Nas últimas semanas, tem aumentado a tensão entre Venezuela e Guiana por conta do território Essequibo, rico em petróleo e alvo de disputa entre os países há mais de um século.
Nesta semana, o presidente venezuelano Nicolás Maduro disse que o país vizinho ameaça a paz no Caribe. "Medidas tomadas nas últimas semanas são uma afronta à paz em todo o continente. A Guiana torna-se uma ameaça à paz, estabilidade e ao direito internacional em toda a região do Caribe", disse Maduro na segunda-feira (30) durante transmissão de seu programa de televisão "Con Maduro +".
A fala foi feita em resposta a um pronunciamento do presidente da Guiana, Irfaan Ali, que disse que o país não abriria mão da região. "Essequibo é nosso, cada centímetro quadrado dele", declarou.
As falas dos mandatários acontecem depois da Venezuela marcar um referendo para abordar o tema, o que causou mais tensão na região. Há pouco mais de uma semana, o país marcou para o dia 3 de dezembro uma votação para que a população venezuelana responda se concorda com a criação de um estado na região e com a nacionalização de seus cidadãos.
Para o governo da Guiana, o referendo é "ilegal" e pode afetar a segurança do país e de todo o Caribe. "O referendo tem o objetivo de promover a reivindicação ilegal e infundada da Venezuela sobre mais de dois terços do território nacional da Guiana", afirmou o país.
Venezuela x Guiana: o que está em jogo?
A área em disputa é o território Essequibo, também chamado de Guiana Essequiba, administrada pela Guiana e reivindicada pela Venezuela há mais de um século. Com cerca de 160 mil km², a área é rica em minerais e biodiversidade.
De um lado, a Guiana defende um limite estabelecido em 1899 por uma corte de arbitragem de Paris. Na ocasião, o Reino Unido (na época, a Guiana era colônia do país) saiu em vantagem sobre a posse do território, o que desagradou a Venezuela.
Do outro lado, a Venezuela defende o Acordo de Genebra de 1966, que estabelece bases para um solução negociada e não reconhece o acordo anterior, anulando-o.
O caso está sendo avaliado pela Corte Internacional de Justiça desde 2018. Isso porque, em 2015, a disputa na região passou a ser mais forte depois que a empresa estadunidense ExxonMobil encontrou reservas de petróleo no território Essequibo.
De lá para cá, 46 descobertas de petróleo foram feitas na região pela empresa. A última delas aconteceu na semana passada, quando o governo da Guiana anunciou que a nova jazida descoberta seria submetida a uma avaliação exaustiva.
Bate-boca
No início do mês, os dois países trocaram farpas depois do governo venezuelano marcar uma reunião para abordar o tema e o lado guianês ter se recusado a participar. De acordo com o governo da Guiana, a negativa ocorreu porque o país acredita que a solução para o conflito deve ocorrer no âmbito da Corte Internacional de Justiça.
Em comunicado, a chancelaria da Venezuela disse que a atitude da Guiana foi "arrogante e hostil". A Guiana "mais uma vez se mostra um governo subalterno, refém da transnacional ExxonMobil, que a proíbe de retomar o diálogo soberano com a Venezuela", disse o comunicado. "A posição arrogante e hostil da Guiana, negando o diálogo e a diplomacia, é o maior obstáculo para alcançar uma solução", continuou.
Petróleo no centro da discussão
O embate sobre o território Essequibo acontece sobretudo por conta do potencial de exploração petrolífera da área. Tanto a Venezuela quanto a Guiana são países cujas economias têm forte relação com o combustível fóssil.
A Venezuela enfrenta dificuldades em produzir mais petróleo depois de sofrer fortes sanções dos Estados Unidos e reduzir a manutenção da infraestrutura local. Com a guerra na Ucrânia, o país tentou aproveitar a chance de vender mais petróleo internacionalmente, mas não conseguiu avançar na aceleração da produção.
Já a Guiana vem despontando na exploração de jazidas de petróleo desde que a estadunidense ExxonMobil entrou no país, o que transformou a economia local. No ano passado, a economia da Guiana cresceu 62%, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o que representa a maior taxa do mundo.
Na disputa, a Guiana conta com o apoio dos Estados Unidos, que já disse apoiar "o direito soberano da Guiana de explorar seus próprios recursos naturais".