Rússia e Ucrânia: o que aconteceu neste ano e o que esperar para 2024?

Conflito dura 22 meses e não tem previsão de fim

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Guerra entre Rússia e Ucrânia já dura 22 meses

Rússia e Ucrânia permanecem em guerra após 22 meses. O conflito,  iniciado em 24 de fevereiro de 2022, se manteve vivo durante 2023, fazendo crescer o número de mortos, feridos e dando continuidade à disputa territorial. Neste ano, porém, houve menos movimentação e mais procura por apoio internacional, segundo especialistas.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, se encontrou com Joe Biden, presidente dos Estados Unidos , a principal nação que envia armamentos aos militares ucranianos. Foi também à Turquia, Argentina e recentemente para Alemanha, no dia 14 de dezembro. Além disso, o líder da nação ucraniana recebeu várias autoridades importantes no país ameaçado, como o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, em maio.

Vladimir Putin, presidente da Rússia, recebeu no país o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un . Ele se preocupa também com as eleições presidenciais em março de 2024 . Em discurso inaugural de campanha, o líder russo assegurou o compromisso de transformar o país em uma "potência soberana".

"A Rússia será uma potência soberana e autossuficiente ou deixará de existir", disse Putin aos líderes seniores de seu partido Rússia Unida em um congresso de apoio à sua candidatura.

“Podemos observar que a guerra ficou um pouco mais lenta esse ano, em termos de território conquistado por ambas as partes, e foi mais marcado pela procura de apoio”, afirma Maria Eduarda Dourado, mestre em Relações Internacionais.

Contexto

O início do conflito se deu quando Putin ordenou o que chamou de "operação militar especial" em solo ucraniano, em fevereiro do ano passado. Os bombardeios, que puderam ser ouvidos de diversas partes do país, deram início a uma sequência de ataques que, agora, quase um ano depois, ainda não há perspectiva de desfecho.

Antes da ordem do presidente russo, a relação entre Ucrânia e Rússia até 2022 estava marcada por tensões, mas sem bombardeios, principalmente após a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014. 

O estopim da guerra aconteceu devido a possível entrada da Ucrânia na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), uma aliança militar intergovernamental. As outras causas desse conflito envolvem questões geopolíticas, étnicas e históricas. A Ucrânia visa preservar sua integridade territorial, enquanto a Rússia tem interesses estratégicos na região.

Desde o início da guerra, as negociações internacionais têm ocorrido para tentar resolver a situação, com a participação da União Europeia e os Estados Unidos. No entanto, até o momento, uma solução abrangente ainda foi alcançada.

“Existe muita perspectiva do que pode estar acontecendo agora, mas o que eu mais consigo observar é Putin tentando recrutar novos soldados, porque ele está preocupado com uma aprovação popular por conta das eleições no ano que vem”, explica Maria Eduarda.

Em dezembro, Putin, anunciou um aumento de 170 mil de soldados no Exército, que terá 2.209.130 pessoas no total, incluindo militares oficiais e recrutas por tempo limitado.

Além disso, a especialista avalia que, com a guerra de Israel e Hamas, iniciada em setembro deste ano, a ajuda financeira e militar para Rússia e Ucrânia ficaram um pouco limitadas.

“A gente vê a necessidade da Ucrânia reagir e temos a Rússia preocupada com a eleição no começo do ano que vem e tentando mostrar serviço na guerra. Por outro lado, temos a Ucrânia buscando apoio internacional”.



Principais acontecimentos 

Para Maria Eduarda, a Rússia mostrou uma fragilidade no poder quando um membro do grupo Wagner denunciou o próprio governo.

Essa organização foi criada na Rússia em 2014 e realiza serviços de exército privado formado por mercenários. O grupo Wagner se tornou pertencente ao governo russo para atuar contra a Ucrânia e nas demais causas apoiadas pela Rússia ao redor do mundo.

O Grupo Wagner, liderado por Yevgeny Prigozhin , conquistou êxitos significativos na guerra entre Rússia e Ucrânia, incluindo a tomada de Bakhmut após um cerco de dez meses, ampliando a influência do líder mercenário no Kremlin.

No verão de 2022, secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Nikolai Patrushev, alertou Putin sobre a ameaça representada por Prigozhin, que, segundo relatos, foram ignorados pelo presidente.

Prigozhin morreu em um acidente de avião no final de agosto . Segundo Putin, a aeronave não foi atingida por um ataque míssil, mas sim teve um granada de mão detonada a bordo.

Qual é o maior objetivo de cada lado?

O ano de 2023 termina com cerca de 20% da Ucrânia ocupada. Em setembro, Zelensky reconquistou aproximadamente 5% de seu território quando voltou a controlar a região de Kharkiv.

No dia 14 de dezembro, em entrevista a jornalistas, o líder russo afirmou que vai continuar conquistando territórios da Ucrânia e que não pretende realizar novas convocações para o Exército.

Para Zelensky, o maior objetivo é a retomada de terras e conseguir combater os ataques russos. Para isso, ele planeja convocar "entre 450 mil e 500 mil pessoas adicionais" para lutar na guerra em 2024 e reagir com um milhão de drones.

Há uma previsão para o fim do conflito?

Segundo Putin, a guerra só vai acabar quando a Rússia vencer. “Vou lembrá-lo do que estamos falando: a desnazificação da Ucrânia, sua desmilitarização, seu status neutro", afirmou o líder russo.

O presidente da Rússia descarta negociações e opta pela batalha. “Há outras possibilidades: alcançamos um acordo ou resolvemos o problema pela força. É o que vamos tentar fazer”, disse Putin.

Zelensky também não planeja ceder. Para ele, não há como entrar em negociação com a Rússia. O líder ucraniano pede que os cidadãos mantenham a “resiliência” e informa que não pretende mudar a estratégia, recuperando territórios tomados, inclusive a Crimeia, capturada em 2014.

“Hoje não é pertinente. Não vejo que a Rússia esteja pedindo, não vejo em seus atos. E na retórica, eu vejo apenas insolência”, afirmou Zelensky sobre acordo com a Rússia.

A especialista em Relações Internacionais, Maria Eduarda Dourado, avalia que a Ucrânia depende muito dos Estados Unidos. A nação norte-americana irá votar no Congresso um novo envio de armamentos ao país em janeiro. 

“O que vai acontecer depende muito da aprovação ou não do financiamento para a Ucrânia que será votado pelo Senado dos EUA em janeiro. O fôlego ucraniano depende disso. Se acontecer, a Rússia provavelmente ficará mais na defensiva, o que pode fazer com que a guerra dure ainda muitos anos e perca espaço para acordos”.

Até o momento, a guerra entre Rússia e Ucrânia já deixou mais de 200 mil mortos e 400 mil feridos, segundo uma estimativa realizada pelos oficiais das Forças Armadas dos Estados Unidos.