Fechado há nove anos, o Hotel Saint Peter está em obras para retomar suas atividades. Ainda sem previsão de reinauguração, o estabelecimento recebia materiais e equipamentos pela entrada principal – voltada para o prédio dos Correios, com uma via pública para acesso.
Mas, no último domingo (21), a via simplesmente desapareceu. Ela foi ocupada pela cerca metálica do canteiro vizinho, no lote 4 da quadra 2 do Setor Hoteleiro Sul (SHS). Sem placa que identifica os responsáveis pela obra ou o tipo de estabelecimento a ser erguido, o bloqueio não só tirou o acesso ao Saint Peter, mas acabou com vagas usadas por motoristas que trabalham nas cercanias.
Nesta terça-feira (23), dois operários com uniforme da Lotus Cidade – construtora e incorporadora que começou suas atividades em Brasília no ano de 2018 – trabalhavam na construção de um acesso improvisado. O local tem entrada estreita e acaba na escada do Saint Peter. A tarefa de chegar à via perpendicular é impossível, já que cercas metálicas interditaram o outro lado.
A reportagem do GPS Brasília flagrou a inusitada situação. Do alto é possível observar o canteiro sem placa, mas com os operários vestidos com o uniforme da Lotus. Eles trabalham em dois terrenos, um deles ao lado do prédio dos Correios. Várias estruturas de ferro já estão armazenadas no local.
O lote 4 da quadra 2 do SHS permite a construção de hotéis até 17 andares, dois a mais que o Saint Peter. Até aí, tudo bem, pois não há nenhum arremedo ou emenda fantasma no bojo do Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCub) que mexa com o gabarito do terreno . Só que, com a ocupação da rua, a circulação ficou complicada e as vagas naquele trecho desapareceram, lotando os já sobrecarregados espaços do SHS e do Setor Comercial Sul (SCS).
Lotus confirma que é dona da obra
A reportagem procurou a Lotus.
Em nota, a construtora confirmou que a obra a ser realizada é dela e “está devidamente licenciada, atendendendo a todas as conformidades legais”
, conforme o alvará de construção 477/2024, para a Prestação de Serviços/Hotel.
Segundo a empresa, “a instalação do canteiro de obras e demais intervenções foram todas aprovadas pelos órgãos responsáveis, Seduh (Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação do DF), Detran-DF e DF Legal”, citando os processos 00390-00001173/2024-66 (canteiro de obras) e 00390-00004571/2022-72 (habilitação do projeto), o que se estenderia às vias e ao lote vizinho dos Correios.
A empresa informa ainda que “a implantação da via de acesso alternativo provisória já foi finalizada e não há impedimento de acesso ao Hotel Saint Peter, pois, além desta citada, há outro acesso na parte posterior do hotel, que permite o fluxo de veículos, inclusive caminhões” . No entanto, a reportagem do GPS Brasília, em visita ao local, não constatou a existência este acesso ao Saint Peter.
Sobre a falta da placa de identificação do empreendimento, a Lotus informa que ela “está em fase de produção e será instalada amanhã (quarta-feira, 24)” .
Um hotel com muitas histórias
Com a portaria bloqueada pela obra vizinha, o Saint Peter encara mais uma polêmica em sua história. Em 2014, um hóspede sequestrou o mensageiro José Aírton de Sousa, 50 anos. Supostamente armado com uma pistola e um colete repleto de dinamite, ele prometia explodir o hotel e o funcionário, apresentando uma série de exigências sem sentido.
Mas tudo era um blefe.
O sequestrador Jac Sousa dos Santos, 30 anos, ex-secretário de Agricultura e Juventude do município de Combinado (TO), estava com uma pistola de brinquedo e o colete com bananas de dinamite não tinha explosivos. Era um simulacro com uma placa de computador, canos de PVC e fios. Após sete horas de negociações, Jac se entregou.
Em março de 2015, o Saint Peter foi fechado devido a uma ordem de despejo expedida pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT). Na ocasião os administradores tiveram de recorrer aos estabelecimentos vizinhos para abrigar quem estava hospedado no local. Meses depois, o Saint Peter foi invadido por 450 famílias ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, que ocuparam sete andares. Após negociações com o GDF, todos deixaram o local.
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