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"Viemos protestar pela prisão dos guardas, vamos lutar pra que este crime não fique impune", diz viúva do Rodinei

Familiares e amigos dos dois homens mortos por engano em um posto de combustível de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, protestaram novamente nesta segunda-feira (21). O grupo se reuniu em frente ao setor de homicídios da Delegacia de Mogi das Cruzes para cobrar providências na investigação do crime.

O caso aconteceu no último dia 12 de outubro, no estabelecimento às margens do quilômetro 37 da rodovia Ayrton Senna, no sentido São Paulo e ganhou repercussão nacional após a reviravolta na investigação com a ajuda das câmeras de segurança. 

Guardas municipais atiraram em um carro e os disapros atingiram os três amigos Rodinei Alves dos Reis, de 33 anos, Bruno Nascimento Martins de Souza, de 32 anos e Kaue Francisco Oliveira, o “Palito”, de 21 anos, o único que ficou vivo. Eles eram vendedores e voltavam do Santuário de Aparecida, onde foram trabalhar durante a celebração do dia de Nossa Senhora Aparecida.

Familiares e amigos afirmam que os três homens que estavam no carro sempre trabalhavam juntos como ambulantes
Foto: Reprodução/Internet
Familiares e amigos afirmam que os três homens que estavam no carro sempre trabalhavam juntos como ambulantes

"Viemos protestar pela prisão dos guardas, vamos lutar pra que este crime não fique impune. Queremos uma resposta", disse em entrevista ao iG a viúva de Rodinei, Luciana de Oliveira Alves, 27 anos.

Já são nove dias após o crime e para Luciana, a polícia não tem feito o seu papel com coerência e agilidade. "O delegado falou que ia pedir novos depoimentos dos guardas e das  testemunhas, mas até hoje isso não foi pedido. Como não há nenhuma resposta, viemos para a
porta da delegacia hoje cobrar providências", afirma.

Durante a movimentação em frente à delegacia, amigos e familiares estavam revoltados com a falta de transparência do que tem sido feito, já que nenhum dos guardas municipais foi preso.

Da direita para a esquerda. Rodinei, Bruno e Kaue
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Da direita para a esquerda. Rodinei, Bruno e Kaue

Diego Nunes, 31 anos, foi um dos organizadores do protesto. "A gente quer que os responsáveis paguem por tudo que fizeram com meus amigos. A minha relação com eles era de muita amizade", lamenta o amigo.

Edna Oliveira, a mãe do Kaue, o único sobrevivente e testemunha chave do caso, não compareceu ao protesto, mas conversou com a reportagem por telefone. Ela conta que está cuidando do filho, mas ele segue "de cama" e não consegue superar o trauma.

"Não fui ao protesto porque meu filho está muito traumatizado com tudo, ele não come e não dorme. O Kaue recebeu alta do hospital, mas está proibido pelos médicos de sair por conta de sua condição de saúde. Mas, os amigos estiveram lá pedindo justiça, é isso que queremos", destaca a mãe da vítima.

Entenda o caso:

No último dia 12 de outubro, dois homens armados anunciaram um assalto a dois guardas municipais, deItapecerica da Serra,  que estavam em um posto de gasolina acompanhados pelas namoradas. No início, eles se renderam, mas na fuga, os oficiais atiraram na direção dos assaltantes e em um carro que havia estacionado no local para abastecer.

Os guardas e os dois ladrões trocaram tiros e a namorada de um deles, a enfermeira Roberta Maria de Franca, de 36 anos, foi baleada no peito, morrendo pouco depois. Os assaltantes fugiram com a moto.

Fotografia da mala do carro das vítimas mostra o sorvete que sobrou do dia de vendas
Foto: Reprodução/WhatsApp
Fotografia da mala do carro das vítimas mostra o sorvete que sobrou do dia de vendas

No veículo que também foi atingido pelas balas dos guardas estavam os vendedores Bruno, Rodinei e Kaue, o último ainda saiu do carro com as mãos para o alto e deitou no chão, ao tentar se declarar inocente. Mas, neste momento, um dos guardas o agregiu com chutes. Depois, com uma corda, prendeu as suas mãos.

Inicialmente, a versão dos guardas era que os dois assaltantes tinham saído de dentro do carro das vítimas para assaltar.

Mas, a nova versão do caso só veio à tona na última terça-feira (15) após a divulgação das imagens do circuito de segurança do posto de gasolina. A filmagem mostra os guardas na área de abastecimento, os assaltantes caminhando em direção ao posto e o momento que o carro, um Fiat Siena branco,  chega ao local para abastecer.

Nas camisas, amigos das vítimas pedem justiça
Foto: Reprodução/WhatsApp
Nas camisas, amigos das vítimas pedem justiça

O único sobrevivente do veículo, o vendedor Kaue Francisco ficou preso durante quatro dias acusado de ser cúmplice dos assaltantes. Só após a divulgação da filmagem ele foi colocado em liberdade pelo juiz da 2ª Vara Criminal de Itaquaquecetuba.

“Na hora, eles (os guardas) falaram que eu estava envolvido no assalto, mas disse que no carro somente havia sorvete e água. No posto onde paramos para abastecer o Siena, um dos meus colegas gritou: ‘Palito, não olha para trás senão eles vão atirar em nós’. Fui chamado de ladrão. Eu quero justiça, mataram inocentes, nada vai trazer a vida dos meus amigos de volta”. afirma a vítima logo após sair da prisão, em entrevista a Rede Globo.

Confira a filmagem:


Antes das imagens serem avaliadas como prova crucial para a investigação do caso, o Kaue já alegava inocência na delegacia e os familiares estavam indignidados com o depoimento dos guardas municipais. Desde o primeiro momento, a versão da família era de que Rodinei Alves dos Reis e Bruno Nascimento de Souza, mortos durante o assalto, não tinham nenhum envolvimento com os bandidos.

Após o delegado Rubens José Ângelo, à frente do caso, ter acesso às imagens, os guardas municipais Emanuel Formagio, de 39 anos, e Adriano Borges Rodrigues, de 41 anos, passaram de vítimas de latrocínio (roubo seguido de morte) a investigados pela morte de dois homens e tentativa de assassinato de um outro.

Segundo a polícia, dentro do carro das vítimas foram encontrados três celulares, R$ 322 e caixas com copos d'água e sorvetes.

Angelo disse à imprensa que é preciso aguardar os laudos do Instituto de Medicina Legal para dar um próximo passo na investigação. "Há um prazo de 30 dias, mas pode demorar até 90. Vou pedir celeridade, pois somente após a analise deles é que poderei chegar totalmente à
conclusão do que aconteceu no posto, na tarde daquele sábado”.

De acordo com a Prefeitura de Itapecerica da Serra, os dois guardas foram afastados das ruas e um procedimento interno foi aberto para apurar o caso. Caso sejam considerados culpados, os guardas podem responder por duplo homicídio, tentativa de assassinato e lesão corporal dolosa.

A reportagem procurou a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo para esclarecer pontos questionados pela família da vítima. Por meio de nota, a SSP informou que estão investigando a conduta dos guardas municipais, responsáveis por prender o rapaz inocente e também agredí-lo. "O delegado esclareceu que aguarda os laudos periciais para avaliar a ação de cada um individualmente e indiciá-los, caso necessário. Os dois agentes, assim como outras testemunhas serão ouvidas novamente nos próximos dias e a busca por mais imagêns de câmeras de segurança permanecem com o intuito de esclarecer todas as circunstâncias do caso", diz nota enviada à imprensa.

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