A prisão preventiva dos empresários Joesley e Wesley Batista era a única medida capaz de interromper a prática de crimes por parte dos irmãos Batista. É o que acredita o delegado federal Victor Hugo Rodrigues Alves, um dos responsáveis pelas investigações que culminaram na operação deflagrada pela PF na manhã desta quarta-feira (13) , quando Wesley Batista foi preso, em São Paulo (Joesley já estava detido desde o último domingo).
Os investigadores da Polícia Federal explicaram em entrevista concedida após as diligências da Operação Tendão de Aquiles que o pedido de prisão preventiva dos irmãos Batista decorre da constatação de crimes contra o sistema financeiro praticado pelos sócios da JBS às vésperas do vazamento de suas delações premiadas. Os mandados de prisão, decretados pela Justiça Federal em São Paulo, são embasados nos princípios da "garantia da ordem pública e da ordem econômica" e não possuem ligação com as demais investigações contra executivos da JBS.
"Essses crimes foram praticados por pessoas que estavam sendo investigadas em seis operações da Polícia Federal e se comprometeram a parar de deliquir e colaborar com as investigações. [...] Estamos diante de pessoas com a personalidade voltada à prática delitiva. Certamente, eles não iriam parar de deliquir com a sétima operação", disse o delegado ao explicar o pedido de prisão preventiva.
Segundo a PF, foram identificadas duas ações criminosas contra o mercado financeiro por parte de Joesley e Wesley Batista após eles terem iniciado as tratativas para fechar um acordo de colaboração premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR).
O primeiro fato é relacionado à venda de ações da rede de frigoríficos JBS, conforme explicou o delegado Victor Alves, que é chefe da Delegacia de Repressão à Corrupção e Crimes Financeiros da PF.
O delegado federal explicou que os irmãos Batista detém 100% das ações da FB Participações, empresa que, por sua vez, é dona de 42% dos papéis da JBS. Desse modo, eles teriam vendido, por meio da FB Participações, R$ 42 milhões em ações da JBS a um valor de R$ 372 milhões.
"Quando iniciaram as tratativas, eles [Joesley e Wesley] tinham consciência que isso iria impactar no mercado, provocando uma provável desvalorização dos papéis da JBS. Tendo consciência disso, eles passaram a vender os papéis da JBS, inicialmente pela FB. A JBS, presidida por Wesley, passa a comprar esses papéis para evitar que o excesso de ações no mercado provocasse a desvalorização. Com isso, eles diluíram o prejuízo com a queda das ações", explicou.
O delegado da PF acrescentou ainda que o governo federal foi um dos prejudicados pela manobra. "A FB Participações é 100% deles. Já a JBS, é só 42%. Assim, a maior parte do prejuízo nao ficou com os irmãos Batista, mas sim com os demais acionistas, incluindo o governo federal, por meio do BNDESpar, que também detém ações da JBS."
"A maior vítima é o próprio país que viviemos, na medida que os crimes abalaram a confiança no mercado brasileiro", concluiu o delegado Victor Alves.
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Compra de dólares
Também encarregado pelas investigações, o delegado regional de combate ao crime organizado Rodrigo de Campos Costa explicou que o segundo ato delitivo cometido pelos irmão Batista diz respeito aos contratos futuros de dólar.
De acordo com o investigador, Wesley e Joesley investiram cerca de R$ 2 bilhões na compra de dólar na cotação aproximada de US$ 3,11. Após o vazamento das delações que provocaram grande escândalo ao atingir o presidente Michel Temer, a moeda americana registrou valorização de 9%.
"Um dia antes do vazamento, a JBS foi a segunda maior compradora de dólares no País, o que mostra que eles [Batista] trabalhavam contando com o vazamento, que coroou o que eles esperavam. Se não houvesse o vazamento, a empresa teria prejuízo", disse o delegado.
O lucro total obtido pelos empresários com essa manobra e o prejuízo que eles conseguiram evitar com a venda de ações da JBS ainda não foi calculado – tarefa que, segundo a PF, está sendo concluída pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Os mandados de prisão contra os irmãos Batista na Operação Tendão de Aquiles não têm relação com as outras investigações contra os empresários. Desse modo, a imunidade garantida a eles pelo acordo firmado no âmbito de outras operações não pode ser aplicada. Segundo a PF, caso a prisão temporária de Joesley Batista em Brasília não seja convertida em preventiva até sexta-feira (quando ela expira), o empresário deverá ser transferido para São Paulo.
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