Brasileiros protestam contra xenofobia em universidade de Lisboa

Estudante português teria dito que colegas do Brasil eram "burros" e mereciam "levar pedras"

Manifestação de brasileiros contra xenofobia na Faculdade de Direito de Lisboa
Foto: Twitter/@hedflow - 16.05.2023
Manifestação de brasileiros contra xenofobia na Faculdade de Direito de Lisboa

Estudantes brasileiros promoveram uma manifestação  contra a  xenofobia na Universidade de Lisboa  nesta terça-feira (16). O caso foi motivado por um episódio de discriminação ocorrido em abril e que está sendo investigado pela  Faculdade de Direito  da instituição.

Segundo as denúncias, um dos alunos da instituição, Hélder Semedo , que é português, teria insinuado que os brasileiros não possuem capacidade intelectual, e que tais estudantes deveriam ser apedrejados.  Semedo  atua como conselheiro no Conselho Geral da Universidade de Lisboa .

A advogada e mestranda em Ciências jurídico-políticas da FDUL, Maria Elena Leal, que esteve presente na manifestação,  explicou que a o ato surgiu a partir da "sensação de impunidade", uma vez que a associação não se pronunciou sobre o caso e, num primeiro momento, não quis nem autorizar que as falas do aluno estivessem em ata. "Nós ficamos bastante indignados com isso, [pois] para que conseguisse de fato fazer um processo disciplinar que obtivesse frutos, nós precisávamos que aquilo tivesse em ata".

Leal  diz que além da reunião presencial, houve uma outra realizada de maneira remota. Nessa segunda reunião, foi decido que a associação iria se pronunciar acerca do caso – mas, novamente, nada ocorreu, o que despertou um sentimento de que o caso seria esquecido. "Resolvemos marcar a manifestação, para que a associação tomasse alguma providência e fizesse valer os nossos direitos enquanto alunos que não merecem ser violentados".

Foto: Maria Elena Leal - 16.05.2023
A faculdade não se pronunciou sobre o caso nem sobre a manifestação

As falas de  Semedo  teriam ocorrido durante uma assembleia-geral dos alunos, e foi exposta em uma carta entregue à comitiva do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando visitou Portugal. A fala do aluno foi registrada em ata pública da Reunião Geral dos Alunos (RGA). Segundo  Leal, o objetivo da reunião era  levantar pautas sobre políticas públicas que que poderiam ser impementadas em prol dos  estudantes brasileiros

O documento aponta a seguinte frase: "As pessoas que escreveram isto acho que de fato mereciam levar com uma pedra". Além disso, o aluno faz apontamentos sobre a forma como a carta havia sido escrita, dizendo ter "erros crucias", como chamar o presidente de "Lula" ao invés de "Luiz Inácio".  Semedo foi suspenso da reunião pelo presidente da RGA, António Cortês.

Em entrevista ao portal Portugal Giro,  Semedo  negou que tenha sido  xenofóbico e disse  que os alunos agiram de forma "leviana". Ele argumentou que jamais discriminaria um brasileiro, pois tem "familiares no Brasil".

Além do caso de  xenofobia , os  brasileiros tentavam mostrar as dificuldades que os estudantes estrangeiros vem tendo no país. Vale ressaltar que este não é o primeiro episódio de  xenofobia contra os estudantes  brasileiros  que ocorreu na faculdade. Em 2019, um grupo teria colocado uma caixa cheia de pedras no saguão do prédio com os dizeres: "grátis para atirar em um zuca". A ocasião foi chamada por  Semedo de "brincadeira" em seu ponto de vista.

Até o momento, a Faculdade de Direito não se pronunciou sobre o caso, nem sobre a manifestação. Ela ocorreu às 17h no horário local, se estendendo por uma hora no lado de fora da universidade. "A gente organizou tudo conforme a lei. A polícia foi lá para auxiliar na manifestação, e tudo ocorreu perfeitamente bem."