PF impede entrada de palestino no Brasil por suposta ligação com Hamas

Instituto Brasil-Palestina afirmou que a PF atua "a serviço de governos estrangeiros"

Palestino estava com a família no Aeroporto de Guarulhos desde sexta-feira (21)
Foto: Reprodução
Palestino estava com a família no Aeroporto de Guarulhos desde sexta-feira (21)

A Justiça Federal de São Paulo autorizou a repatriação do palestino Muslim M. A. Abuumar, de 37 anos, no domingo (23). Ele é acusado de suposta ligação com o grupo terrorista Hamas . O homem estava retido no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, com a esposa grávida de sete meses, o filho de seis anos e a sogra.

A família chegou ao aeroporto na última sexta-feira (21) e foi impedida de ingressar no país pela Polícia Federal (PF), devido às informações repassadas pela Embaixada dos Estados Unidos. Eles vieram do Aeroporto Internacional de Kuala Lumpur, na Malásia.

1 /2 Muslim Abuumar tem um visto emitido pelo governo brasileiro. Reprodução: Redes Sociais
2 /2 Ele é diretor do Centro de Pesquisa e Diálogo da Ásia e ativista da causa palestina. Reprodução: Redes Sociais

No último sábado, a equipe jurídica do palestino entrou com um pedido de mandado de segurança na Justiça Federal buscando reverter a decisão da Polícia Federal. Em resposta provisória, o tribunal concedeu um prazo de 24 horas para que a instituição fornecesse esclarecimentos.

No entanto, no domingo, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região acatou os motivos de impedimento, segundo os acordos e convenções internacionais, e autorizou a repatriação. No mesmo dia, a família embarcou em um avião da Qatar Airways, às 20h15, com destino a Doha.

Muslim é o fundador e diretor do Asia Middle East Center (AMEC), uma organização voltada para a pesquisa e análise de sociedades variadas da Ásia e do Oriente Médio. O objetivo principal da instituição é promover o desenvolvimento do conhecimento e aprofundar a compreensão dessas regiões entre intelectuais, acadêmicos e líderes políticos.


Terrorismo

De acordo com a Divisão de Enfrentamento ao Terrorismo da Polícia Federal, eles receberam a informação de que um "operativo" e "membro do gabinete internacional do grupo" Hamas, identificado como Muslim Abuumar, estaria desembarcando no Brasil.

O nome do palestino tem registro no Terrorism Screening Center (Centro de triagem de terrorismo, em português), que é um banco de dados do FBI (Departamento Federal de Investigação dos Estados Unidos), onde há informações sobre pessoas que tem "comprovado envolvimento com terrorismo e sobre pessoas sobre as quais recaem fundadas suspeitas".

Após tomar conhecimento da informação, Abuumar foi incluído no Sistema de Alertas e Restrições da PF como impedido de ingressar no país.

Ao chegar no Brasil, a família afirmou que estava no país para turismo e para visitar o irmão de Abuumar, que mora no país. No entanto, as autoridades entenderam que eles provavelmente iriam fixar residência no país, já que a mulher está na fase final da gravidez e com muitas malas.

O Instituto Brasil-Palestina criticou a repatriação do palestino com base nas informações compartilhadas pelo FBI e afirmou que a PF atua "a serviço de governos estrangeiros". 

"O caso é absurdo em todos os sentidos. Primeiro, e mais importante, porque a Polícia Federal está atuando para aplicar determinação do governo norte-americano no Brasil. A lista do TSC (Terrorism Screening Center) não tem amparo na legislação brasileira. Ao utilizá-la como critério para impedir a entrada de um cidadão palestino no Brasil, e a PF está atuando como sucursal do FBI", diz a nota do instituto publicada nas redes sociais e assinada pelo presidente Ahmed Shehada.

Pronunciamento de Abuumar

Ao ser deportado, o palestino criticou nas redes sociais a decisão da Polícia Federal brasileira, dizendo que foi uma "intervenção sionista".

"Acabo de chegar à minha casa em Kuala Lumpur depois de uma viagem familiar mal sucedida, para visitar o meu irmão no Brasil, que infelizmente foi prejudicada pela intervenção sionista, claramente devido às minhas atividades acadêmicas de apoio à luta palestina", escreveu o palestino no X, nesta terça-feira (25).

"Esta árdua jornada incluiu uma decisão injusta da Polícia Federal de impedir a minha entrada no Brasil, emitida sob as ordens de um país estrangeiro imperialista que patrocina ativamente o genocídio israelense em curso em Gaza.Ao chegar ao Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, na noite de sexta-feira (21 de junho de 2024), vários policiais me abordaram na entrada do aeroporto e me levaram, junto com minha família, para interrogatório", continuou.

Após o interrogatório, Abuumar afirmou que foi informado que ele e a família seriam deportados.

"Rejeitei a ordem de deportação e pedi esclarecimentos sobre o motivo da proibição, principalmente porque possuo um visto válido de entradas múltiplas e já visitei o país anteriormente sem problemas. Além disso, nunca violei nenhuma lei brasileira e sei muito bem que o governo brasileiro não vê a resistência palestina como terrorismo. Nessa altura era muito claro que as ordens vinham de fora do país, de uma potência imperialista estrangeira que tem uma longa e obscura história de intromissão nos assuntos de outros países", disse ele.

"Infelizmente, o meu advogado de defesa não teve tempo suficiente para refutar estas acusações e alegações infundadas, que simplesmente violam a própria Constituição brasileira, que estipula que o Brasil respeita o direito internacional, e a lei brasileira que não vê a resistência palestiniana como terrorismo.Para mim e para os ativistas brasileiros que apoiam os direitos palestinos, a batalha ainda não acabou, e continuaremos a busca legal para anular esta decisão injusta e exigir desculpas e indenizações", finalizou o palestino.

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