O presidente da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol), o emiradense Ahmed Nasser al-Raisi, foi acusado de tortura e detenção arbitrária contra um pesquisador e um segurança nos Emirados Árabes Unidos. A denúncia foi entregue na Áustria, e deve levar al-Raisi a participar de uma assembleia-geral da organização em Viena. As autoridades austríacas deverão investigar as acusações apresentadas contra o presidente.
Quem fez as acusações foi o pesquisador Matthew Hedges e o agente de segurança Ali Issa Ahmad, que teriam sofrido as ações em 2018 e 2019, respectivamente. Eles teriam sido detidos e torturados durante uma viagem no país, e acreditam que al-Raisi foi o responsável pelo destino, uma vez que ele também é inspetor-geral do Ministério do Interior dos Emirados Árabes.
O procedimento em questão que Hedges e Ahmad teriam sido pegos foi o de "jurisdição universal", que permite que as autoridades processem suspeitos que viajam ao país.
Hedges é professor universitário em Exeter, no sudoeste da Inglaterra. Em 2022, ele cedeu uma entrevista à AFP, contando do momento em que foi detido após finalizar uma viagem de estudos.
Segundo o docente, ele ficou preso durante sete meses, descrevendo a experiência como "apavorante", sendo a maior parte desse tempo cumprido em regime de isolamento. Ele ainda acrescenta que haviam "ameaças de violência" para ele confessar um suposto envolvimento com o serviço de inteligência britânico.
A constante coação o fez confessar forçadamente o suposto crime, o condenando à prisão perpétua por espionagem em novembro de 2018. Entretanto, a decisão foi revogada após uma semana por conta da pressão internacional sobre o caso.
Já Ahmad foi detido por vestir uma camiseta em apoio ao Catar durante a Copa das Nações da Ásia. Na época, o país estava sendo confrontado pelos Emirados Árabes Unidos. O agente de segurança ficou preso por três semanas, e afirma que recebeu socos e facadas na detenção.
Na França, sede da Interpol, al-Raisi está sendo investigado desde março de 2022 por "participação em torturas". Procedimentos penais na Noruega, Suécia e Turquia também foram iniciados. O emiradense está no cargo desde novembro de 2021, quando foi eleito em meio a protestos de organizações de direitos humanos.