Nobel da Paz vê "risco alto" de explosão acidental de bomba atômica

Um dos principais nomes na luta contra as armas nucleares, médico afirma que o uso de uma arma nuclear de alto potencial seria devastadora para todo o mundo

Foto: Reprodução/X - 10/09/2023
Carlos Umaña venceu o Prêmio Nobel da Paz de 2017, com a Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares

Copresidente da Associação Internacional de Médicos para a Prevenção da Guerra Nuclear e vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 2017 pela Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares (ICAN, na sigla em inglês), à , o médico Carlos Umaña vê chance alta de uma bomba nuclear ser ativada por erro humano ou pela ação de hackers.

Para o costa-riquenho, a corrida nuclear que presenciamos atualmente é "algo incrivelmente perigoso, que coloca todos nós à beira de um precipício".

"Atualmente, o risco de falhas de interpretação e erros de cálculo é altíssimo. Já observamos que, só nos Estados Unidos, ocorreram mais de 1.000 acidentes com arsenais nucleares e, em seis ocasiões publicamente conhecidas, estivemos à beira de uma guerra nuclear em larga escala, não em época de guerra, mas em tempos, entre aspas, de paz", disse o médico em entrevista à BBC .

"Em um contexto de guerra, com ameaças nucleares explícitas e diversas linhas vermelhas já cruzadas, o risco de um cálculo errado ou interpretação errônea é muito mais alto."

Umaña é uma das maiores referências na luta pela eliminação dos arsenais nucleares. Segundo ele, o uso de uma arma nuclear de alto potencial seria devastadora para todo o mundo.

"Fala-se, por exemplo, de uma única detonação de uma arma nuclear como algo tático ou estratégico, como se uma bomba fosse algo pequeno. Mas, na verdade, não existem armas nucleares pequenas. Se uma arma nuclear tática de cerca de 100 quilotons — que teria a potência de cinco ou seis bombas de Hiroshima — fosse detonada em uma cidade grande, ela teria o potencial de aniquilar imediatamente centenas de milhares de pessoas e deixar muitíssimas outras feridas", explica.

"E, quando falamos em feridos, estamos falando da síndrome aguda da radiação, que é a decomposição dos órgãos e dos sistemas vitais, um dos sofrimentos mais dolorosos que qualquer ser vivo pode atravessar. Se falarmos em uma guerra nuclear em larga escala, além das dezenas de milhões de mortos e feridos, também seria criada uma enorme quantidade de fuligem e escombros, que subiriam até a estratosfera e bloqueariam a luz solar."