A crise diplomática entre Brasil e Venezuela atingiu novos patamares com a convocação do embaixador venezuelano em Brasília, Manuel Vadell, para consultas em Caracas, a pedido do governo de Nicolás Maduro.
Em nota oficial, o governo venezuelano também comunicou que chamou o encarregado de negócios da Embaixada do Brasil na Venezuela, Breno Hermann, para manifestar descontentamento com declarações de Celso Amorim, assessor especial para Assuntos Externos do governo brasileiro, que, segundo Caracas, “tem emitido julgamentos de valor sobre processos internos da Venezuela”.
A insatisfação da Venezuela é reflexo, em parte, da posição adotada pelo Brasil na recente cúpula do Brics, realizada em Kazan, na Rússia, onde se opôs ao ingresso da Venezuela no bloco econômico. Em comunicado, o governo de Maduro alegou que a decisão brasileira “atenta contra os princípios de integração regional defendidos pela Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) e pela histórica unidade da região”.
Acusações e conflitos
Em seu programa semanal de televisão, Maduro pediu que o presidente Lula se pronuncie sobre o posicionamento brasileiro. O líder venezuelano apontou que o Itamaraty “tem sido um poder dentro do poder no Brasil há muitos anos” e acusou a Chancelaria brasileira de agir em alinhamento com interesses norte-americanos.
“Prefiro esperar que Lula observe e, em seu momento, diga o que tem que dizer”, afirmou Maduro.
Durante o evento do Brics, Celso Amorim declarou que considerava a entrada da Venezuela no bloco “inoportuna” e mencionou que “a confiança [com a Venezuela] se quebrou”. Segundo fontes oficiais, a reunião entre o encarregado de negócios brasileiro e autoridades venezuelanas resultou na entrega de uma nota formal de protesto.
Brasil mantém silêncio
Até o momento, o governo brasileiro optou por não responder às declarações e críticas vindas da Venezuela. Fontes diplomáticas afirmaram que “Maduro fala para o público interno”, e que o Brasil não pretende reagir diretamente às provocações. Contudo, o governo Lula considera reavaliar sua postura caso a tensão aumente. Em janeiro de 2025, o Brasil não planeja reconhecer o terceiro mandato de Maduro, que foi declarado vencedor nas eleições de julho sob acusações de fraude e ausência de transparência.
A decisão implica que Maduro não será convidado para eventos no Brasil, e o presidente Lula não incluirá a Venezuela em sua agenda de visitas internacionais. Desde a cúpula do Brics, o diálogo entre os dois países foi significativamente reduzido. Segundo fontes brasileiras, “a sensibilidade de Lula em relação à Venezuela não é mais a mesma”, refletindo o aprofundamento da crise entre os governos.
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