ONU acusa agentes de Israel de cometerem crime de guerra

Uma ação militar israelense disfarçou agentes de médicos para conseguir entrar em um hospital da Cisjordânia

Os quatro relatores da ONU foram contrários à aplicação do método.
Foto: Reprodução/redes sociais
Os quatro relatores da ONU foram contrários à aplicação do método.

Cinco relatores da Organização das Nações Unidas acusaram militares de Israel de cometerem crime de guerra. Segundo a organização internacional, uma ação militar israelense, que disfarçou agentes de médicos para entrar em um hospital na Cisjordânia , teria resultado em assassinatos extrajudiciais", onde três palestinos foram mortos. 

No comunicado emitido nesta sexta-feira (9), os relatores da ONU informaram que não houve uma  investigação de Israel para punir as ações dos militares, sendo necessário a abertura de inquérito no Tribunal Penal Internacional, em Haia.

Os relatores que assinaram o documento foram: Ben Saul, Tlaleng Mofokeng, Morris Tidball-Binz, Margaret Satterthwaite e Francesca Albanese. No relatório, as mortes teriam ocorrido no momento em que se tinha um aumento no número de assassinatos de palestinos por forças israelenses. As mortes estariam atreladas a uma aparente violação ao direito de vida na Cisjordânia.

O caso em questão aconteceu no dia 29 de janeiro, quando cerca de 10 membros da Agência de Segurança de Israel e policiais entraram disfarçados de médicos, enfermeiras e mulheres civis, no hospital de Ibn Sina, na cidade de Jenin. O momento do ataque foi filmado pelas câmeras de segurança do local.

No documento, os relatores escrevem: "Depois de entrar em uma ala de reabilitação, as forças israelenses mataram a tiros Basel Ayman Al-Ghazawi, um paciente que estava sendo tratado de ferimentos graves causados por um ataque aéreo israelense há três meses, seu irmão, Muhammad Ayman Al-Ghazawi, e outro visitante, Muhammed Walid Jalamna". 

Para os relatores a ONU, "isso inclui outras interferências com estabelecimentos médicos e pessoal protegido pelo direito internacional humanitário".

Segundo Israel, os três homens na realidade estavam envolvidos com grupos armados palestinos de "terrorismo". A afirmação, no entanto, foi rebatida pelos relatores, que afirmaram que "independentemente disso, Israel é sempre obrigado a respeitar a lei internacional de direitos humanos e a lei humanitária internacional".

No território ocupado sob controle israelense, fora das hostilidades ativas, no máximo as forças israelenses poderiam ter o direito de prendê-los ou detê-los. Elas só poderiam usar a força se fosse estritamente necessário para evitar uma ameaça iminente à vida ou ferimentos graves. Em vez disso, Israel optou por assassiná-los, em flagrante violação de seu direito à vida", afirmaram.

A lei humanitária internacional afirma que "matar um paciente ferido indefeso que está sendo tratado em um hospital equivale a um crime de guerra", o que teria ocorrido com Basel Ayman Al-Ghazawi.

"Ao se disfarçarem de civis e equipes médicas aparentemente inofensivas e protegidas, as forças israelenses também cometeram, prima facie, o crime de guerra de perfídia, que é proibido em todas as circunstâncias", ressaltam os relatores.

Eles pedem que  Israel conduza uma investigação sobre o caso, seguindo os direitos internacionais, para que possa ocorrer um processo e uma punição dos responsáveis. Mas, o grupo ainda ressalta a preocupação "com a cultura de impunidade de Israel em relação a supostas violações de leis internacionais por parte de seu pessoal".

 Caso não haja respostas, os relatores pedem que a promotoria do Tribunal Penal se encarregue de investigar o caso. "Pedimos a todos os estados que cumpram suas obrigações legais internacionais para garantir o respeito à lei internacional, incluindo os direitos humanos e a lei humanitária em Israel e no Território Palestino Ocupado, e que cooperem com as investigações atuais do Tribunal Penal Internacional", finalizam.