Último a entrar no STF, Moraes critica proposta que limita mandato de ministros

Alexandre de Moraes pediu mais discussão sobre proposta aprovada em comissão da Câmara que prevê permanência de ministros em tribunais superiores pelo período de 10 anos; "Não há lógica constitucional nisso"

Alexandre de Moraes disse que não é possível analisar validade da proposta de 'distritão' até que o texto seja finalizado
Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado - 21.2.2017
Alexandre de Moraes disse que não é possível analisar validade da proposta de 'distritão' até que o texto seja finalizado

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes criticou nesta sexta-feira (11) a ideia de limitar em 10 anos o tempo de mandato de ministros de tribunais superiores – proposta que foi aprovada ontem em comissão da Câmara dos Deputados. 

Último a ingressar no quadro de ministros do Supremo, em março deste ano , Alexandre de Moraes disse que é necessário discutir o sistema antes de analisar o tempo de mandato dos magistrados indicados para as Cortes superiores (hoje o mandato de ministros de STF é vitalício). Moraes chamou atenção para o fato de, diferentemente do que ocorre na Europa, o Supremo não desempenha no Brasil somente a função de analisar a constitucionalidade das leis.

"Nos sistemas onde os tribunais também são cortes de julgamento, a regra é a vitaliciedade. Não há lógica constitucional em introduzir um único tópico de um sistema em outro sistema. Ou nós discutimos, ou podemos depois ter problemas de compatibilidade. Para nós, o melhor sistema é o atual. A regra da vitaliciedade dá a necessária independência e autonomia para o magistrado julgar os casos concretos", afirmou o magistrado após participar de evento do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP).

Moraes reforçou que o sistema de mandato limitado só existe em regimes parlamentaristas para que o sistema vitalício não engesse as decisões e permita a reanálise de leis. "O tribunal constitucional nos países europeus funciona como uma terceira câmara do Parlamento porque é ele [o tribunal] que retira, ou não, as leis. No caso do Brasil, o STF acaba sendo a última corte penal do País, seja pelas ações penais, seja em virtude dos habeas corpus."

Distritão

Sobre a adoção do chamado distritão, também aprovado pela comissão especial da Câmara que analisa a proposta de reforma política , Moraes disse que esperará a decisão final sobre esse sistema para analisar a constitucionalidade. "Precisa, primeiro, aguardar passar e, segundo, ver como vai passar. Não há uma redação final; então, não é possível analisar ainda."

Nesse modelo de eleição, vereadores, deputados estaduais e deputados federais se elegem caso obtenham o maior número de votos em uma determinada região do País, diferentemente do que ocorre hoje, com o sistema proporcional. O distritão não estava previsto no parecer do relator, deputado Vicente Candido (PT-SP) e foi proposto pelo PMDB, com o apoio do PSDB, do DEM, do PP e do PSD.

Já a ideia de limitar o mandato dos ministros do STF foi proposta pelo relator da reforma política. Um destaque apresentado pelo PSDB, partido que até o início do ano tinha Alexandre de Moraes como um de seus filiados, procurava excluir esta parte do texto, mas foi rejeitado.

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*Com reportagem da Agência Brasil