O primeiro-ministro do Peru anunciou na terça-feira (5) sua renúncia imediata em meio a um escândalo de suposto tráfico de influência. Alberto Otárola, o braço direito da presidente Dina Boluarte, deixou o cargo 48 horas após revelações de que ofereceu um emprego a uma mulher e depois a assediou por meio de mensagens, perseguindo-a com declarações amorosas.
Com a popularidade da presidente já em baixa, ela optou por não mantê-lo no cargo. Otárola afirmou sua inocência, alegando que tudo não passava de uma conspiração contra ele. Sua renúncia veio após retornar a Lima de uma viagem ao Canadá, onde interrompeu sua participação em uma convenção de mineração.
"O país foi vítima de uma trama, uma conspiração, uma operação midiática planejada durante meses por indivíduos com segundas intenções. Tentaram falsamente fazer a população acreditar que eu interferi na contratação de pessoas pelo Estado, o que é completamente falso", disse Otárola em uma coletiva de imprensa após se encontrar com Boluarte no Palácio.
O ex-premier negou veementemente qualquer envolvimento em corrupção e prometeu cooperar plenamente com as investigações, criticando a forma como os áudios foram editados e apresentados ao público.
Posteriormente, Otárola culpou o ex-presidente Martín Vizcarra pelo áudio divulgado em um programa dominical, onde ele é ouvido pedindo o currículo e chamando de "amor" Yaziré Pinedo Vásquez, uma funcionária do Estado.
"Diga-me, então, amor, para falar. Você sabe que essas coisas são chatas e irritantes, mas você sabe que eu também te amo", teria dito o então premier à jovem de 25 anos.
Vizcarra sucedeu Pedro Pablo Kuczynski no palácio e governou o Peru entre 2018 e 2020, mas sua imagem já estava manchada por escândalos de corrupção, como o "Vacunagate", que revelou o tráfico de vacinas contra a Covid-19 no país.
"Não tenho dúvidas de que Martín Vizcarra está por trás de tudo isso. Ele e sua equipe de corruptos", afirmou com raiva.
Em relação ao áudio, Pinedo reconheceu ter tido um "relacionamento aparentemente amoroso" com Otárola, mas afirmou que a conversa ocorreu em janeiro de 2021, quando Otárola não ocupava cargo público. Ela denunciou Nicanor Boluarte, irmão da presidente, como o responsável pela suposta conspiração, uma acusação que Otárola negou.
No dia anterior à renúncia de Otárola, nove das onze bancadas do Congresso pediram sua saída e um grupo de legisladores apresentou três queixas constitucionais contra ele. Com sua renúncia, a presidente perde seu principal apoiador no governo.
A saída de Otárola foi anunciada pouco antes de uma declaração do chanceler Javier González Olaechea, que indicou uma possível reformulação do gabinete para garantir o apoio do Congresso. Esta declaração foi vista como uma traição pelo premier que está deixando o cargo.
Agora, o governo de Boluarte considera diferentes opções para liderar o novo gabinete, incluindo o ministro das Relações Exteriores e o Ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Eduardo Arana. Este último, no entanto, enfrenta sua própria investigação por suposto tráfico de influência. Otárola, por sua vez, está sujeito a um processo por diversos crimes, incluindo tráfico de influência e corrupção.
A saída de Alberto Otárola foi anunciada horas antes de sua conferência pelo chanceler Javier González Olaechea.
"A única coisa que posso lhes dizer, depois de ter estado com a presidente das sete da manhã até uma da tarde, é que haverá um relançamento das políticas gerais do governo [...] para que a apresentação e o apoio da confiança do próximo gabinete não seja uma formalidade, mas uma segunda chance e um segundo oxigênio com perspectivas para 2024", disse.
A declaração foi vista como uma traição pelo premier que está deixando o cargo:
"Essa mensagem deveria ter sido feita por mim e não por um chanceler mal orientado e tolo."