O juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal do DF, decidiu conceder mais alguns dias para a permanência do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB) em Brasília – mesmo após o fim das audiências da Operação Sépsis. O retorno do peemedebista à sua cela no Complexo Médico Penal em Pinhais (PR), onde cumpre pena de 15 anos e 4 meses imposta pelo juiz Sérgio Moro em ação penal da Lava Jato, foi agendado para a semana entre os dias 20 e 24 deste mês.
A decisão de segurar por mais alguns dias o retorno do ex-deputado ao Paraná atende a pedido da defesa de Eduardo Cunha
, que alegou a "necessidade de facilitar imediatos encontros com o réu para fins de pedidos de diligências e atos preparatórios das alegações finais", conforme mencionou o juiz Vallisney na ata da audiência realizada com o peemedebista nessa segunda-feira (6)
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Cunha e o também ex-deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB) foram os últimos réus a serem ouvidos no âmbito da ação penal que apura esquema de corrupção que funcionou entre 2011 e 2015 acerca da liberação de recursos do fundo de investimentos do FGTS (FI-FGTS) , controlado pela Caixa Econômica Federal. Agora, o juiz responsável pelo processo abriu prazo de 12 dias para o Ministério Público Federal (MPF) e as defesas apresentarem suas alegações.
Também são réus nessa ação o operador financeiro Lúcio Funaro, o ex-vice-presidente da Caixa Fábio Cleto e o empresário Alexandre Margotto. Os três possuem acordo de colaboração com a Justiça.
Os depoimentos
Em seu depoimento, Cunha negou ter cobrado propina de empresas para suas campanhas eleitorais e rebateu as acusações de Funaro, apontado como seu antigo operador. O lobista havia garantido anteriormente ao juiz Vallisney que Eduardo Cunha exercia papel de liderança no esquema de cobrança de propina de empresas em troca da liberação de recursos do FI-FGTS, que financia projetos de infraestrutura.
A versão de Funaro se encontra em vários pontos com o depoimento prestado por Fábio Cleto, que assumiu uma das vice-presidências da Caixa com o apoio de Cunha, Funaro e Henrique Alves. O ex-executivo disse que se encontrava semanalmente com Cunha em seu apartamento funcional para informá-lo sobre as empresas que estavam pleiteando aportes no FI-FGTS. O deputado, segundo Cleto, era quem indicava qual o direcionamento deveria ser dado a cada projeto – conforme a disposição da empresa em pagar propina aos integrantes do esquema.
Cunha chamou Funaro de "mentiroso" e garantiu não ter cobrado propina para suas campanhas por, segundo ele, “não ser necessário”, uma vez que as doações legais que obtinha eram “mais do que suficientes”.
“[Funaro] nunca me pagou um carro com dinheiro dele, isso é história da carochinha”, afirmou Cunha. "A delação que ele faz agora está me transformando no Posto Ipiranga. Tudo é Eduardo Cunha", disse o ex-deputado.
Condenado na Lava Jato por crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão fraudulenta de divisas, Cunha responde na Justiça Federal em Brasília por corrupção, lavagem e desvio de finalidade pública. Após passar dois meses na capital federal , o ex-deputado terá seu retorno ao Paraná providenciado, na data estipulada pelo juiz Vallisney, pela Polícia Federal. Eduardo Cunha desconhece o que é estar em liberdade desde outubro do ano passado, quando foi preso por determinação do juiz Sérgio Moro.