O senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que faz oposição solitária ao governo de seu correligionário Michel Temer, alfinetou o presidente ao comentar manifestação da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, sobre o ex-ministro Geddel Vieira Lima. Em ofício encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a chefe da PGR defendeu a manutenção da prisão preventiva de Geddel
, alegando que ele é o "líder de organização criminosa".
"Engraçado... Nunca soube que Geddel era o chefe. Para mim, o chefe dele era outro", escreveu Renan Calheiros em sua conta pessoal no Twitter. O senador não mencionou diretamente o nome do presidente, mas evidenciou que se referia ao chefe do Executivo federal ao destacar a inicial de Temer numa segunda mensagem:
...era ouTro.
— Renan Calheiros (@renancalheiros) 20 de outubro de 2017
Outrora líder do PMDB no Senado, Renan rompeu com o grupo político de Temer ao se colocar contra as reformas trabalhista e previdenciária defendidas pelo Planalto. O senador largou o posto em junho deste ano, quando disse que "não servia para ser marionete"
.
Além de representar um ataque ao presidente, a mensagem de Renan também pode ser interpretada como uma cutucada à procuradora Raquel Dodge, que assumiu a chefia da PGR por indicação de Michel Temer.
Dodge afirmou em sua manifestação sobre a prisão de Geddel, efetivada após a apreensão de R$ 51 milhões em apartamento usado pelo ex-ministro em Salvador, que o ex-articulador político do governo "notadamente [...] parece ter assumido posição de líder de organização criminosa".
Os investigadores da Polícia Federal, no entanto, ainda apuram se parte desse dinheiro apreendido se refere a um acordo firmado por Temer e o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) e executivos da Odebrecht.
O lobista Lúcio Funaro disse em depoimento que enviou caixa com R$ 1 milhão a Salvador atendendo a pedido de Geddel, em 2014. O pacote foi retirado do escritório do advogado José Yunes, ex-assessor de Temer, em São Paulo, onde havia sido entregue por emissários da Odebrecht, conforme afirmaram delatores da construtora.
O antecessor de Raquel Dodge na PGR, Rodrigo Janot, denunciou o hoje rotulado "líder" Geddel Vieira Lima junto a Temer , aos ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco (Secretaria-Geral da República), aos ex-presidentes da Câmara Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves, e ao ex-assessor da Presidência Rodrigo Rocha Loures. O grupo é acusado justamente de praticar crime de organização criminosa, apurado em inquérito que investigou o chamado "quadrilhão do PMDB na Câmara".
Se Temer e Geddel compartilham acusação de integrar organização criminosa na Câmara, Renan Calheiros, por outro lado, também é alvo de inquérito que apura a atuação do "quadrilhão do PMDB no Senado". O senador de Alagoas também é alvo de investigações em outros 17 inquéritos , sendo que já é réu em um deles – no qual é investigado por supostamente favorecer a construtora Mendes Júnior mediante a apresentação de emendas parlamentares.
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