Trajetória de mais de quatro décadas e desempenho na Bradesco Seguros potencializaram o cartaz de Trabuco. Sua gestão tem se notabilizado pelo crescimento orgânico
Para muitos, Luiz Carlos Trabuco Cappi é mais do que um executivo; é integrante de uma mítica dinastia. Nos 70 anos de história do Bradesco, Trabuco é apenas o quarto homem a ocupar a presidência da instituição – linhagem iniciada pelo legendário Amador Aguiar. Desde 2009 em um cargo que é sinônimo incontestável de poder, tem a responsabilidade de comandar uma das maiores instituições financeiras da América Latina, com quase R$ 900 bilhões em ativos e aproximadamente 27 milhões de correntistas.
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Nascido em Marília – também a terra natal de Amador Aguiar –, Luiz Carlos Trabuco personifica uma espécie de jeito Bradesco de ser, com uma trajetória e estilo praticamente comum a todos os principais dirigentes do grupo. Formado pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Paulo, com Pós-Graduação em Sócio-Psicologia na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Trabuco começou a trabalhar no banco em 1969, aos 18 anos de idade. Nas quatro décadas entre a sua chegada e a indicação à presidência, passou pelos mais diversos cargos. Em 1984, foi nomeado diretor departamental. Em 1998, tornou-se diretor executivo gerente. Um ano depois, era alçado à posição de diretor vice-presidente executivo. Em março de 2003, assumiu a direção da Bradesco Seguros, cargo no qual permaneceu até ser designado para a presidência do banco.
Na gestão de Trabuco, a Bradesco Seguros alcançou um patamar ainda mais alto. Em seis anos, a companhia mais do que duplicou seu tamanho, passando de R$ 32 bilhões de ativos em 2003 para R$ 78 bilhões no exercício de 2008. Já no primeiro ano completo da administração de Trabuco, a rentabilidade sobre patrimônio passou de 22% para 29% – ao longo do seu mandato, esta taxa nunca ficou abaixo dos 27%. A participação da Bradesco Seguros no resultado do grupo passou de 26% para 35%.
O desempenho da Bradesco Seguros potencializou o cartaz de Luiz Carlos Trabuco junto aos integrantes do conclave que elegeria o substituto de Marcio Cypriano. A responsabilidade era enorme, tanto para o eleito quanto para os eleitores. Sucessor de um dos mais respeitados banqueiros do país, Lázaro Brandão – que, depois de 18 anos, deixou a direção executiva do banco em 1999 –, Cypriano havia conduzido um dos maiores ciclos de expansão do Bradesco, por meio de sucessivas aquisições. Entre 2001 e 2004, a instituição fisgou o Banco Cidade, os Bancos do Maranhão e do Ceará, as financeiras Finasa e Zogbi, o braço de gestão de recursos do JP Morgan no país, além de todas as operações do Deutsche Bank e o BBVA no mercado brasileiro. Ou seja: o legatário de Cypriano teria pela frente a missão de levar adiante o processo de harmonização de diferentes culturas e idiomas bancários.
Durante o processo de sucessão, outros nomes foram cotados, como os do então vice-presidentes José Luiz Acar Pedro e Milton Vargas. Certamente, o fato de simbolizar a cultura Bradesco, com a sua trajetória de mais de quatro décadas na casa bancária, foi um dos passaportes que valeram a Trabuco o desembarque na presidência da instituição.
Crescimento orgânico
Depois desta longa temporada de aquisições, a gestão de Luiz Carlos Trabuco tem se notabilizado pelo crescimento orgânico. Encerrado o ciclo de expansão geográfica, o executivo assumiu o desafio de iniciar o ciclo de inclusão bancária, leia-se a busca da parcela da população à margem do sistema financeiro. Desde 2009, o banco passou de 20 milhões para 27 milhões de correntistas. Nos períodos de pico, são seis mil novas contas por dia. No mesmo período, o número de cadernetas de poupança saiu de 377 milhões para quase 50 milhões. Trabuco tem conduzido também o aumento da rede de atendimento. Em quatro anos, a instituição passou de 3,5 mil para quase cinco mil agências.
Neste sentido, Trabuco acompanha de perto cada novo indicador, cada dado sobre a mobilidade social brasileira. O próprio executivo já declarou a expectativa de que cem milhões de pessoas entrem no mercado de consumo até 2025. Sempre que cita o número, Trabuco tem a conta na ponta da língua. Significa dizer que o Bradesco, dono de um quinto do mercado bancário, vislumbra um potencial de 20 milhões de novos clientes a cruzarem as portas giratórias de suas agências.
As circunstâncias só reforçam a percepção de que Trabuco é o homem certo no lugar certo. O executivo é conhecido por sua forte atuação na área comercial. Sua passagem pela Bradesco Seguros apenas confirmou a vocação de “vendedor”, a mesma característica marcante que o acompanhou em alguns de suas principais missões no grupo. Trabuco desenvolveu a área de previdência privada, foi o diretor financeiro responsável pela emissão de ADRS na Bolsa de Nova York, e cuidou do marketing. Neste caso, o executivo assinou algumas das maiores ações já realizadas por todo o grupo, a mais notória delas a criação da já tradicional árvore de Natal da Lagoa, no Rio de Janeiro. Aliás, quando assumiu a presidência da Bradesco Seguros, Trabuco recebeu a incumbência de mudar a sede do Rio para São Paulo. Em poucos meses, convenceu seus pares de que a empresa deveria ficar onde estava, notadamente por razões econômicas.
Perfil discreto
Trabuco encarna o espírito Bradesco. Começou no banco como escriturário – aos 22, Amador Aguiar era contínuo de uma agência do Banco Noroeste em Birigui (SP); aos 16, Lázaro Brandão ocupava a mesma função na Casa Bancaria Almeida & Cia., que daria origem ao Bradesco. Costuma passar mais de 12 horas do seu dia no banco. É incapaz de qualquer declaração enviesada. É também absolutamente discreto e contido nos atos e gestos e não exibe qualquer sinal de ostentação – Amador Aguiar fazia questão de dirigir o próprio carro, um Fusca. Trabuco segue com rigor a liturgia do cargo.
Bem ao estilo da cultura Bradesco, Luiz Carlos Trabuco dá especial atenção às mais tradicionais e básicas práticas do atendimento bancário, ainda que diretamente, estas atividades não se revertam em rentabilidade. Ele costuma dizer que um dos desafios de uma instituição financeira é conhecer as pessoas de perto, seus valores, interesses, anseios, ainda que a prestação de serviços seja visto pelo setor como algo secundário, sem glamour. Mais uma vez, surge à lembrança Amador Aguiar, que costumava cumprimentar os clientes na agência e sabatiná-los sobre a qualidade do atendimento do banco.
Luiz Carlos Trabuco não toca no assunto. O Bradesco, muito menos. Mas até os escriturários da Cidade de Deus – entre eles, pode estar perfeitamente o presidente do banco em 2040 – sabem qual é a grande meta do executivo. Nada teria um sabor mais especial do que recuperar o posto de maior banco privado brasileiro, hoje pertencente ao Itaú. A disputa está no photochart. O Bradesco fechou o primeiro semestre com R$ 896 bilhões em ativos, o banco dos Setúbal, com R$ 1,06 trilhão.
Como não poderia deixar de ser, o presidente de um dos maiores bancos privados da América Latina tem uma relação de proximidade com a presidente Dilma Rousseff. No entanto, a interlocução permanente não se deve apenas à força do cargo. Os assessores mais próximos de Dilma são testemunhas do respeito e admiração que ela nutre pelo executivo, a quem ouve constantemente. Este encantamento subiu mais alguns degraus recentemente, quando Trabuco veio a público anunciar a concessão de crédito de longo prazo a empresas que investirem na construção de estradas no país. Certamente, a rodovia entre o presidente do Bradesco e o Planalto ficou ainda mais curta.
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Nascido em Marília – também a terra natal de Amador Aguiar –, Luiz Carlos Trabuco personifica uma espécie de jeito Bradesco de ser, com uma trajetória e estilo praticamente comum a todos os principais dirigentes do grupo. Formado pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Paulo, com Pós-Graduação em Sócio-Psicologia na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Trabuco começou a trabalhar no banco em 1969, aos 18 anos de idade. Nas quatro décadas entre a sua chegada e a indicação à presidência, passou pelos mais diversos cargos. Em 1984, foi nomeado diretor departamental. Em 1998, tornou-se diretor executivo gerente. Um ano depois, era alçado à posição de diretor vice-presidente executivo. Em março de 2003, assumiu a direção da Bradesco Seguros, cargo no qual permaneceu até ser designado para a presidência do banco.
Na gestão de Trabuco, a Bradesco Seguros alcançou um patamar ainda mais alto. Em seis anos, a companhia mais do que duplicou seu tamanho, passando de R$ 32 bilhões de ativos em 2003 para R$ 78 bilhões no exercício de 2008. Já no primeiro ano completo da administração de Trabuco, a rentabilidade sobre patrimônio passou de 22% para 29% – ao longo do seu mandato, esta taxa nunca ficou abaixo dos 27%. A participação da Bradesco Seguros no resultado do grupo passou de 26% para 35%.
O desempenho da Bradesco Seguros potencializou o cartaz de Luiz Carlos Trabuco junto aos integrantes do conclave que elegeria o substituto de Marcio Cypriano. A responsabilidade era enorme, tanto para o eleito quanto para os eleitores. Sucessor de um dos mais respeitados banqueiros do país, Lázaro Brandão – que, depois de 18 anos, deixou a direção executiva do banco em 1999 –, Cypriano havia conduzido um dos maiores ciclos de expansão do Bradesco, por meio de sucessivas aquisições. Entre 2001 e 2004, a instituição fisgou o Banco Cidade, os Bancos do Maranhão e do Ceará, as financeiras Finasa e Zogbi, o braço de gestão de recursos do JP Morgan no país, além de todas as operações do Deutsche Bank e o BBVA no mercado brasileiro. Ou seja: o legatário de Cypriano teria pela frente a missão de levar adiante o processo de harmonização de diferentes culturas e idiomas bancários.
Durante o processo de sucessão, outros nomes foram cotados, como os do então vice-presidentes José Luiz Acar Pedro e Milton Vargas. Certamente, o fato de simbolizar a cultura Bradesco, com a sua trajetória de mais de quatro décadas na casa bancária, foi um dos passaportes que valeram a Trabuco o desembarque na presidência da instituição.
Crescimento orgânico
Depois desta longa temporada de aquisições, a gestão de Luiz Carlos Trabuco tem se notabilizado pelo crescimento orgânico. Encerrado o ciclo de expansão geográfica, o executivo assumiu o desafio de iniciar o ciclo de inclusão bancária, leia-se a busca da parcela da população à margem do sistema financeiro. Desde 2009, o banco passou de 20 milhões para 27 milhões de correntistas. Nos períodos de pico, são seis mil novas contas por dia. No mesmo período, o número de cadernetas de poupança saiu de 377 milhões para quase 50 milhões. Trabuco tem conduzido também o aumento da rede de atendimento. Em quatro anos, a instituição passou de 3,5 mil para quase cinco mil agências.
Neste sentido, Trabuco acompanha de perto cada novo indicador, cada dado sobre a mobilidade social brasileira. O próprio executivo já declarou a expectativa de que cem milhões de pessoas entrem no mercado de consumo até 2025. Sempre que cita o número, Trabuco tem a conta na ponta da língua. Significa dizer que o Bradesco, dono de um quinto do mercado bancário, vislumbra um potencial de 20 milhões de novos clientes a cruzarem as portas giratórias de suas agências.
As circunstâncias só reforçam a percepção de que Trabuco é o homem certo no lugar certo. O executivo é conhecido por sua forte atuação na área comercial. Sua passagem pela Bradesco Seguros apenas confirmou a vocação de “vendedor”, a mesma característica marcante que o acompanhou em alguns de suas principais missões no grupo. Trabuco desenvolveu a área de previdência privada, foi o diretor financeiro responsável pela emissão de ADRS na Bolsa de Nova York, e cuidou do marketing. Neste caso, o executivo assinou algumas das maiores ações já realizadas por todo o grupo, a mais notória delas a criação da já tradicional árvore de Natal da Lagoa, no Rio de Janeiro. Aliás, quando assumiu a presidência da Bradesco Seguros, Trabuco recebeu a incumbência de mudar a sede do Rio para São Paulo. Em poucos meses, convenceu seus pares de que a empresa deveria ficar onde estava, notadamente por razões econômicas.
Perfil discreto
Trabuco encarna o espírito Bradesco. Começou no banco como escriturário – aos 22, Amador Aguiar era contínuo de uma agência do Banco Noroeste em Birigui (SP); aos 16, Lázaro Brandão ocupava a mesma função na Casa Bancaria Almeida & Cia., que daria origem ao Bradesco. Costuma passar mais de 12 horas do seu dia no banco. É incapaz de qualquer declaração enviesada. É também absolutamente discreto e contido nos atos e gestos e não exibe qualquer sinal de ostentação – Amador Aguiar fazia questão de dirigir o próprio carro, um Fusca. Trabuco segue com rigor a liturgia do cargo.
Bem ao estilo da cultura Bradesco, Luiz Carlos Trabuco dá especial atenção às mais tradicionais e básicas práticas do atendimento bancário, ainda que diretamente, estas atividades não se revertam em rentabilidade. Ele costuma dizer que um dos desafios de uma instituição financeira é conhecer as pessoas de perto, seus valores, interesses, anseios, ainda que a prestação de serviços seja visto pelo setor como algo secundário, sem glamour. Mais uma vez, surge à lembrança Amador Aguiar, que costumava cumprimentar os clientes na agência e sabatiná-los sobre a qualidade do atendimento do banco.
Luiz Carlos Trabuco não toca no assunto. O Bradesco, muito menos. Mas até os escriturários da Cidade de Deus – entre eles, pode estar perfeitamente o presidente do banco em 2040 – sabem qual é a grande meta do executivo. Nada teria um sabor mais especial do que recuperar o posto de maior banco privado brasileiro, hoje pertencente ao Itaú. A disputa está no photochart. O Bradesco fechou o primeiro semestre com R$ 896 bilhões em ativos, o banco dos Setúbal, com R$ 1,06 trilhão.
Como não poderia deixar de ser, o presidente de um dos maiores bancos privados da América Latina tem uma relação de proximidade com a presidente Dilma Rousseff. No entanto, a interlocução permanente não se deve apenas à força do cargo. Os assessores mais próximos de Dilma são testemunhas do respeito e admiração que ela nutre pelo executivo, a quem ouve constantemente. Este encantamento subiu mais alguns degraus recentemente, quando Trabuco veio a público anunciar a concessão de crédito de longo prazo a empresas que investirem na construção de estradas no país. Certamente, a rodovia entre o presidente do Bradesco e o Planalto ficou ainda mais curta.