O fator “nojento” de fazer um transplante de cocô não incomoda muitos os pacientes que estão aflitos para sanar suas opressões dolorosas decorrentes da saúde intestinal.
Transplante de microbiota fecal é o nome oficial do tratamento, que envolve selecionar cocô de uma fonte “saudável” e transplantá-lo para o cólon de alguém com uma doença intestinal. Podemos fazer isso por meio de cápsulas ou procedimentos mais invasivos, como a colonoscopia.
A ideia é que, ao transplantar cocô saudável para um intestino não saudável, podemos aliviar certas doenças, mas até agora, nossas esperanças estão à frente dos dados.
Recentemente, assisti um documentário da Netflix “Hack Your Health: The Secrets of Your Gut”, no qual uma mulher com sintomas intestinais crônicos faz suas próprias pílulas de cocô. No filme, ela afirma que coletou amostras do namorado e do irmão.
Minha opinião: não tente fazer isso em casa!
O efeito colateral mais comum após transplantes fecais é o desconforto abdominal, ocorrendo em 13 a 30% dos pacientes, no entanto, complicações sérias não são raras: uma revisão publicada na PLOS One mostrou que a morte ocorreu em 3,5% e infecção em 2,5% dos pacientes – embora, para ser claro, a maioria desses eventos não foi considerada relacionada ao tratamento em si e provavelmente porque as pessoas incluídas nesses ensaios estavam muito doentes para participar das pesquisas.
Clique aqui para acessar o estudo: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27529553/
Distúrbios gastrointestinais crônicos, como síndrome do intestino irritável e dispepsia funcional, podem afetar drasticamente a capacidade de viver a vida, aproveitar a comida e evacuar confortavelmente. A necessidade de melhores tratamentos é tão extrema que existem indivíduos dispostos a correr riscos desnecessários e voar às cegas com transplantes fecais na crença equivocada de que serão curados. Mas mesmo um pequeno risco de óbito ou infecção grave é razão suficiente para que nenhum de nós tente isso por conta própria.
Até agora, os dados sobre transplantes fecais têm sido consistentemente fortes para apenas uma condição: certos casos de uma infecção intestinal rara, mas muito importante, chamada Clostridium difficile.
De outra parte, pesquisas estão em andamento para verificar se os transplantes fecais podem auxiliar no tratamento de condições como doença inflamatória intestinal, depressão, obesidade e muito mais.
Em um estudo seminal publicado no periódico Nature, pesquisadores transplantaram o microbioma intestinal de camundongos obesos e magros para grupos saudáveis que tinham uma dieta normal. Quando os animais saudáveis receberam um transplante fecal de um obeso, eles rapidamente ganharam mais gordura corporal do que aqueles que receberam transplantes de um doador magro. As descobertas sugerem que há uma forte conexão entre a saúde intestinal e a obesidade.
Clique aqui para acessar o estudo: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17183312/
O microbioma – isto é, a coleção de informações genômicas relacionadas aos trilhões de micróbios que habitam nossos intestinos – é uma área de pesquisa alvissareira. Estudos nos deram pistas sobre o quão crítico é o papel que ele desempenha nas doenças e na saúde humanas, incluindo no metabolismo, na doença de Parkinson, na ansiedade e no câncer colorretal.
Mas ainda há muito que não sabemos sobre os riscos de longo prazo do transporte de amostras de um microbioma para outro.
De certa forma, o microbioma humano é como um jardim, onde a luz solar, a sombra, a água e os nutrientes do solo afetam se você prosperará ervas daninhas ou belas flores.
À medida que os alimentos descem pelo seu trato gastrointestinal, diferentes bactérias processam as sobras e criam subprodutos variados. Estes variam dependendo do que comemos, dando a você ervas daninhas ou flores. E eles podem ter um grande impacto em nossa saúde.
Por exemplo, os ácidos graxos de cadeia curta são um exemplo bem conhecido de um desses subprodutos bacterianos benéficos envolvidos em nosso metabolismo e sistema imunológico. Eles são produzidos com mais frequência por bactérias encontradas entre pessoas que comem uma dieta rica em fibras, vegetais e peixes.
Sabemos que o microbioma é frequentemente alterado em distúrbios como a síndrome do intestino irritável – e a diversidade microbiana reduzida está associada a sintomas intestinais agravados. Entretanto, uma meta-análise de 2019 de vários ensaios clínicos randomizados não mostrou benefícios do transplante fecal para esses pacientes.
Clique aqui para acessar o estudo: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30908299/
Um dos motivos é que não há uma única anormalidade microbiana presente em todos os portadores de síndrome do intestino irritável. Segundo, ainda estamos aprendendo quais papéis cada uma das espécies microbianas desempenha em nossos corpos e como elas interagem com as influências hormonais, alimentares e neuronais específicas dentro de cada hospedeiro único.
Resumindo, ainda não temos certeza de qual combinação de condições ambientais, incluindo os micróbios, dará ervas daninhas ou flores a qualquer indivíduo. As bactérias que podemos pensar que são “saudáveis” podem ser típicas apenas para certas populações, e as que cremos como “não saudáveis” podem não ser tão prejudicial em outras.
Embora o transplante fecal possa não ser a resposta hoje, está claro que a maioria de nós precisa fazer algo para impulsionar nosso microbioma. O que eu recomendo primeiro é comer mais alimentos ricos em fibras, sobretudo as solúveis – encontradas prioritariamente nas frutas. Uma alternativa, utilizar um suplemento diário de Psyliun. Essas duas recomendações não só são apoiadas por dados rigorosos, mas também não têm praticamente nenhum risco.
Nosso microbioma ama fibras! Mas é provável que você seja como a grande maioria que não está consumindo as quantidades necessárias. Recomenda-se que as mulheres consumam 25 g e os homens cerca de 38 g de fibras diariamente.
Um estudo intrigante publicado na Nature, em 2016, mostrou que, com cada geração consumindo sucessiva e progressivamente uma dieta pobre em fibras, a microbiota intestinal se transformou. Eventualmente, as gerações subsequentes perderam enormes grupos de micróbios que não puderam ser totalmente recuperados, mesmo quando mudaram sua dieta para ingerir consistentemente alto teor de fibras.
Clique aqui para acessar o estudo: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4850918/
Comer alimentos integrais e reduzir itens ultraprocessados deve ser o objetivo de todos nós – e adotar a dieta mediterrânea é um lugar perfeito para começar.
Conforme retrocitado, o Psyliun também pode ajudar. É uma fibra solúvel feita da casca de sementes que pode aumentar a produção de ácidos graxos de cadeia curta. O Psyliun também é um metamorfo que responde em tempo real às necessidades intestinais: ele fornece volume às fezes quando você tem diarreia, mas também pode reter água, o que amolece seu cocô quando você está constipado. Por essas razões, é ótimo para sintomas que oscilam desde síndrome do intestino irritável até incontinência fecal.
Em geral, meus pacientes consideram o pó mais fácil de ajustar em uma dose que funcione para eles. Eu geralmente oriento de 10 g até 30 g por dia, divididos entre uma dose matinal e noturna. Comece com uma dose baixa e aumente conforme necessário.
Hoje, não há como compreender a conexão cérebro-intestino sem pensar no microbioma. Se você sofre de problemas gastrointestinais crônicos, pode se beneficiar de consultar um nutricionista com formação em motilidade intestinal. Seu trabalho se concentra no eixo cérebro-intestino-microbioma, e será provável que sugira tratamentos que outros profissionais ainda não consideraram devido à especialização do campo de atuação.
Informação é prevenção. Você tem alguma dúvida sobre saúde, alimentação e nutrição? Envie um e-mail para dr.clayton@metafisicos.com.br e poderei responder sua pergunta futuramente. Nenhum conteúdo desta coluna, independentemente da data, deve ser usado como substituto de uma consulta com um profissional de saúde qualificado e devidamente registrado no seu Conselho de Categoria correspondente.
Clayton Camargos é sanitarista pós-graduado pela Escola Nacional de Saúde Pública – ENSP/Fiocruz. Desde 2002, ex-gerente da Central Nacional de Regulação de Alta Complexidade (CNRAC) do Ministério da Saúde. Subsecretário de Planejamento em Saúde (SUPLAN) da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF). Consultor técnico para Coordenação-Geral de Fomento à Pesquisa Em Saúde da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE) do Ministério da Saúde. Coordenador Nacional de Promoção da Saúde (COPROM) da Diretoria de Serviços (DISER) da Fundação de Seguridade Social. Docente das graduações de Medicina, Nutrição e Educação Física, e coordenador dos estágios supervisionados em nutrição clínica e em nutrição esportiva do Departamento de Nutrição, e diretor do curso sequencial de Vigilância Sanitária da Universidade Católica de Brasília (UCB). Atualmente é proprietário da clínica Metafísicos.
CRN-1 2970.
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