Em dia de preocupação sobre programa nuclear e condenação a americano, líderes brincam que combustível de eventual bomba dos dois países seria 'amor'
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, defendeu nesta segunda-feira o líder do Irã, Mahmud Ahmadinejad, seu aliado próximo, em meio ao aumento das tensões com os EUA por causa do programa nuclear iraniano e de uma sentença de morte contra um americano condenado sob acusação de trabalhar para a CIA (Agência de Inteligência dos EUA).
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Nesta segunda-feira, diplomatas e a Agência Internacional de Energia Atômica confirmaram um relatório de que o Irã começou a enriquecer urânio em um bunker subterrâneo na instalação de Fordo , perto da cidade sagrada xiita de Qom, uma medida que aumenta os temores entre as autoridades americanas e europeias sobre as ambições nucleares do Irã.
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A visita acontece depois de os EUA terem imposto sanções mais duras contra o Irã por seu programa atômico, que Washington acredita ter objetivos militares. Chávez e seus aliados defendem o Irã com o argumento de que o programa tem apenas propósitos pacíficos.
Ambos líderes brincaram com a ideia de que sua relação possa ser motivo de preocupação. Ahmadinejad disse que se estivessem construindo juntos qualquer coisa como uma bomba, "o combustível dessa bomba é o amor".
"Sempre estaremos juntos", disse Ahmadinejad por meio de um intérprete. Sorrindo enquanto colocava sua mão no braço de Chávez, o líder iraniano chamou o presidente venezuelano de "campeão no combate ao imperialismo".
O Irã encontra-se cada vez mais sob uma pressão crescente no impasse sobre seu programa nuclear e, em resposta às últimas sanções americanas, ameaçou bloquear o Estreito de Ormuz , uma importante rota marítima para os carregamentos de petróleo.
O confronto de longa data de Chávez com Washington também parece pronto para aumentar depois que o Departamento de Estado dos EUA anunciou, poucas horas antes da chegada de Ahmadinejad , que estava expulsando a cônsul-geral da Venezuela em Miami , Livia Acosta Noguera, por alegações de que ela discutiu um possível ciberataque contra o governo americano.
Aliviar a pressão
Segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil, o objetivo do giro latino-americano de Ahmadinejad é "aliviar" os efeitos das sanções econômicas ocidentais sobre o país e evitar um isolamento internacional ainda maior.
Para Mahjoob Zweiri, especialista em Oriente Médio e Irã da Universidade do Catar, a viagem é "essencialmente uma tentativa de mostrar aos iranianos que o país não está isolado e possui amigos dentro da comunidade internacional".
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"As exportações diminuíram, a inflação aumenta e a moeda iraniana vem perdendo valor. Medidas econômicas internas se mostraram impopulares, e Ahmadinejad já é vaiado por alguns setores da população. Os iranianos sentem-se mais isolados no mundo do que nunca."
O Brasil não está na agenda de visitas do iraniano . A assessoria de imprensa do Itamaraty afirmou que o governo brasileiro não foi procurado por Teerã para agendar a visita, mas que as relações entre os dois países seguem normais. Segundo a mídia estatal iraniana, o objetivo da viagem é "fortalecer os laços com os países latinos que mantêm um discurso hostil em relação aos EUA".
Negócios e amigos
De acordo com Amani Maged, analista político e colunista do semanário egípcio Al-Ahram, o Irã precisa incrementar desesperadamente seu fluxo de negócios estrangeiros e mostrar à sua população que as sanções e isolamento internacionais não afetarão a insistência do país em seu programa nuclear. "A América Latina é um dos continentes onde o Irã ainda tem amigos e governos abertos a negócios", disse.
Em seu giro latino-americano, o presidente do Irã está acompanhado por uma comitiva de cerca de cem empresários, além dos ministros de Relações Exteriores, da Economia, da Indústria, Comércio e Minas e o de Energia.
Para o egípcio Amani Maged, a estratégia diplomática iraniana não pode ser subestimada. "Laços com países latino-americanos também servem para seus interesses diplomáticos."
"Países latino-americanos se tornam ocasionalmente membros não-permanentes do Conselho de Segurança da ONU, onde (são votadas) muitas das sanções impostas ao Irã. Cortejar amigos na América Latina com certeza é bom para os negócios, sejam eles comerciais ou diplomáticos", disse.
*Com AP e BBC