender o imóvel é da cúpula da CUT e foi tomada no final do mês de julho. O prédio de sete andares está avaliado em R$ 40 milhões. A Igreja Universal do Poder de Deus aparece como principal possível comprador e já negocia o imóvel que ocupa um quarteirão inteiro.
A transação ainda nem foi concretizada, mas Vagner Freitas, presidente da Central Única dos Trabalhadores já decidiu pela saída do Brás. O fim da contribuição sindical obrigatória tem papel decisivo nessa crise. O futuro com o governo de Jair Bolsonaro também deve reservar mudanças mais difíceis do que a venda do prédio pode representar.
Em reunião com dirigentes do maiores sindicatos filiados à central sindical, Freitas discutiu as medidas a serem tomadas diante do governo que se alinha a direita. “Não é terrorismo, não é ameaça. Ele fala o que vai fazer, e não tenho dúvida de que fará. A reforma trabalhista aprovada pelo Michel Temer, para ele, é tímida, e o que ficou ele vai tirar”, disse.
Ainda para Freitas, a manutenção ou extinção do Ministério do Trabalho na fala de Bolsonaro são uma demonstração do que está por vir.
O PT, que nasceu das greves dos trabalhadores do ABC paulista já na fase final da ditadura militar, era praticamente a CUT no poder. Com a vitória de Lula em 2002, os sindicalistas ganharam acesso livre aos corredores de Brasília. Ao mesmo tempo, diminuíram a presença nas ruas. Com Dilma, não havia a intimidade de Lula com o movimento sindical. Nem sempre tinha entendimento, e a presidente sempre impôs um distanciamento respeitoso.
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Com o governo do Presidente Michel Temer a CUT sentiu o primeiro golpe. A reforma trabalhista atingiu em cheio os bolsos dos sindicatos, com a extinção do imposto sindical. A CUT era a favor do fim do imposto. Mas o problema foi que o imposto acabou do dia para a noite.
Entre janeiro e agosto de 2017, antes da reforma, a CUT recebeu R$ 54 milhões de repasse de contribuição sindical. Em 2018, o número foi para R$ 2,5 milhões. Com o corte, a central sindical começou a demitir. A CUT mandou embora 65 pessoas, cerca de 45% do quadro de pessoal através do plano de desligamento incentivado.
As vacas magras pode obrigar a central a fazer coisas que nunca fez, como venda de patrocínio em seus sites. “A CUT não tem capital financeiro para viver, não é indústria para fabricar e vender, não tem herança. Acabou o recurso, você precisa se adaptar, não tem jeito", afirmou.
Outro cenário que agrava a crise da CUT é que a grande massa está diminuindo. Nas grandes cidades, o emprego migra da indústria para os serviços e a configuração sindical se altera. Os bancários, que já foram 1 milhão, são hoje 470 mil. Os metalúrgicos do ABC paulista, um símbolo da indústria no Brasil, eram 110 mil em 2010 e hoje não passam de 70 mil.
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Um estudo do Sebrae mostrou que, dos 72 milhões empregados no setor privado, 24,7 milhões trabalham em empreendimentos de pequeno porte, com ou sem carteira assinada. Ou seja, os trabalhadores estão cada vez mais pulverizados, e não concentrados num único local, dificultando a abordagem dos representantes sindicais. Mais do que se adaptar a CUT terá que se reinvetar nos próximos anos.