Terceira colocada nas eleições presidenciais de 2010 e 2014, Marina Silva (REDE) foi sabatinada na noite desta terça-feira (31) pelos jornalistas do canal pago GloboNews . A candidata falou sobre sustentabilidade, economia, reformas trabalhista e da Previdência e ainda deu sua opinião sobre inelegibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o pleito deste ano.
Pauta que alçou Marina Silva à vida pública na segunda metade dos anos 80, o meio ambiente foi o primeiro assunto abordado pela mesa. Questionada sobre o "duelo" entre ambientalistas e o agronegócio, a acreana adotou o tom conciliador que pauta sua campanha. "O agronegócio não dispensa ética. Ele tem que caminhar nessa direção", disse. "Cada vez mais vamos precisar das respostas técnicas e éticas, com capacidade política de saber lidar com interesses", completou.
Sobre o desastre de Mariana (MG), Marina culpou a falta de fiscalização e de leis mais duras. Ela também relembrou as críticas que recebeu por não visitar a cidade após o ocorrido. "Se eu tivesse um cargo no governo teria ido lá. Mas sem nenhuma função pública achei que iria parecer um aproveitamento. Não faço as coisas por conveniência, faço por convicção", afirmou.
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A candidata também abordou outras críticas frequentes que vem recebendo. Sobre a discordância com companheiros de partido na votação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, ela minimizou: "Divergências não são um problema, eu não sou a dona da REDE". Ela ainda disse que considera positiva a autonomia dos diretórios estaduais do partido.
Sobre uma suposta falta de liderança, Marina se defendeu ao dizer que aprovou todos os "projetos importantes" quando era ministra do meio ambiente e defendeu o diálogo como a melhor forma de lidar com o Congresso.
Questionada sobre a inelegibilidade do ex-presidente Lula nas eleições deste ano, ela foi categórica: "Não se pode ter um país aonde as instituições atuam de acordo com a conveniência de que tem popularidade ou poder econômico. A lei deve ser para todos".
Já sobre o apoio a Aécio Neves no segundo turno das eleições de 2014, Marina demonstrou arrependimento: "Hoje, com o que trouxe a Lava Jato, não teria apoiado Aécio Neves, mas, com as informações que eu tinha na época, essa foi a decisão que eu tomei".
Sobre seu projeto de governo, Marina voltou a afirmar que pretende governar com "os melhores". "Eles estão em todos os partidos, mas também na nossa sociedade. Existem pessoas excelentes dentro de empresas, movimentos culturais, academia. Eu darei espaço a essas pessoas", respondeu a candidata, que voltou a reiterar a importância de pessoas técnicas dentro do poder público.
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A candidata não pretende revogar a reforma trabalhista aprovada pelo governo de Michel Temer, mas quer corrigir o que chamou de "pontos draconianos". "É preciso ouvir todos os lados e fazer uma reforma que modernize as relações de trabalho e priorize a formalidade", analisou.
Ela também criticou o que chamou de relativização dos direitos humanos feita pela esquerda com regimes como o da Nicarágua e da Venezuela: "Quando a gente se orienta por princípios e valores, fica mais fácil de se posicionar no mundo".
Em seu pior momento na entrevista, a acreana irritou os jornalistas ao responder uma questão sobre o tempo de aposentadoria igual para homens e mulheres dizendo que gostaria de "abrir o debate sobre a questão" sem expressar sua opinião. Após insistência da mesa, ela admitiu não ter opinião formada sobre o assunto.
Ainda sobre a reforma da Previdência, Marina disse que ela é necessária. "Em breve teremos mais idosos do que pessoas economicamente ativas e precisamos encarar esse problema", disse.
Questionada sobre o não reajuste dos funcionários públicos para 2019 e sobre o que pretendia fazer caso fosse eleita, Marina recuperou a compostura e deu uma resposta mais contundente. "O funcionário público no Brasil é visto como um bode expiatório. É preciso rediscutir o Refis para as empresas e isenções fiscais. Mas os servidores públicos também devem fazer seus sacrifícios neste momento de crise", analisou.
Em outro assunto espinhoso, aborto, a candidata defendeu um plebiscito para discutir a questão. "Eu sou contra, mas não se pode diminuir um debate desta complexidade". Ao ser questionada sobre se sua religião evangélica poderia interferir em suas decisões, Marina se defendeu. "Me mostre um projeto meu que foi na contramão do estado laico e da liberdade das pessoas", desafiou a acreana. "Não vejo as pessoas questionarem a fé de candidatos católicos como Geraldo Alckmin" completou, irritada.
Sobre greve dos caminhoneiros, Marina voltou a criticar o governo de Michel Temer. "Ele recebeu a pauta de reinvindicação bem antes da greve. Não só foi incompetente como foi imprevidente. Eu teria agido em antecipação", disse. Ela, no entanto, disse que concorda com a intervenção militar no Rio de Janeiro.
Na última pergunta do penúltimo bloco, Marina Silva disse que não pretende se reeleger. "Eu sou contra a reeleição por convicção. Alias, a reeleição levou o Brasil para o buraco. O projeto do poder pelo poder instaurou a corrupção no País. E os de sempre já estão fazendo acordões para que nada mude", criticou.
Já no último bloco, a candidata respondeu perguntas curtas da mesa. Criticou o presidente norte-americano Donald Trump, e disse que o norte-americano é de um "protecionismo primitivo". Quem também não escapou da acreana foi o candidato Jair Bolsonaro. "Tem ideias retrogradas em relações a democracia, direitos humanos, segurança pública. São ideias que vão contra tudo que já avançamos no país", afirmou Marina, que disse que a decepção da população com política explica a popularidade do carioca.
Vice de Marina Silva está quase definido
Ainda no primeiro bloco do programa, Marina Silva deu a entender que está tudo certo para que Eduardo Jorge (PV), que foi candidato ao Planalto em 2014, seja seu vice. "Estamos só esperando a resposta do partido dele", disse. "Quando se é candidato a presidente é bom escolher o seu vice", alfinetou, em clara referência ao impeachment de Dilma Rousseff.