Para Torquato Jardim, ministro da Justiça de Michel Temer (MDB), o relatório final da operação Cui Bono?, elaborado pela Polícia Federal, e que cita o presidente como tendo atuado em uma tentativa de obstrução da Justiça, é preocupante. “A preocupação é institucional. Há quebra de lealdade entre as instituições”, disse ao jornal Folha de S.Paulo .
Leia também: Moro impede uso de provas da Lava Jato contra empresas delatoras
Para Jardim, a PF chegou à conclusão de que Temer tentou comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (MDB) , preso em Curitiba, por meio da “manipulação de diálogos e de vazamentos à imprensa”. O ministro não mencionou se pretende tomar medidas jurídicas contra o relatório ou contra os investigadores.
A Polícia Federal, por sua vez, afirma ter indícios o bastante para concluir que Temer agiu para tentar comprar o silêncio de Cunha e do doleiro Lúcio Funaro, apontado por investigadores como operador de propinas do MDB .
Entre os indícios apontados pela polícia está a gravação que por pouco não levou o governo Temer ao fim prematuro em maio de 2017. Em um diálogo com Joesley Batista no palácio do Jaburu, onde vivia o presidente na época, o empresário narrava a Temer a sua atuação junto a juízes para obstruir as investigações que apuravam desvios de sua parte. Joesley secretamente gravava a conversa.
Em certo ponto, ele disserta sobre a “boa relação” que vinha cultivando com Cunha , já preso em Curitiba então. Conforme apontou Joesley em depoimento à Polícia Federal, ele teria pago R$ 5 milhões ao ex-deputado para que ele não o delatasse, mantendo silêncio também sobre supostos ilícitos cometidos por Temer. Após o relato de Joesley à Temer – onde ele não entra em detalhes sobre valores pagos – o presidente diz as hoje famosas palavras: “tem que manter isso aí, viu?”.
Leia também: Supremo proíbe deputada Cristiane Brasil de manter contato com o pai
Embora seja citado, o presidente, contudo, não foi indiciado, já que ele possui foro privilegiado.
Por meio de sua assessoria de imprensa, o Planalto afirmou que “é mentirosa a insinuação de que o presidente Michel Temer incentivou pagamentos ilícitos ao ex-deputado Eduardo Cunha e a Lúcio Funaro. Isso jamais aconteceu. A gravação do diálogo com Joesley Batista foi deturpada para alcançar objetivo político”.
“Apesar da ausência absoluta de provas, investigadores insistem em retirar do contexto diálogos e frases para tentar incriminar o presidente da República. Perpetuam inquéritos baseados somente em suposições e teses, sem conexão com fatos reais”, conclui a nota da assessoria de Temer .
Leia também: Papa Francisco envia rosário a Lula, mas assessor é impedido de fazer visita