Empresária que agredia babá na Bahia é indiciada por quatro crimes
Melina França foi indiciada pela Polícia Civil por ameaça, lesão corporal, cárcere privado e redução à condição análoga à escravidão
A empresária acusada de agredir uma babá na Bahia , em agosto deste ano, foi indiciada pela Polícia Civil. Com a conclusão do inquérito, o órgão de segurança anunciou, nesta quinta-feira (23), o indiciamento de Melina Esteves França por ameaça, lesão corporal no âmbito da violência doméstica, cárcere privado qualificado pelos maus tratos e redução à condição análoga à escravidão.
O caso em questão veio a público no dia 25 de agosto, quando a babá Raiana Ribeiro, de 25 anos, pulou do terceiro andar do prédio residencial onde a então patroa morava. Os crimes foram cometidos no Imbuí, bairro nobre da cidade de Salvador, capital baiana.
Após a repercussão inicial da notícia, imagens registradas pelas câmeras de segurança do apartamento de Melina confirmaram a denúncia. É possível ver a empresária dar tapas, socos e chutes em Raiana, que chega a cair desmaiada. Em outro momento, a babá pula do prédio e a empresária parece ligar para a portaria, acusando Raiana de cometer agressões.
Diante desses e outros fatos, a Polícia Civil concluiu o inquérito. "Todas as medidas de polícia judiciária foram tomadas, inclusive as medidas cautelares – o que não foi necessário informar antes à população, através da mídia, porque o inquérito é sigiloso e qualquer medida que fosse tomada no sentido de informar à imprensa poderia interferir no transcurso da investigação e, agora, da futura ação penal", declarou o delegado titular da 9ª Delegacia Territorial (DT/ Boca do Rio), Thiago Rodrigues Pinto, em coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira (23).
De acordo com ele, ao longo do inquérito, as oitivas registraram contradições tanto por parte de Melina quanto de Raiana, o que representou "um desafio à investigação". O iG
procurou a assessoria de comunicação da Polícia Civil baiana para saber quais foram os conflitos nos depoimentos e as medidas cautelares solicitadas à Justiça, mas o órgão frisou que o delegado não quis dar mais detalhes por conta do sigilo imposto ao processo.
Já a defesa da vítima, representada pelo advogado Bruno Oliveira, disse acreditar que as tais contradições apontadas pela polícia no depoimento de sua cliente se devem aos fatos que Raiana acrescentou no segundo depoimento. “Ela deu novas informações que não tinha dado antes pela circunstância, por estar muito abalada, com a mídia em cima, abalo psicológico”, defendeu, em conversa com o portal. Ele conta que a babá tem feito acompanhamento psicológico, pois adquiriu síndrome do pânico.
Apesar disso, Oliveira se mostrou satisfeito com o indiciamento feito pela Polícia Civil por endossar as acusações feitas pela vítima. Ele apenas ressaltou que pretende discutir com o Ministério Público da Bahia (MP-BA), agora responsável pela condução do processo, a tipificação de “lesão corporal grave” para a violência que Raiana sofreu. Para a defesa, a babá foi vítima de tortura.
Inicialmente, o MP-BA terá 15 dias para analisar o caso. Procurada pelo iG
, a assessoria de comunicação do órgão confirmou o recebimento do inquérito policial nesta quarta (22) e disse que ele foi distribuído para o promotor de Justiça, Tarcísio Moreira Caldas Vianna Braga. Segundo o parquet, ele já começou a analisar o material para adotar as devidas providências.
Violência no trabalho
Após se jogar do terceiro andar, a babá Raiana Ribeiro teve vários ferimentos, como fraturas em um dos pés. Quanto ao desmaio sofrido ainda no apartamento da ex-patroa, a jovem afirmou que isso aconteceu porque ela era impedida de se alimentar no local e mantida em cárcere privado.
Além de Raiana, outras 11 mulheres já se apresentaram com denúncias semelhantes contra Melina, segundo informações do G1 BA. Ainda assim, a defesa da empresária justificou o comportamento agressivo ao dizer que ela sofre com o Transtorno de Personalidade Borderline, que se caracteriza por rápidas mudanças de humor. O iG tentou localizar a defesa de Melina, mas não obteve êxito.
** Ailma Teixeira é repórter nas editorias Último Segundo e Saúde, com foco na cobertura de política e cidades. Trabalha de Salvador, na Bahia, cidade onde nasceu e se formou em Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), em 2016. Em outras redações, já foi repórter de cultura e entretenimento. Atualmente, também participa do “Podmiga”, podcast sobre reality show, e pesquisa sobre podcasts jornalísticos no PósCom/Ufba.