O julgamento pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes iniciou-se nesta quarta-feira (30), no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Seis anos e sete meses após o crime, os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, acusados de atirar no carro das vítimas no bairro do Estácio, em 14 de março de 2018, enfrentam a justiça. Marielle havia saído de um evento chamado “Jovens Negras Movendo as Estruturas” e estava a caminho de casa quando foi atacada. Os assassinos usaram armas de fogo de uso restrito, indicando uma possível relação com forças policiais ou organizações bem estruturadas.
Foram ouvidas oito das nove testemunhas previstas, entre elas Mônica Benício, viúva de Marielle, que destacou a perda e o impacto de uma liderança interrompida. Ela relembrou que a vereadora estava no auge da carreira, com forte conexão com o público e reconhecimento pelo trabalho. “Ela estava feliz de ver o trabalho dela dando retorno. Marielle se tornou uma figura importante, com potencial para ser uma potência política no Brasil”, disse Mônica. Marielle conquistou mais de 46 mil votos, e, em 2018, já era vista como possível candidata ao Senado ou à vice-governadoria, representando uma nova perspectiva política.
Para Mônica, o julgamento não trará justiça plena: “Não há justiça possível.” No entanto, ela espera que represente uma resposta importante para o Brasil. “Espero que o julgamento mostre que crimes como esses não podem voltar a acontecer, para que ‘Marielles’ possam existir em suas potências e ‘Andersons’ possam voltar para suas casas.” Segundo a viúva, o julgamento também representa uma mensagem para que defensores da democracia possam prevalecer e para que a política não ceda à violência.
O delegado da Polícia Federal, Guilhermo Catramby, relatou o cenário complexo que encontrou ao assumir a investigação, devido à vasta quantidade de autos e procedimentos já existentes, o que dificultou o trabalho da equipe inicialmente. Ele explicou que foi necessário organizar as informações e destacou o uso da ferramenta CC Fácil, normalmente empregada por instituições financeiras para pesquisas de crédito, mas que, neste caso, foi utilizada pelos acusados para acessar documentos pessoais de Marielle. Catramby também apontou a existência de dados de vigilância sobre Marielle, coletados antes e após o crime, indicando que seu mandato era visto como uma “pedra no sapato” pelos acusados.
O agente da Polícia Civil do Rio, Luismar Corteletti Leite, do setor de busca eletrônica do núcleo de homicídios, informou que ele e mais nove servidores realizaram uma análise telefônica dos registros de localização de Élcio Queiroz nos dias 14 e 15 de março de 2018. “A análise mostrou que ele saiu de casa por volta das 15h e, seguindo uma linha de histórico de chamadas de voz e GPRS (internet), foi possível realizar a localização e o tempo de permanência de Élcio,” explicou o agente.
O julgamento é transmitido no canal do tribunal neste link .
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