Palestinos acusam Israel de 'apartheid' na Corte Internacional de Haia

Corte fará análise não vinculante sobre legalidade da ocupação israelense nas terras palestinas. Ministro das Relações Exteriores pediu encerramento imediato

Foto: Reprodução: Flipar
O Tribunal Internacional julga crimes contra a humanidade e fica na cidade de Haia, na Holanda.

Nesta segunda-feira (19), durante audiência na Corte Internacional de Justiça (CJI), o ministro das Relações Exteriores da Palestina, Riyad al-Maliki, pediu para que a ocupação israelense no enclave palestino seja declarada ilegal e encerrada de imediato.

“Durante mais de um século, o direito inalienável do povo palestino à autodeterminação foi negado e violado”, disse Al-Maliki. “A Palestina não era uma terra sem pessoas. Não era, como os líderes israelitas descreveram, um terreno baldio. Havia vida nesta terra", acrescentou.

No tribunal, localizado em Haia, o ministro afirmou que o governo israelense é responsável por décadas de discriminação e apartheid contra o povo palestino, de forma a impor “deslocamentos [forçados], subjugação ou morte”. O governo de Israel nega as acusações.

“A única solução consistente com o direito internacional é que essa ocupação ilegal chegue ao fim imediato, incondicional e total”, concluiu.

Tribunal Penal da ONU analisa ocupação israelense

O julgamento desta segunda marca o início de uma série de audiências históricas, que levam a guerra na Faixa de Gaza para o âmbito jurídico na mais alta instância judicial das Nações Unidas. Até o dia 26 de fevereiro, ministros, diplomatas e advogados de 52 países participam do encontro para defenderem suas posições sobre os 56 anos do conflito israelo-palestino.

Entre os países que estarão presentes nos julgamentos estão os Estados Unidos — principal apoiador de Israel —, China, Rússia, África do Sul e Egito. O país de Benjamin Netanyahu não vai participar, mas enviará declarações por escrito.

O processo não tem relação direta com o caso movido no fim de 2023 pela África do Sul, em que acusou Israel de cometer um genocídio contra o povo palestino. Ainda assim, a ofensiva de Israel contra o Hamas, que teve início em outubro, provavelmente fará parte dos argumentos.

Isso porque a pressão sobre o governo de Benjamin Netanyahu se intensificou nos últimos meses, sendo apontada como 'desproporcional' por diversos líderes, inclusive o presidente Lula (PT). Até o momento, 29.000 palestinos foram mortos, contra 1.200 israelenses.

CIJ não pode obrigar Israel a sair

Mesmo com o seu apelo internacional, o parecer da CIJ não tem poder vinculativo, sendo assim, não estabelece ordens de cunho jurídico para obrigar o povo israelense a deixar os territórios ocupados. Ainda assim, a decisão teria “grande peso e autoridade moral”, disse a corte. A previsão é que o resultado da deliberação seja emitido nos próximos meses.

No entanto, espera-se que a decisão não tenha grande influência sobre a linha de governo israelense, que tende a rejeitar quaisquer opiniões jurídicas que considere contrárias. A acusação movida pela África do Sul, por exemplo, foi chamada de “malévola” e de “distorção da verdade” por representantes de Tel Aviv, apesar das operações militares de Netanyahu terem ceifado, na época, a vida de 23 mil palestinos.

Há também o caso do muro de separação de Israel na Cisjordânia, que a corte determinou, em 2004, que deveria ser derrubado por violar o direito internacional - mas que permanece em pé até hoje.