O senador Aécio Neves (PSDB-MG) discursou no plenário da Casa nesta quinta-feira (18), o dia seguinte à votação que devolveu a ele seu mandato como senador e anulou as medidas cautelares impostas contra o tucano pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). Após passar cerca de 20 dias longe de suas atividades parlamentares, Aécio se disse "vítima de uma ardilosa armação" e garantiu que usará seu mandato para se defender das acusações que pesam contra si.
Denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR)
de cometer crime de corrupção passiva ao receber vantagem indevida na cifra de R$ 2 milhões do empresário Joesley Batista, da JBS, e ainda de tentar obstruir a Justiça, Aécio Neves conquistou vitória apertada na noite dessa quarta-feira (17) no plenário do Senado. Ele obteve 44 votos a seu favor, apenas três a mais que o necessário para revogar a decisão da Primeira Turma do Supremo.
O resultado favorável ao tucano se deve, em muito, ao apoio recebido pelo PMDB. Dos 22 parlamentares da legenda no Senado, 18 votaram pela devolução do mandato de Aécio. Apenas os senadores Roberto Requião (PR) e Kátia Abreu (TO), parlamentares tidos como independentes, votaram contra Aécio – Rose de Freitas (ES) não compareceu à votação e Eunício Oliveira (CE), presidente da Casa, não votou.
De acordo com a repórter Andréia Sadi, da Globonews , o apoio em massa do PMDB foi resultado da atuação direta do presidente Michel Temer para convencer seus correligionários. Agora, Aécio se vê no dever de retribuir o apoio recebido, ajudando a barrar a denúncia apresentada pela PGR contra o presidente – que tramita na Câmara dos Deputados .
O principal obstáculo para isso, no entanto, é o enfraquecimento de Aécio dentro de seu próprio partido. O outrora candidato à Presidência da República viu sua força dentro do PSDB diminuir drasticamente diante da divulgação de gravações embaraçosas , das acusações da PGR e dos dois afastamentos impostos pelo STF neste ano (o primeiro foi entre maio e junho ).
Por ocasião de seu primeiro afastamento, Aécio foi obrigado a deixar também a presidência do PSDB , assumida interinamente pelo senador Tasso Jereissati (CE), que é contra a aliança com o governo Michel Temer.
A manutenção de Tasso à frente do partido e a perda de capital político de Aécio para influenciar os deputados do PSDB podem fazer com que parte da legenda adote postura contra Temer na votação da segunda denúncia da PGR na Câmara.
Temer afaga outras alas do PSDB para garantir apoio
Sabendo que Aécio, sozinho, não significa um apoio consistente do PSDB, o presidente Michel Temer busca também a simpatia de outra ala do partido, identificada com o prefeito de São Paulo, João Doria.
Temer ofereceu jantar com camarão, mandioquinha e salada a Doria na noite dessa terça-feira no Palácio do Jaburu. Na saída do encontro, que durou cerca de duas horas, o prefeito paulistano negou que a denúncia contra Temer tenha sido o assunto da conversa, mas afirmou que o presidente estava "tranquilo e sereno" quanto ao tema.
"Acho que o Congresso saberá tomar a decisão que for mais equilibrada, reproduzindo as manifestações dos votos que, a partir de amanhã, serão promulgados pelos parlamentares”, disse Doria, conforme reportou a Agência Brasil .
Doria também comentou a decisão do Senado em devolver o mandato a Aécio. “Falamos e entendemos que foi uma decisão serena e soberana do Congresso Nacional. Não apenas estabeleceu essa situação em prol do senador Aécio Neves, circunstancialmente do nosso partido, mas também de proteção ao Congresso Nacional. Eu diria que não foi uma decisão pró-Aécio, mas pró-Congresso”, disse o tucano.
Em nota, Aécio também celebrou a decisão de seus colegas em revogar sua suspensão e as medidas cautelares impostas pela Primeira Turma do Supremo (entre elas a de recolhimento domiciliar noturno).
"O senador Aécio Neves recebeu com serenidade a decisão do Plenário do Senado Federal que lhe permite retomar o exercício do mandato conferido pelo voto de mais 7 milhões de mineiros. A decisão restabeleceu princípios essenciais de um Estado democrático, garantindo tanto a plenitude da representação popular, como o devido processo legal, assegurando ao senador a oportunidade de apresentar sua defesa e comprovar cabalmente na Justiça sua inocência em relação às falsas acusações das quais foi alvo", informou a equipe do tucano.