Horas após declarar que há gabinetes no Supremo Tribunal Federal (STF) “distribuindo senha para soltar corruptos”, o ministro Luís Roberto Barroso divulgou nota nesta quarta-feira (26) recuando das crítica a seus colegas de Corte.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo , Luís Roberto Barroso condenou o que chamou de uma "aliança entre corruptos, elitistas e progressistas" e não poupou o próprio STF das críticas. "A corrupção que se verificou no Brasil não foi produto de falhas e fraquezas humanas. Foi uma corrupção estrutural, sistêmica e programada de arrecadação e de distribuição de recursos públicos com um nível de contágio muito impressionante", analisou.
"Menos de 1% dos presos do sistema está lá por corrupção ou por crime de colarinho branco. Tem alguma coisa errada nisso. E ainda assim, no Supremo, você tem gabinete distribuindo senha para soltar corrupto. Sem qualquer forma de direito e numa espécie de ação entre amigos", continuou o ministro, evitando apontar quais seriam esses gabinetes.
"Tem gabinetes. Quando a Justiça desvia dos amigos do poder, ela legitima o discurso de que as punições são uma perseguição", completou Barroso.
Em nota publicada pouco antes das 11h desta manhã no site oficial do Supremo, o ministro disse que empregou "tom excessivamente ácido" em suas declarações e disse que elas não refletem sua "visão geral" em relação à Corte.
"Fiz uma análise severa da extensão e profundidade da corrupção no Brasil e uma crítica à própria atuação do Supremo Tribunal Federal na matéria. Todavia, o tom excessivamente ácido que empreguei não corresponde à minha visão geral do Tribunal. Há posições divergentes em relação às diferentes questões e todas merecem respeito e consideração", ponderou o ministro.
No STF , Barroso é desafeto do ministro Gilmar Mendes, reconhecidamente um dos ministros que mais concedem habeas corpus naquele Tribunal. Em março deste ano, os dois magistrados protagonizaram forte bate-boca, no qual Barroso acusou Gilmar de "agir atrás de interesses que não são os da Justiça". "Você é uma pessoa horrível. Uma mistura do mal com o atraso e pitadas de psicopatia ", disse Barroso naquela ocasião.
Luís Roberto Barroso comenta eleições, "golpe" e risco de ditadura
Também na entrevista concedida à Folha , o ministro Barroso defendeu o respeito às "regras da democracia e aos direitos dos outros" e pregou a aceitação do resultado das eleições presidenciais.
"Neste momento em que comemoramos três décadas da Constituição, é muito importante renovarmos nossos compromissos democráticos, eu diria, em duas regras básicas. A primeira: quem ganhar a eleição leva. E deve se respeitar o direito de a maioria governar. A segunda regra: só é aceitável a maioria governar democraticamente", defendeu.
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Luís Roberto Barroso também afirmou não ver risco de um novo regime militar no Brasil. Sobre o processo de impeachment sofrido pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o ministro disse não considerar "tecnicamente próprio" chamá-lo de 'golpe'. "[Com o impeachment] se interrompeu artificialmente um ciclo que deveria ter tido o seu curso natural. Se ele se completasse, teria acabado naturalmente e talvez o quadro fosse outro", afirmou.