‘Quebra de lealdade’, diz ministro sobre relatório da PF que cita Temer

Torquato Jardim, ministro da Justiça, criticou relatório da Polícia Federal que atribui a Michel Temer tentativa de compra de silêncio de Eduardo Cunha

Michel Temer (MDB) foi citado pela Polícia Federal como tendo atuado em tentativa de compra de silêncio de Eduardo Cunha
Foto: Lula Marques/Agência PT - 22.9.16
Michel Temer (MDB) foi citado pela Polícia Federal como tendo atuado em tentativa de compra de silêncio de Eduardo Cunha

Para Torquato Jardim, ministro da Justiça de Michel Temer (MDB), o relatório final da operação Cui Bono?, elaborado pela Polícia Federal, e que cita o presidente como tendo atuado em uma tentativa de obstrução da Justiça, é preocupante. “A preocupação é institucional. Há quebra de lealdade entre as instituições”, disse ao jornal Folha de S.Paulo .

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Para Jardim, a PF chegou à conclusão de que Temer tentou comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (MDB) , preso em Curitiba, por meio da “manipulação de diálogos e de vazamentos à imprensa”. O ministro não mencionou se pretende tomar medidas jurídicas contra o relatório ou contra os investigadores.

A Polícia Federal, por sua vez, afirma ter indícios o bastante para concluir que Temer agiu para tentar comprar o silêncio de Cunha e do doleiro Lúcio Funaro, apontado por investigadores como operador de propinas do MDB .

Entre os indícios apontados pela polícia está a gravação que por pouco não levou o governo Temer ao fim prematuro em maio de 2017. Em um diálogo com Joesley Batista no palácio do Jaburu, onde vivia o presidente na época, o empresário narrava a Temer a sua atuação junto a juízes para obstruir as investigações que apuravam desvios de sua parte. Joesley secretamente gravava a conversa.

Em certo ponto, ele disserta sobre a “boa relação” que vinha cultivando com Cunha , já preso em Curitiba então. Conforme apontou Joesley em depoimento à Polícia Federal, ele teria pago R$ 5 milhões ao ex-deputado para que ele não o delatasse, mantendo silêncio também sobre supostos ilícitos cometidos por Temer. Após o relato de Joesley à Temer – onde ele não entra em detalhes sobre valores pagos – o presidente diz as hoje famosas palavras: “tem que manter isso aí, viu?”.

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Embora seja citado, o presidente, contudo, não foi indiciado, já que ele possui foro privilegiado.

Por meio de sua assessoria de imprensa, o Planalto afirmou que “é mentirosa a insinuação de que o presidente Michel Temer incentivou pagamentos ilícitos ao ex-deputado Eduardo Cunha e a Lúcio Funaro. Isso jamais aconteceu. A gravação do diálogo com Joesley Batista foi deturpada para alcançar objetivo político”.

“Apesar da ausência absoluta de provas, investigadores insistem em retirar do contexto diálogos e frases para tentar incriminar o presidente da República. Perpetuam inquéritos baseados somente em suposições e teses, sem conexão com fatos reais”, conclui a nota da assessoria de Temer .

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