
Celso Amorim, assessor internacional do presidente Lula (PT), tem 83 anos de idade e 63 de carreira diplomática. No período, testemunhou a Guerra do Vietnã, a Guerra dos Seis Dias, a Guerra do Golfo, do Iraque, do Afeganistão, da Síria, da Ucrânia, o 11 de Setembro, a Guerra Fria, o genocídio em Ruanda, a crise dos Mísseis em Cuba.
A lista é extensa.
Mas, segundo o diplomata, nunca estivemos tão perto de um conflito mundial como agora.
“Estamos vivendo um momento perigoso pelas partes envolvidas e perigoso para o mundo, porque há duas guerras com potencial de se alastrarem. Se essas duas guerras se comunicarem, teremos praticamente uma guerra mundial. Não digo uma guerra total, mas uma guerra com grande irradiação negativa, com reflexos na economia, no preço do petróleo” , disse o ex-chanceler em entrevista à CNN.
Amorim se referia aos conflitos que envolvem Israel no Oriente Médio e Irã, agora com participação dos Estados Unidos, e entre Rússia e Ucrânia.
“Nunca vivi um momento tão perigoso. Mesmo na crise dos mísseis de Cuba, havia duas pessoas podendo se comunicar. A URSS tentou um lance atrevido, mas voltou atrás. Agora são muitos atores e muito incontroláveis”, disse.
Um dos fatores que coloca gasolina neste barril é o fato de os alvos recentes serem países islâmicos, que podem mobilizar outros países a partir de uma perspectiva religiosa.
Até pouco tempo, falar em “Terceira Guerra” era papo de alarmista ou tema de filme de zumbis. Um conflito do tipo parecia distante porque os prováveis atores estariam sentados e devidamente contidos diante do Conselho de Segurança da ONU, hoje um escudo violado – como a maioria dos organismos multilaterais, incapazes de frear lideranças nacionalistas que Amorim classifica de “incontroláveis”.
Donald Trump e Benjamin Netanyahu são exemplos. O premiê de Israel faz o que quer há tempos sem demonstrar qualquer temor ao risco de ser julgado por crimes de guerra no Tribunal Penal Internacional.
Neste fim de semana, a chancelaria do Irã descartou qualquer saída diplomática para o conflito iniciado desde que Israel decidiu atacar suas bases nucleares. A saída foi fechada de vez com a entrada dos Estados Unidos no conflito.
A resposta do país persa veio com a ameaça de fechamento do Estreito de Ormuz, por onde passa cerca de 20% do petróleo mundial, e novos ataques. Os mais recentes alvejaram a maior base norte-americana no Oriente Médio, localizada em Al-Udeid, no Qatar.
Tudo isso enquanto Israel lança mísseis contra instalações militares, aeroportos e rotas para usinas nucleares no Irã.
A tensão é tanta que Qatar, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Kuwait decidiram fechar seus espaços aéreos temporariamente. Ninguém se arriscaria, afinal, a voar para um destino turístico enquanto os vizinhos trocam mísseis pelos ares.
Outros atores internacionais acompanham tudo com apreensão.
China e Rússia acionaram as Nações Unidas para exigir um cessar-fogo imediato.
Pequim tem uma razão extra para a pressa. Será um dos principais prejudicados caso o aiatolá Khamenei aprove o fechamento de Ormuz. E também por um freio no comércio internacional que derrube as importações do país mundo afora.
A exigência é clara. Querem logo o fim da guerra. Mesmo que para isso precisem entrar nela.
No caso de Putin, seria uma ofensiva em duas frentes. Um pulo para que os dois conflitos citados por Amorim se comuniquem e detonem de vez o maior conflito que este século ainda não viu.