
Uma fazenda no sul de Essex, no Reino Unido, está no centro de uma investigação que expõe uma possível rede internacional de contrabando de carros roubados. A poucos quilômetros da M25 — estrada que contorna Londres — a Baldwins Farm voltou aos noticiários após ser destaque em um documentário exibido pelo programa Dispatches , exibido pelo Channel 4 , que mostrou elementos e movimentações suspeitas associadas a uma organização criminosa no local.
A Baldwins Farm é um terreno que mistura bangalôs simples, contêineres empilhados e carcaças de veículos desmontados. Segundo reportagem do jornal Daily Mail , o local estaria servindo de ponto de desmanche e envio clandestino de veículos roubados para o Leste Europeu, Oriente Médio e África.
O esquema veio à tona após o rastreamento de um Audi A4 furtado em Londres e localizado semanas depois na cidade lituana de Kaunas. A rota levou os investigadores até a Baldwins Farm, onde, segundo o Dispatches , outros dois veículos com rastreadores também teriam sido levados.
Uma equipe do programa Dispatches filmou a polícia invadindo a propriedade, mas, em vez de encontrar um Audi A4 azul, tudo o que restou do veículo foi um monte de fios. O carro, como muitos roubados nas ruas britânicas, estava destruído. A investigação revelou como gangues organizadas de criminosos roubam milhares de carros todos os anos para depois enviá-los ao exterior como peças destinadas a ferros-velhos.
O ex-policial Neil Thomas, que atua hoje em um serviço privado de recuperação de carros roubados, disse ao jornal que a localização da fazenda — próxima a Londres e aos portos — é estratégica para o tipo de operação que vem sendo denunciada.
Apesar da movimentação criminosa, o acesso à propriedade é restrito, monitorado por câmeras e vigiado de perto por antigos moradores e novos inquilinos.
O terreno onde os carros foram encontrados é alugado por Martin Clark, empresário com histórico de envolvimento em quadrilhas de roubo de veículos e condenado em 2007. Ele foi preso por seis anos por sua participação na organização criminosa que lucrou cerca de 4 milhões de libras esterlinas. À reportagem do Daily Mail , ele se recusou a responder às acusações.
Histórico da fazenda
A Polícia de Essex realizou uma operação na Fazenda Baldwins , em 2020, que recuperou três Range Rovers e um Land Rover Discovery. Além desse, alguns outros veículos já estavam em processo de desmontagem para obtenção de peças, enquanto outros eram apenas carcaças — com o chassi e as rodas praticamente os únicos elementos restantes.
Há muitas empresas legítimas alugando unidades na Baldwins Farm, incluindo empresas de janelas, oficinas mecânicas e uma empresa de cimento administrada pela família Bromley, que possui três bangalôs fechados e é dona de grande parte do terreno. No entanto, há muito tempo o local atrai uma clientela menos íntegra, formada por criminosos, que estão presentes ali há décadas.
Dave McKelvey, aposentado da Polícia Metropolitana, realizou inúmeras prisões no local desde 1989 e disse ao Daily Mail que a fazenda estava há muito tempo ligado a drogas, armas de fogo e veículos roubados. "A Fazenda Baldwins sempre foi um foco de grandes criminosos", afirmou.
A polícia de Essex estava ciente dos acontecimentos suspeitos na Fazenda Baldwins e montou uma investigação secreta de 14 meses que investigou seus proprietários, os Bromleys, e seus associados , que estavam vendendo cocaína e armas de fogo no local e em um bar em South Ockendon.
A matriarca da família, Linda Bromley, chegou a ser condenada por tráfico de drogas, mas escapou da prisão em 2007. Um ano antes, seu marido, David Bromley, e seu filho, Simon Bromley, foram condenados a três e oito anos de prisão, respectivamente, por crimes de fornecimento de cocaína, com este último também condenado por fornecimento de armas de fogo.
A política também chegou a encontrar no local um cultivo significativo de cannabis. Simon admitiu ter praticado crimes de cultivo de cannabis e foi condenado a três anos de prisão.
Nos anos seguintes, a Fazenda Baldwins continuou a interessar as autoridades devido às repetidas alegações de que o local estava sendo usado para esconder carros roubados e queimar resíduos ilegalmente.
Em 2009 e 2010, batidas policiais descobriram carros roubados e evidências de lixo, incluindo aparelhos elétricos, sendo enviados ilegalmente para a África.
Crimes ambientais também foram identificados pelas autoridades. Durante uma operação em outubro de 2016, a polícia, a Agência Ambiental, a HMRC e a polícia de imigração descobriram mais de 900 botijões de gás roubados, avaliados em 50 mil libras. Em julho do ano seguinte, a propriedade recebeu uma multa de 120 mil libras por despejo e armazenamento ilegal de resíduos na fazenda.
Em abril do ano passado, a polícia e autoridades ambientais aplicaram uma "ordem de restrição" para impedir o despejo e a queima ilegal de resíduos na fazenda.
Apesar da longa associação entre a Fazenda Baldwins e o crime organizado, a geração mais jovem de Bromleys, que agora administra o local, insiste que não tem ligação com atividades ilegais.
Jake Bromley e sua irmã Lily Tiger, nomeados diretores da Baldwins Farm Limited em fevereiro deste ano, negam qualquer vínculo com criminosos. Eles dizem tentar reabilitar a imagem da propriedade e se distanciar do passado da família.
"Sou um homem honesto que trabalhou duro a vida toda. Trabalhei como instalador de janelas por mais de dez anos e minha irmã é maquiadora e administra seu negócio aqui", disse Bromley ao jornal. "Minha irmã e eu somos jovens. O que aconteceu anos atrás não foi nada bom, mas com o passar do tempo, nós duas temos cabeças fortes", acrescentou.
Sobre Martin Clark, que o Dispatches informou como detentor do contrato de arrendamento do terreno para onde o Audi roubado foi rastreado, Bromley disse que não ter nada a ver com as supostas atividades. "Alugamos o terreno para Martin. Ele tem um contrato até 2026 e depois o revisaremos. Não gostamos da forma como ele administrou as coisas por lá", alegou.
Um amigo da família também insistiu que a geração mais jovem dos Bromleys não tinha conhecimento de nenhuma atividade ilegal. "Ninguém contou a eles sobre o programa de TV. Eles não têm ideia sobre carros roubados, eles [os criminosos] terão que sair do local", disse o amigo, que não foi identificado pelo Daily Mail.
Para autoridades locais, que há décadas enfrentam denúncias sobre o local, a renovação na administração pode ser uma oportunidade rara de romper com esse histórico.