“Nós vamos debater a PEC e os senadores vão votar. Se tiverem coragem de restabelecer a seriedade, o compromisso e a responsabilidade da instituição, votarão comigo.”
A declaração acima é uma pequena amostra da realidade distorcida e doentia na qual vive seu autor, o líder do governo no Senado e presidente nacional do PMDB, Romero Jucá (RR).
As palavras do mentecapto senador dão a entender que a mencionada Proposta de Emenda à Constituição (PEC) se trata de um projeto imaculado e moralizador, quando na verdade é exatamente o oposto disso.
A PEC apresentada por Jucá nesta quinta-feira (15) é mais uma escandalosa tentativa de blindar a classe política. O texto visa tornar os presidentes da Câmara dos Deputados, do Senado e do STF imunes a investigações por atos anteriores ao exercício de suas funções durante o mandato – uma prerrogativa que nossa Constituição reserva apenas ao presidente da República.
Caso fosse aprovada, por exemplo, a proposta impediria que fossem iniciadas investigações pelos próximos dois anos contra o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), recém-eleitos para a presidência da Câmara e do Senado, respectivamente. Os dois são citados por suposto recebimento de propina em depoimentos prestados no âmbito da Lava Jato.
Alvo ele próprio de oito inquéritos criminais no Supremo Tribunal Federal, Jucá não estava sozinho ao apresentar a PEC no Senado. A empreitada diabólica contou com a assinatura de 28 senadores, de nove diferentes legendas que integram a base governista. Entre eles estavam nomes como Renan Calheiros, Edison Lobão, Aécio Neves, Aloysio Ferreira Nunes e José Agripino.
Cerca de um ano atrás, grande parte desse grupo fazia campanha pelo impeachment de Dilma Rousseff sob o discurso de trazer de volta a ética e a moral dissipadas durante os seguidos mandatos petistas no Palácio do Planalto. Hoje, o PMDB de Jucá dá seguidos sinais de que possui o mesmo DNA repugnante.
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Pacto contra a Lava Jato
Jucá age como um mafioso, alucinado em seu objetivo de criar obstáculos para a continuidade da Operação Lava Jato. Isso já estava claro à época da divulgação de gravações de conversas com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado em que o senador sugere um “pacto para estancar a sangria” da operação.
O senador-coronel de Roraima também já havia dado uma amostra de sua benevolência com a classe política ao tentar, de modo sorrateiro, incluir a possibilidade de familiares de políticos se beneficiarem do projeto que criava um regime diferenciado para a regularização de ativos mantidos no exterior sem o conhecimento da Receita Federal, a chamada Lei da Repatriação de Recursos.
A população não tolera mais esse tipo de atitude e, após as devidas críticas e a risível tentativa de Jucá em defender a PEC, o senador que até então se fazia de rogado colocou o rabo entre as pernas e decidiu retirar o projeto da pauta do Senado, horas após tê-lo apresentado.
Mas talvez seja exagero nosso cobrar decência de Romero Jucá. Afinal, é impraticável encaixar esse cidadão e seus semelhantes em nossa realidade, sem as distorções e maracutaias que lhes são tão estimadas.
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