Entenda prisão de pintores acusados de latrocínio, extorsão e incêndio

Jhonatan afirmou que a ideia de cometer os assassinatos contra aposentada e diarista partiu de William, que se entregou na madrugada deste domingo

Foto: Reprodução
Os pintores, que foram flagrados por câmeras de segurança do prédio onde Martha Maria Lopes Pontes e Alice Fernandes da Silva foram mortas

Polícia Civil prendeu, neste fim de semana, os dois pintores acusados do crime que resultou na morte da aposentada Martha Maria Lopes Pontes, de 77 anos, e da diarista Alice Fernandes da Silva, de 51. Jhonatan Correia Damasceno, de 32 anos, e William Oliveira Fonseca, de 23, são acusados de duplo latrocínio, extorsão qualificada e incêndio após degolarem e carbonizarem os corpos das duas no apartamento da idosa, localizado num prédio da Avenida Rui Barbosa, no Flamengo, na última quinta-feira, dia 9.

O crime

Os criminosos chegaram ao endereço onde morava Martha com um plano desenhado para roubar R$15 mil reais da vítima. Jhonatan, preso por policiais da Delegacia de Homicídio da Capital (DHC) com apoio da Core nesta sexta-feira, aproveitou que já era conhecido no prédio por serviços prestados a moradores, para circular sem problemas pelo edifício.  Em imagens de câmeras de segurança do condomínio, os dois aparecem às 13h34 de máscaras, bonés e mochilas e carregam uma sacola plástica. 


De acordo com a Polícia Civil, depois de realizar diligências e analisar as imagens das câmeras de segurança, foi possível identificar que após ter a entrada autorizada pela própria Martha e ir até o apartamento com o comparsa, Jhonatan saiu do prédio para ir até a agência bancária mais próxima e descontar três cheques no valor de R$5 mil reais cada. Para isso, o criminoso precisou da autorização da idosa, que ameaçada por William no próprio apartamento, autorizou os saques por telefone .

A funcionária do banco afirmou que, ao receber do rapaz três cheques da idosa no valor de R$ 5 mil cada, chegou a indagá-lo diante do “alto valor”, no que ele respondeu: “A dona Martha costuma comprar carro comigo”. Ela então separou o dinheiro em três maços de notas e os entregou.

Na especializada, a profissional contou ter recebido Jhonatan, por volta de 15h40, em um dos caixas do banco, pedindo para sacar o montante de R$ 15 mil. A moça então entrou em contato com Martha, emitente dos cheques, através de um telefone fixo que constava em seu cadastro. Ela afirmou que a idosa parecia “estar calma” e negou ter notado algo “fora do normal durante o contato”. 


No depoimento, a mulher disse que, após a autorização de Martha, solicitou o documento de identidade de Jhonatan e pediu que ele assinasse os cheques, sendo prontamente atendida por ele. Ela relatou que ele também parecia calmo e, enquanto esperava para receber o dinheiro, falava ao celular com outra pessoa: “Já estou no caixa”, “Já estou sendo atendido”, dizia o rapaz.

Jhonatan já tinha trabalhado como pintor para outros moradores do condomínio. Ele prestava serviços junto com o pai, que também é pintor, e foi assim que começou a ser conhecido por todos no prédio, facilitando a sua entrada. Há uns meses, Jhonatan foi indicado para um serviço de pintura na casa da Martha, que o contratou e pagou o valor acordado.

As prisões

Jhonatan foi preso na tarde desta sexta-feira, dia 10, na favela de Acari, na Zona Norte do Rio . O pintor foi flagrado por imagens de câmeras de segurança de um elevador do prédio de luxo onde as vítimas foram encontradas na véspera com cortes no pescoço. O corpo da patroa, de acordo com o exame de necropsia do Instituto Médico-Legal (IML), ainda foi queimado dentro do imóvel.

O preso, contudo, afirmou que a ideia de cometer os assassinatos partiu de William, que também teve a prisão decretada e estava foragido até a madrugada deste domingo, quando se entregou. O pintor de 23 anos já tinha em seu nome um mandado de prisão por roubo e outro por roubo seguido de morte, extorsão e incêndio, segundo as investigações da Delegacia de Homicídios.

Na mesma sexta-feira, a roupa utilizada por Jhonatan Correia Damasceno no dia do crime foi apreendida pela Polícia Civil na casa dele, em Acari: a calça jeans, a jaqueta e o boné encontrados pelos agentes são os mesmos em que Jhonatan aparece nas imagens de câmeras de segurança entrando e deixando o prédio da vítima.

Em audiência de custódia realizada na tarde deste domingo, o Juiz Pedro Ivo Martins Caruso D'ippolito, do Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ, converteu a prisão temporária de Jhonatan por prisão preventiva. A Polícia Civil, entretanto, não informou quando William (ainda preso temporariamente) prestará depoimento.

De acordo com as investigações da DHC, os acusados cortaram o pescoço das vítimas e ainda queimaram o corpo da patroa.
 Os cadáveres das duas mulheres foram localizados, por volta de 17h, por homens dos quartéis do Catete e do Humaitá do Corpo de Bombeiros. Eles foram acionados em razão do incêndio no apartamento onde estavam as vítimas.

Dívidas e desespero

Segundo o laudo de exame de necropsia, a causa da morte de Martha e Alice foi esgorjamento — lesão profunda que atingiu a garganta das vítimas e que foi provocada por ação corto-contundente, possivelmente uma faca. Filho de Alice, o bombeiro hidráulico Diogo Felixberto Fernades da Silva, de 27 anos, contou que os pintores já haviam voltado ao apartamento outras vezes em busca de dinheiro, embora o serviço já tivesse sido quitado por Martha.

"O serviço foi feito e todo pago, mas eles estavam coagindo a dona Martha a dar mais dinheiro. A dona Eleonora, filha dela, contou que há 15 dias eles bateram lá contando uma história triste e querendo mais dinheiro. Em outro episódio, na última semana, eles foram lá novamente, desta vez só com a dona Marta, colocaram o pé na porta, a ameaçaram e a coagiram para levar mais dinheiro. Nesse dia, a minha mãe não estava lá", contou.

Após ser preso em flagrante, Jhonatan contou ter planejado o crime após se desesperar com a “quantidade de dívidas que vinha se acumulando”. Em depoimento na DHC, o rapaz relatou ter combinado com William: enquanto o comparsa amarraria e amordaçaria a idosa, ele iria a uma agência bancária sacar os cheques que a obrigaria a assinar.


Ele contou que, no dia seguinte, saíram juntos de casa, ambas na favela da Acari, na Zona Norte da cidade, e, de metrô, seguiram até o Flamengo. Os dois estavam de máscaras e bonés para dificultar a identificação junto as câmeras de segurança do condomínio.

O rapaz contou que, ao chegar no prédio, por volta de 13h, pediu ao porteiro que interfonasse para o apartamento 1.202, sendo autorizado a subir por Martha. Ao chegar no imóvel, foi recebido por Alice, contra quem Willian “partiu para cima”, a colocando “na parede”, a amordaçando e amarrando suas mãos com durex que estava na cozinha. Ele diz ter ido em direção a idosa, que estava no escritório, e gritado: “Fica calma! Só quero o dinheiro!”. Assustada, ela respondeu: “Não precisa disso!”.

Aos agentes da DHC, Jhonatan contou que Willian também amarrou e amordaçou Martha, enquanto ele foi ao seu quarto, pegou um talão de cheques e a obrigou a assinar quatro folhas. Ela chegou a preencher uma com R$ 1 mil, mas o comparsa teria dito que o valor era “muito baixo” e ela passou a preencher com R$ 5 mil. O rapaz então disse seguir o plano de ir à agência bancária fazer os saques enquanto o outro homem ficava “tomando conta” da idosa para que ela não acionasse a polícia.

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