'Bolsonaro argentino', Milei é favorito na corrida presidencial

'Anarcocapitalista' obteve vantagem nas últimas pesquisas de intenção de voto com discursos que defendem o fim do Mercosul e rejeitam a Argentina no Brics

Foto: Reprodução/Instagram @javiermilei - 08.08.2023
Liberação da venda de órgãos, fim do Mercosul e insultos ao papa Francisco marcam Javier Milei

Javier Milei, candidato que defende propostas como a venda de órgãos humanos, a extinção do Banco Central argentino e a 'eliminação' do Mercosul, está liderando as intenções de voto nas eleições argentinas.

A arrancada de Milei nas pesquisas pode ser uma preocupação para alas já tradicionais da política do país. Além do economista ter saído vitorioso nas primárias do dia 13 de agosto, uma pesquisa do Instituto Opinaia divulgada na última terça-feira (5) pelo jornal Clarín aponta que ele está em vantagem  tanto na disputa com a conservadora Patricia Bullrich, do partido Juntos por el Cambio, quanto com o peronista Sergio Massa, atual ministro da Economia.

Foto: Divulgação/Ministério da Economia da Argentina
O candidato à presidência argentina Sergio Massa e o presidente Lula


Uma das ideias do candidato ‘ultraliberal’ é aproximar o país dos Estados Unidos e Israel. "Quando Milei diz que quer se aproximar de Israel, não é de Israel, é de Netanyahu. São aproximações muito frágeis, e o país tende a ficar isolado", avalia Miriam Saraiva, professora do departamento de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e especialista em relações Brasil-Argentina.

"Esse isolamento é negativo para receber investimento, estabelecer novas frentes de comércio e também como participante da política internacional em geral. Para participar ativamente, precisa ter apoio”, diz Miriam. Javier Milei já declarou ser contra a adesão Argentina ao Brics e que, se eleito, vai retirar o país do Mercosul — posicionamentos que podem simbolizar esse afastamento em relação aos demais países latinos e emergentes.

Na última semana, o presidenciável protagonizou mais uma polêmica ao insultar o Papa Francisco. Ele o teria chamado de 'representante do maligno' e 'imbecil'; o episódio desencadeou a realização de uma missa de repúdio organizada por padres de diferentes comunidades de Buenos Aires no dia 5 de setembro.

Bolsonaro argentino?

A professora explica que o movimento que fortalece candidatos como Milei são característicos de períodos de crise: “A Argentina particularmente está sofrendo uma crise econômica muito forte e nesse processo acontece uma certa descrença nos políticos por parte da população”.

De acordo com a docente, esse processo é resultado “da globalização, da falta de soluções para problemas objetivos que vivem as sociedades, de uma crise de representatividade — em que as pessoas já não se veem representadas por políticos mais tradicionais — e, certamente, é muito fortalecido pelas mídias sociais”.

“Esses movimentos [...] não se apoiam em partidos, e sim em um conjunto de eleitores desorganizados. Se não tiver apoio partidário, não se reelege”, diz a docente. Miriam traça um paralelo com o Brasil, apontando que Jair Bolsonaro se elegeu em 2018 em circunstâncias semelhantes às do candidato argentino, e acabou perdendo a reeleição para Lula, que já havia sido presidente antes — com sólido apoio partidário.

O que explica o favoritismo de Milei

Segundo outro levantamento divulgado pelo jornal Clarín, 1.835 argentinos responderam à pergunta “Qual dessas razões explica o resultado da PASO [Primárias Abertas Simultâneas Obrigatórias]?". Desses, 74% acreditam que os votos de Milei nas eleições primárias são “um voto contra o sistema político”, e 51% justificam que a “alta inflação” foi o motivo do baixo número de votos recebidos pelo ministro Sergio Massa.


De acordo com os resultados oficiais das primárias, Milei, Massa e Bullrich são os candidatos com maior chance até o momento. Eles devem se enfrentar no dia 22 de outubro , data marcada para a eleição geral.

Caso a eleição vá para o segundo turno, os dois mais votados vão disputar a presidência no dia 19 de novembro. A posse do novo representante da Casa Rosada ocorrerá no dia 10 de dezembro.