O ex-executivo da Andrade Gutierrez, Flávio David Barra, confirmou nesta quinta-feira (16) ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal da Justiça Federal no Rio de Janeiro, que a empreiteira tinha caixa dois único para pagamento de propina. Ele disse não saber se houve pagamento de propina para participar das obras do Estádio do Maracanã.
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“Era uma situação amadora, era a forma como a cúpula da empresa [ Andrade Gutierrez ] encontrou para cumprir determinados compromissos que havia aceitado”, disse Flávio David Barra, em depoimento.
Na quarta-feira (15), os ex-executivos da empresa Rogério Nora de Sá e Clóvis Renato Primo reafirmaram que a construtora pagou propina para participar das obras de reforma do Estádio do Maracanã, em manobra chamada de “contribuição de governo”.
Barra foi ouvido como testemunha no processo da Operação Saqueador. A investigação refere-se ao esquema de desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro no valor de
R$ 370 milhões.
O esquema desvendado na operação desencadeada em junho do ano passado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal (MPF) tem como principais acusados o dono da Construtora Delta, Fernando Cavendish, e o contraventor Carlinhos Cachoeira. Além deles, foram denunciadas 21 pessoas, entre executivos, diretores, tesoureira e conselheiros da empreiteira e proprietários e contadores de empresas fantasmas, criadas pelo contraventor e pelos empresários Adir Assad e Marcelo Abbud.
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Barra já foi condenado pelo juiz Marcelo Bretas na Operação Lava Jato e, junto ao ex-presidente da empreiteira Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, teve um acordo de delação homologado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki, que morreu em janeiro deste ano.
Na tarde desta quinta-feira (16), o ex-senador Delcídio do Amaral presta depoimento ao juiz Marcelo Bretas como testemunha de acusação no processo da Operação Saqueador.
Propina a Cabral
Em depoimento na quarta-feira (15), Nora de Sá informou que o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral recebia pagamentos mensais de R$ 300 mil em propinas para garantir contratos da Andrade Gutierrez nas obras do Estádio do Maracanã para a Copa do Mundo.
Nora de Sá e Primo não estão entre os denunciados nesse processo, mas foram indiciados nas investigações da Operação Lava Jato e já haviam prestado declarações à Justiça, firmando acordo de colaboração.
O engenheiro civil Clóvis Renato Primo, que disse ter trabalhado na empresa por 35 anos e foi diretor-geral de obras no período final, de onde saiu em 2013, afirmou que Nora de Sá participou de reunião com o governo para discutir a reforma do Maracanã, que já estava designada para o consórcio entre a Delta e a Odebrecht, na proporção de 30% e 70%, respectivamente.
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“Se a Andrade Gutierrez quisesse participar das obras, teria que procurar a Odebrecht para entrar na cota de 70% dela. Além disso, teria que ter uma 'contribuição de governo' de 5%. Procuramos a Odebrecht e acertamos a entrada da Andrade Gutierrez nessas obras na parte da Odebrecht, com 30% dos 70%, ou seja, 21%. A Odebrecht ficou com 49% e a Delta com 30%”, afirmou Primo.
De acordo com Primo, no primeiro ano das obras, ainda na fase de projeto, em 2011, foi feito um pagamento mensal da ordem de R$ 300 mil para “esse negócio”. Primo confirmou também que os valores da Andrade Gutierrez eram repassados por meio de empresas de Adir Assad, com sede em São Paulo, que ele declarou não conhecer pessoalmente, já que mora no Rio de Janeiro.
* Com informações da Agência Brasil