Juiz federal reclamou da insistência do defensor Juarez Cirino de afirmar que o procurador da República não poderia fazer uma pergunta a testemunha

O juiz federal Sérgio Moro, da Justiça Federal em Curitiba, voltou nesta segunda-feira (12) a bater boca com um dos advogados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante audiência da ação penal na qual Lula é réu . Durante a oitiva de uma funcionária da empreiteira OAS, Moro chegou a gritar com defensor Juarez Cirino após várias interrupções. “Respeite o juízo!", gritou Moro.
O bate-boca começou após uma pergunta feita por um procurador da República à funcionária Marilza Marques, responsável pela área de atendimento da empreiteira e que acompanhou as visitas no apartamento tríplex em Guarujá (SP), imóvel investigado na Operação Lava Jato. Marilza disse que mulher de Lula , a ex-primeira-dama Marisa Letícia, era apresentada como “se o imóvel já tivesse sido destinado”.
O estopim para o início da discussão ocorreu quando Moro disse que o advogado estava sendo "inconveniente" ao alegar repetidamente que o procurador não poderia fazer a pergunta.
Advogado: A defesa não é inconveniente na medida em que estamos no exercício da ampla defesa
Moro: Já foi indeferida sua questão, já foi indeferida sua questão, doutor
Advogado: Vocês não podem cassar a palavra da defesa
Moro: Posso, doutor, por estar sendo inconveniente
Advogado: Não pode, porque estamos colocando uma questão muito importante, relevante, o procurador da República está pedindo a opinião da testemunha e ele não pode
Moro: Doutor, o senhor está sendo inconveniente! Já foi indeferida sua questão, já está registrada, e o senhor respeite o juízo.
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Acusações
Em uma das ações da Lava Jato em que é réu, na 13ª Vara Federal de Curitiba – comandada por Moro –, o ex-presidente é acusado pelos procuradores que integram a força-tarefa da Lava Jato de ter recebido propina no valor de R$ 3,7 milhões no esquema montado para desviar recursos da Petrobras.
O Ministério Público Federal (MPF) afirma que os pagamentos foram feitos por meio do fornecimento de vantagens indevidas, como a reforma do apartamento tríplex em Guarujá, no Litoral paulista, que seria utilizado pelo petista.
Em outro processo aberto pelo MPF e aceito pela Justiça Federal em Brasília, Lula é acusado de ter agido junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e outros órgãos ligados ao governo federal para obter a liberação de verbas para a empreiteira Odebrecht. O objetivo das movimentações seria viabilizar obras da construtora em Angola , na África. Em troca, a empresa teria pago propina no valor de aproximadamente R$ 30 milhões.