Tamanho do texto

Veteranos acreditam que as constantes gafes, distorções e pausas silenciosas constrangedoras possam manchar reputação do partido

Os candidatos presidenciais republicanos têm servido um prato cheio aos comediantes esse ano – uma dieta constante de gafes, distorções, confusões e pausas silenciosas, longas e estranhas. A um grau notável, os candidatos têm usado esses momentos de estranheza em sua vantagem, afirmando que eles demonstram uma autenticidade diferente do profissionalismo manchado dos políticos em Washington.

Veja o vídeo: Rick Perry gagueja e dá vexame em debate na TV

Rick Perry abaixa a cabeça durante uma oração em uma escola de Tiffin, Iowa, visitada por ele durante a campanha (8/10)
NYT
Rick Perry abaixa a cabeça durante uma oração em uma escola de Tiffin, Iowa, visitada por ele durante a campanha (8/10)

Mas os momentos embaraçosos estão se acumulando e alguns republicanos veteranos estão começando a se perguntar se o efeito cumulativo enfraquece a marca do partido, especialmente na política externa e na segurança nacional, onde os republicanos têm tipicamente dominado.

"Parece uma batalha de comida", disse Kenneth Duberstein, chefe de gabinete do presidente Ronald Reagan. "Honestamente, os debates republicanos se tornaram um reality show. As pessoas têm que ser percebidas como sendo capazes de governar este país, de liderar o mundo livre."

Mesmo antes de seu momento "oops" em um dos debates na semana passada, o governador Rick Perry do Texas tropeçou em uma resposta sobre o Paquistão e as armas nucleares. A representante Michele Bachmann , de Minnesota, cometeu uma série de gafes históricas. E depois de dizer equivocadamente que a China não tem armas nucleares, na segunda-feira Herman Cain dolorosamente respondeu a uma pergunta sobre a Líbia em que quase reconheceu ter pouco conhecimento sobre as ações militares que aconteceram no país.

O senador Lindsey Graham, republicano da Carolina do Norte, disse estar confiante de que algum candidato irá melhorar, ao invés de diminuir, a reputação de seriedade do partido. Mas ele reconheceu que nem todos os candidatos demonstraram essa qualidade.

"Ninguém espera que uma pessoa que não tenha sido comandante-chefe antes saiba de tudo sobre todos os assuntos. Mas a Líbia? O Irã?", perguntou Graham. "Eu acho que é justo pedir que os nossos candidatos saibam o mínimo para nos deixar seguros."

Na terça-feira, Cain se recusou a se desculpar por sua resposta sobre a Líbia, dizendo que aquela tinha sido meramente: "uma pausa para reunir os meus pensamentos". Ele acrescentou: "Antes de responder, eu reúno meus pensamentos. Isso foi tudo o que eu fiz”. Perry disse no fim de semana que "eu sou o primeiro a admitir que eu não sou o candidato mais polido na disputa ".

Candidatos como Cain e Perry abraçam o seu status "novato" enquanto procuram aproveitar a energia anti-estabelecimento do movimento Tea Party. Seu objetivo político é apelar para os eleitores que rejeitam os políticos de Washington, com seu estilo e respostas prontas.

Mas os erros sob os holofotes são as desvantagens dessa estratégia. O que para um eleitor Tea Party parece como uma conversa sem retoques e autêntica faz com que membros de longa data do estabelecimento republicano se retraiam.

"É senso comum", disse C. Boyden Gray, um conselheiro da Casa Branca para o presidente George Bush pai (1989 - 1993). "As pessoas estão aceitando tudo isso com calma, mas em algum momento as coisas se acumulam e prejudicam candidatos individuais."

Gray acrescentou: "É um equilíbrio e em algum momento o público entende isso."

Alguns dos momentos mais embaraçosos para os candidatos republicanos foram os pessoais. O “congelamento cerebral” de 53 segundos de Perry ao vivo na televisão pode ter prejudicado seriamente a sua campanha, mas, provavelmente, fez pouco dano à reputação do partido, segundo os republicanos.

"Problemas e ideologia transferem do partido ao candidato e vice-versa, mas momentos pessoais tendem a ficar com o indivíduo", disse Dan Schnur, ex-estrategista de campanha republicana que leciona na Universidade do Sul da Califórnia.

Saiba mais: Na ausência de Sarah Palin, uma nova estrela do Tea Party ascende

E os democratas têm cometido suas próprias gafes, incluindo o presidente Barack Obama , que disse uma vez que tinha visitado 57 Estados americanos.

Mas alguns veteranos de governos republicanos passados disseram que os tropeços dos candidatos em questões de segurança nacional podem ter um impacto mais duradouro sobre como os eleitores percebem o partido.

"Esse é o núcleo da marca republicana. Você mexe com ele e está em perigo", disse Peter Feaver, um oficial de segurança nacional do presidente George W. Bush (2001 - 2009). Ele comparou as gafes de política externa com os relatórios sobre problemas de segurança em veículos Toyota.

"O motivo pelo qual você comprou um Toyota foi para que você não tivesse esses problemas", disse ele. "Isso corta diretamente a essência da marca. Os republicanos devem se preocupar com isso."

George W. Bush enfrentou algumas das mesmas preocupações em seu partido durante sua campanha de 2000, especialmente depois que ele foi incapaz de dizer o nome dos líderes da Chechênia, Taiwan, Índia ou Paquistão. Mas Bush se cercou de veteranos republicanos como conselheiros de política externa, algo que ajudou a tranquilizar os céticos.

Michele Bachamann em frente à casa onde cresceu em Waterloo, Iowa (27/6)
AP
Michele Bachamann em frente à casa onde cresceu em Waterloo, Iowa (27/6)
Peter Wehner, um redator de discursos do ex-presidente George W. Bush, disse que "no curto prazo, pode causar algum dano à chamada marca", mas danos a longo prazo acontecem apenas se o candidato presidencial do partido cometer tais erros.

"O importante é o candidato", disse Wehner. "A preocupação para um republicano é ver muitas declarações como esssas."

Wehner disse que muitos dos candidatos republicanos demonstraram um certo "orgulho por sua ignorância e falta de conhecimento". Mas ele previu que os eleitores não irão recompensar este tipo de recurso nas primárias.

"Há um certo estilo retórico e direto que agrada a algumas pessoas, a sensação de que as pessoas não estão maquiando o que fazem porque são apolíticas", disse ele, acrescentando que "no final do dia a capacidade intelectual e de comando e fluidez da política é que ganha."

A senadora Susan Collins, republicana do Maine, observou que Mitt Romney , Jon M. Huntsman Jr. e Newt Gingrich não cometeram erros substantivos, especialmente em questões de política externa.

"É um dos desafios que alguém que não teve cargos públicos enfrenta aoo lidar com essas questões todos os dias", disse Collins. "Eu posso entender como isso acontece, mas certamente nós esperamos que quem quer que seja o presidente, ele seja capaz de resolver muito bem essas questões”.

Por Michael D. Shear