Marun admite que governo só libera verba se ganhar votos: "Não é chantagem"

Articulador político do governo disse que a liberação de financiamentos aos estados é "ação de governo" e reconheceu que Planalto exige "reciprocidade"

Michel Temer e o ministro Carlos Marun vêm traçando estratégias para obter apoio para a reforma da Previdência
Foto: Alan Santos/PR - 15.12.17
Michel Temer e o ministro Carlos Marun vêm traçando estratégias para obter apoio para a reforma da Previdência

O ministro-chefe da Secretaria de Governo, Carlos Marun, reconheceu nesta terça-feira (26) que o governo exige apoio de governantes à proposta de reforma da Previdência como condição para liberar financiamentos aos estados. O articulador político do Planalto, no entanto, disse que essa estratégia representa uma "ação de governo", e não uma "chantagem".

"Os financiamentos da Caixa Econômica Federal são ações de governo. Se não, o governador poderia tomar esse financiamento no Bradesco. Nesse sentido, entendemos que deve sim ser discutido com esses governantes alguma reciprocidade no sentido de que seja aprovada a reforma da Previdência , que é uma questão de vida ou morte para o Brasil", disse Marun. "Não entendo que seja uma chantagem", completou.

As declarações do ministro foram dadas a jornalistas após reunião realizada no Palácio do Planalto com o presidente Michel Temer . O encontro teve como objetivo justamente traçar as estratégias do governo para buscar votos para aprovar no Congresso o pacote de alterações nas regras da aposentadoria.

A ideia do Planalto é insistir nas investidas mesmo durante o recesso do Poder Legislativo, que só retoma suas atividades no início de fevereiro. Na véspera de Natal, por exemplo, Temer aproveitou seu  pronunciamento em rede nacional de rádio e TV para pressionar os congressistas a defenderem a reforma.

"Não é questão ideológica ou partidária. É uma questão do futuro do País e para garantir que os aposentados de hoje e de amanhã possam receber suas pensões", disse Temer no vídeo.

Assim como havia feito durante reunião do Mercosul na semana passada , o presidente voltou a exaltar a aprovação da reforma da Previdência na Argentina para defender que o mesmo aconteça no Brasil.

"O nosso país vizinho, num gesto consciente e de união pelo país, deu exemplo e acaba de aprovar sua reforma. Tenho plena convicção de que os nossos parlamentares darão seu voto e o seu aval para que isso também aconteça por aqui. Tenho certeza que eles não faltarão, como não faltaram nunca, ao nosso País", apelou o presidente no pronunciamento de Natal. 

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A reforma que parou

O texto da reforma está pronto para ir à votação desde maio, quando o relatório elaborado pelo deputado Arthur Maia (PPS-BA) foi aprovado na comissão especial da Câmara. Mas o projeto teve sua tramitação interrompida por conta do surgimento das acusações de executivos do grupo J&F contra o presidente Temer.

Após a Câmara negar o prosseguimento das duas denúncias oferecidas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o peemedebista, o Planalto voltou à carga para tentar a aprovação do texto, mas esbarrou na falta de apoio de sua base desgastada justamente por essas votações contra as investigações pedidas por Rodrigo Janot.

A reforma da Previdência precisa do apoio de ao menos 308 deputados para ser aprovada no plenário e seguir para o Senado. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), agendou a votação para o dia 19 de fevereiro, após o carnaval de 2018.

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