Ex-assessor de Temer "tinha certeza" que intermediou propina ao PMDB, diz Funaro

Lobista diz à PGR que retirou, a pedido de Geddel, pacote no escritório de José Yunes com R$ 1 milhão pagos pela Odebrecht; ex-assessor de Temer até então negava saber da propina e se referia à encomenda só como "pacote"

Em depoimento à PGR, lobista Lúcio Funaro disse que retirou propina da Odebrecht a pedido de Geddel Vieira Lima
Foto: Reprodução/PGR
Em depoimento à PGR, lobista Lúcio Funaro disse que retirou propina da Odebrecht a pedido de Geddel Vieira Lima

O lobista Lúcio Funaro afirmou em um dos depoimentos de sua delação premiada à Procuradoria-Geral da República (PGR) que o ex-assessor e amigo pessoal do presidente Michel Temer, José Yunes, "tinha certeza" que havia dinheiro no pacote recebido em seu escritório em 2014 . O vídeo do depoimento foi divulgado nesta sexta-feira (13) pelo jornal Folha de S.Paulo .

O ex-corretor de valores Lúcio Funaro explicou que ele próprio foi responsável por retirar no escritório de Yunes R$ 1 milhão em espécie pagos pela Odebrecht em 2014 ao então vice-presidente Michel Temer, ao ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) e ao hoje ex-ministro Geddel Vieira Lima.

"Em 2014, Geddel me ligou e me informou que tinha um dinheiro oriundo da Odebrecht e que ele precisava retirar em São Paulo e que esse dinheiro fosse levado a Salvador (BA)", narrou o lobista.

Funaro afirmou que conversou brevemente com Yunes ao visitá-lo em seu escritório de advocacia no Itaim Bibi, bairro da zona sul de São Paulo. Os dois teriam discorrido sobre o "investimento pesado" de Eduardo Cunha (PMDB) para obter maioria na Câmara e ser eleito presidente da Casa no ano seguinte – o que veio a ocorrer.

"Ele sabia que eu iria lá retirar dinheiro", garantiu o lobista. "Se ele afirmar que foi feito de mula pelo ministro Padilha, que ele não sabia que na caixa tinha dinheiro... É impossível, porque nenhum doleiro vai entregar R$ 1 milhão no escritório de ninguém sem segurança. E ninguém vai mandar entregar R$ 1 milhão sem avisar que está entregando valores. É uma coisa que não existe."

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Versões sobre pacote convergem

A versão apresentada por Funaro coaduna com os fatos narrados anteriormente por ex-executivos da Odebrecht e pelo próprio advogado José Yunes — que, no entanto, sempre negou saber da existência de dinheiro na caixa e se referia à remessa da construtora apenas como um "pacote" .

O ex-diretor da Odebrecht Cláudio Melo Filho já havia revelado em seu acordo de colaboração com a Justiça que  participou de um jantar em abril de 2014 no Palácio da Jaburu ao lado de Marcelo Odebrecht, de Temer e de Eliseu Padilha. Nesse encontro, teria sido acertada doação via caixa dois de R$ 10 milhões ao PMDB. O Palácio do Planalto confirma que esse jantar ocorreu, mas nega tratativas sobre recursos ilícitos.

Parte desse valor, conforme narram delatores da empreiteira, foi encaminhada ao escritório de advocacia de José Yunes na zona sul da capital paulista. 

Funaro narra que, após retirar pessoalmente a caixa contendo R$ 1 milhão no escritório de Yunes, ele encarregou um funcionário para entregar a encomenda a Geddel na sede do PMDB na Bahia. Em outro trecho de sua delação, o lobista garantiu que o ex-ministro e Temer repartiram a propina, conforme revelou no mês passado reportagem do jornal O Estado de S.Paulo .

A delação de Lúcio Funaro é um dos elementos que embasa a denúncia contra o presidente Michel Temer que está tramitando na Câmara dos Deputados. O peemedebista é acusado de praticar crimes de organização criminosa e obstrução à Justiça.