Truculência policial, drogas e preconceito: saiba o que acontece no Baile da 17
"Droga circula tanto em festas universitárias quanto no Baile da 17, mas polícia não age igual", diz jovem que frequenta festas nos dois ambientes
"A polícia não 'cai' em cima de festa de faculdade, mas sempre está em ações truculentas e hostis nas favelas. A questão do preconceito tem que acabar", diz a Relações Públicas Gabriela Cardoso, de 21 anos, frequentadora há cerca de um ano do Baile da 17, em Paraisópolis . O local foi cenário da morte de nove jovens, pisoteados na madrugada do domingo (1º), durante uma ação da Polícia Militar. O baile também é conhecido pela sigla DZ7 , sendo um dos maiores de São Paulo , e reúne cerca de 5 mil pessoas.
A jovem, que não esteve na noite em que as mortes aconteceram, conta que vê a circulação de drogas em festas universitárias em proporções similares ao que presenciou no Baile da 17
. "Querendo ou não, o que aconteceu foi importante para que fosse retomado o assunto do preconceito. Paraisópolis não tem só bandido. Ninguém lá merecia morrer assim", desabafa.
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As mortes recentes não fizeram com que a profissional de Relações Públicas desistisse de ir ao Baile da 17 . "Frequento Paraisópolis por uma questão de lazer, mas já tive que entrar em beco pra fugir a polícia, que veio pra cima. Foi complicado porque meus amigos e eu não somos de lá e não sabíamos para onde ir e nos proteger". O conselho dado por Gabriela é que os grupos contem com um morador local para conseguir abrigos seguros.
A repressão da Polícia Militar, apontada como a possível causa da agitação que provocou as mortes em Paraisópolis, tem sido motivo para que as pessoas deixem de frequentar o baile funk da região. Ao menos é isso o que diz Maria Helena*, de 21 anos, que foi para uma das festas na comunidade . "Paraisópolis é mais iluminada que a minha rua, na Vila Mariana . As pessoas andam na rua tranquilamente, tem muito movimento a noite. Às 22h30 a gente não vê tanto movimento assim no meu bairro", comenta Helena.
As redes sociais são usadas como tática para se resguardar das ações da PM , segundo Helena. Contas em redes sociais são usadas para divulgar quando é possível chegar no evento em momentos mais tranquilos, sem risco de correria ou troca de tiros. "Várias vezes postam informando quando está perigoso. Eles vão dizendo como está o baile e isso é importante, porque no momento em que a polícia chega, é cada um por si".
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Baile como única alternativa
O Baile da 17 , criado no início da década, serviu, de início, como alternativa de lazer aos moradores da região, localizada na Zona Sul de São Paulo, no distrito de Vila Andrade. A região não é contemplada por centros culturais, casas e espaços de cultura municipais, estaduais ou federais, de acordo com o relatório do Mapa da Desigualdade 2019 , da Rede Nossa São Paulo. O baile funk se tornou uma das poucas alternativas de lazer para quem vive em Paraisópolis.
Ainda de acordo com o relatório, a Vila Andrade também figura entre os distritos com maior população preta e parda e o maior índice de violência contra a mulher. Atualmente, a região concentra a maior proporção de domicílios em favelas. Ficam atrás de Brasilândia e Sacomã.
O iG entrou em contato com a Polícia Militar de São Paulo para apurar informações sobre o número de ações da Polícia Militar no Baile da 17, em Paraisópolis. Até o fechamento da matéria, não obtivemos respostas.
* A identidade foi preservada a pedido da personagem.