Em delação, Funaro dá "110% de certeza" de que Temer recebeu propina de Cunha

Lobista garante que presidente recebeu propina por meio da compra de imóveis; Planalto rebate: "Funaro espalha mentiras de forma contumaz"

'Eduardo Cunha redistribuía propina a Michel Temer, com 110% de certeza', afirmou Lúcio Funaro em delação
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
'Eduardo Cunha redistribuía propina a Michel Temer, com 110% de certeza', afirmou Lúcio Funaro em delação

O presidente Michel Temer recebia parte da propina arrecadada pelo ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB). É o que garante, com "110% de certeza", o lobista Lúcio Funaro em seu acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR), conforme documentos divulgados nesta quinta-feira (21) pelo jornal O Globo . As declarações de Funaro constam nos anexos da denúncia oferecida por Rodrigo Janot contra Temer  e o chamado "quadrilhão do PMDB na Câmara".

O lobista relatou em seus depoimentos que o advogado José Yunes, ex-assessor e amigo pessoal de Michel Temer , praticava a lavagem de dinheiro para o presidente por meio de sua incorporadora imobiliária. Funaro disse não saber quais os imóveis estão registrados no nome de Temer e de seus familiares, mas contou ter ouvido de Eduardo Cunha  que "Temer tem um andar inteiro na Avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo/SP, num prédio que tinha sido recém-inaugurado”.

Funaro afirmou ainda que José Yunes sabia que havia dinheiro na caixa entregue em seu escritório na capital paulista  em 2014. O pacote contendo R$ 1 milhão enviados pela Odebrecht foi retirado do local pelo próprio lobista, que disse ter depois mandado o dinheiro para o ex-ministro Geddel Vieira Lima repartir a propina com Temer. Delatores da Odebrecht afirmam que o envio desse dinheiro ao escritório de Yunes foi acordado em reunião com Temer e com o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) em abril de 2014 no Palácio do Jaburu. O presidente nega a acusação.

Disputa pelo "miniBNDES"

Lúcio Funaro relatou aos investigadores que houve uma disputa interna no PMDB acerca do esquema de liberação de recursos do fundo de investimentos do FGTS (FI-FGTS) mediante ao pagamento de propina a agentes públicos (esquema que hoje é investigado nas operações Sépsis , Greenfield e Cui Bono).

Segundo Funaro, o ex-sindicalista André Luiz de Souza (que integrou conselho na Caixa) explicou a Temer que o FI-FGTS seria como um "miniBNDES". O hoje ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) teria alertado Temer que tratava-se de uma "oportunidade para fazer dinheiro", conforme reportou o jornal O Globo .

A "oportunidade" provocou disputa por uma das vice-presidências da Caixa Econômica Federal, controladora do FI-FGTS. De um lado dessa disputa, segundo Funaro, estavam Temer e Moreira Franco. Do outro, depontavam Eduardo Cunha, Henrique Eduardo Alves e ele próprio (Funaro).

O lobista e corretor de valores relatou que Cunha e Temer agiam de modos distintos na disputa por cargos. O ex-deputado teria atuação focada no "atacado", enquanto Michel Temer mirava no "varejo", priorizando a obtenção de cargos estratégicos.

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Defesa

Em nota, o Palácio do Planalto rechaçou as acusações de Funaro e garantiu que os imóveis de Temer foram adquiridos legalmente. O governo também acusou o lobista de "espalhar mentiras e verdades de forma contumaz" comparou, ainda que de forma indireta, seu depoimento aos dos delatores da JBS. Leia a íntegra da nota do Planalto abaixo:

O doleiro Lúcio Funaro mais uma vez desinforma as autoridades do Ministério Público Federal. Todos os imóveis do presidente Michel Temer foram comprados de forma lícita e estão declarados à Receita Federal. O imóvel na Avenida Faria Lima, em São Paulo, por exemplo, foi adquirido no início de 2003. Eduardo Cunha sequer era filiado ao PMDB no momento da compra.

Os recursos vieram de contas pessoais e aplicações do presidente, todos devidamente declarados em Imposto de Renda, assim distribuídos:

1 – R$ 220 mil aplicados em renda fixa no Banespa;

2 – R$ 323 mil aplicados em fundo de investimento no Santander;

3 – R$ 235 mil aplicados em fundo de investimento no Banco do Brasil;

4 – R$ 252 mil aplicados em fundo de investimento no Banespa;

5 – R$ 194 mil Crédito referente à parte de pagamento pela venda de casa na rua Flávio de Queiroz Morais, 245;

6 – R$ 1 milhão provenientes de Temer Advogados Associados, honorários recebidos por ação do início da década de 1970.

Essas foram as economias usadas para adquirir as salas, pagas à vista. O prédio só foi entregue efetivamente em 2010. Funaro continua espalhando mentiras e inverdades de forma contumaz, repetindo o mesmo roteiro de delações anteriores, em que traiu a confiança da Justiça e do Ministério Público, como já registrou a Procuradoria-Geral da República.