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Membros da ALN dizem que carisma e posições firmes de Marighella atraiam para a luta armada contra a ditadura

Gilney Viana
PT
Gilney Viana
Coordenador do projeto Direito à Memória e à Verdade da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, Gilney Viana esteve com o líder da Ação Libertadora Nacional (ALN), Carlos Marighella, dois dias antes de seu assassinato. De acordo com ele, o guerrilheiro era carismático e transmitia segurança e serenidade aos companheiros. “Sua morte foi um duro golpe para nossa organização. A morte do comandante é sempre muito traumática e Marighella foi o grande estrategista da luta armada no Brasil”.

Gilney conta que esteve com Marighella na noite de dois de novembro de 1969. Ele queria saber quando poderia ir a Cuba participar de um treinamento para guerrilheiros. “O Marighella me disse que devíamos esperar um pouco pois a situação nas fronteiras estava perigosa. Depois da conversa fui para casa de um operário onde eu estava escondido. Duas noites depois eu estava assistindo a um jogo de futebol e a partida foi interrompida para anunciar a morte dele. O companheiro operário chegou a chorar”, disse.

O militante conta que seu ingresso na luta armada se deu em 1968, justamente após conhecer Marighella, que defendia a ação militar antes mesmo de se criar uma organização central para comandar as operações ( ouça entrevista de Marighella veiculada pela rádio Havana em 1967 ).

“Meu grupo de Minas Gerais foi quebrado devido a várias prisões. Ele propôs algo que achei interessante. Disse que demoraria muito para ter um grupo forte com estrutura central e que por isso deveríamos partir para a ação e resolver estas questões durante o processo de luta. Foi aí que nos convenceu”, disse.

Quem também teve em Marighella o estímulo para o ingresso na luta armada foi Domingos Fernandes. Militante da ALN, foi preso e conseguiu a liberdade sendo trocado pelo embaixador alemão Ehrenfried von Holleben, seqüestrado em 1970. Banido do Brasil, retornou apenas em 1979, com a promulgação da Lei de Anistia.

“A presença do Marighella foi fundamental para a luta armada. Não excluo os outros comandantes, mas Marighella foi o personagem que galvanizou o processo de luta armada no Brasil”, disse.

Segundo ele, Marighella colocou a opção pela luta Armanda num momento histórico favorável. “Em 1968 a juventude do mundo inteiro estava se manifestando. Isso fez com que muitos jovens vissem um encanto a mais na resistência armada à ditadura. Eu queria lutar e ingressei na luta após uma reunião com Marighella”, pontuou.