Grupo antissistema pode ter participado de ataque a Cristina Kirchner

Justiça investiga possível relação entre o grupo e a tentativa de assassinato

Brasileiro tentou assassinar Cristina Kirchner
Foto: Reprodução/Redes sociais
Brasileiro tentou assassinar Cristina Kirchner

A investigação da tentativa de assassinato da vice-presidente da Argentina , Cristina Kirchner, no dia 1º de setembro, ainda busca responder a uma série de dúvidas sobre as atividades do brasileiro Fernando Sabag Montiel e sua namorada, Brenda Uliarte, acusados do crime. Novas evidências apontam não só que o crime foi premeditado, mas levantam suspeitas de envolvimento de organizações antissistema cujos integrantes teriam inclusive entrado no prédio da vice.

De acordo com o site Infobae, a polícia teria coletado evidências que associam Montiel, Uliarte e seus amigos — chamados de "gangue do algodão doce" por afirmarem que a venda do doce é sua fonte de renda — ao grupo radical libertário Revolução Federal. Além do casal, suspeita-se de Nicólas Gabriel Carrizo, o "chefe" da turma, e Sergio Eduardo Orozco, que foram interrogados pela Justiça como testemunhas e tiveram seus celulares confiscados. Não há, contudo, acusações formais contra os dois.

O Revolução Federal é uma organização antissistema relativamente nova, mas com bastante penetração nas redes, que reúne pessoas que se dizem indignadas com o cenário político atual. Defendem slogans vagos como o "combate ao populismo" e à "corrupção", além de fazerem discursos de ódio contra minorias e ações e protestos não raramente violentos.

Em um ato no mês passado, levaram tochas para a frente da Casa Rosada e as lançaram contra o prédio. Em outro, protestaram em um dos primeiros eventos públicos do novo superministro da Economia, Sergio Massa. Fizeram ameaças também ao deputado radical Rodrigo De Loredo, enquanto estava em uma padaria na capital, e ao ministro do Desenvolvimento, Jorge Ferraresi. Repetem frases como "vão para Cuba" e "não vão mais poder caminhar tranquilos". Em 9 de julho, ergueram uma guilhotina no centro portenho com a legenda "presos, mortos ou exilados".

De acordo com o Infobae, a Justiça argentina busca confirmar se integrantes do Revolução Federal e de um grupo similar, a Nação dos Desamparados, estiveram em Recoleta, o bairro da vice-presidente, no fim de semana antes do crime. Ambas as organizações têm seus primeiros registros virtuais em maio, com convocações para atos e convites para grupos privados no WhatsApp.

Brenda Uliarte teria participado de uma convocação e fez parte do grupo que foi para a frente da Casa Rosada em 18 de agosto — algo que imagens em suas próprias redes sociais confirmam. Os representantes do Revolução Federal negam qualquer envolvimento com a mulher ou seu namorado, mas chamou a atenção da Justiça uma publicação de Leonardo Sosa, membro do grupo, que postou uma foto sua supostamente no apartamento de Ximena de Tezanos Pinto, vizinha de cima de Cristina.

"Com o grande companheiro Gastón enquanto nos ambientam com cantos lá embaixo", escreveu ele, possivelmente referindo-se aos aliados da vice-presidente que faziam vigília em frente ao seu prédio. Gastón Guerra de Nación, por sua vez, é um integrante dos Desamparados.

As autoridades avaliam se a vizinha da vice-presidente teve algum papel voluntário ou involuntário no ataque, já que é uma crítica perene da vice, do governo do presidente Alberto Fernández e dos militantes estacionados constantemente na região.

Gangue do algodão doce

O financiamento da "gangue do algodão doce" é outro ponto na mira das autoridades: ao La Nación, fontes afirmaram haver indícios de que ao menos alguns dos vendedores do grupo, incluindo Carrizo, fizeram rondas nas semanas antes do atentado nas redondezas da casa de Cristina. Fizeram as visitas antes mesmo de os militantes estacionarem ali, o que se intensificou após o Ministério Público pedir 12 anos de prisão para a vice, acusada de ​​chefiar uma associação ilícita para favorecer empresário amigo.

Os investigadores tentam também entender como o grupo se financiava. Uliarte, Sabag Montiel e seus amigos afirmam que vendiam algodão doce para viver, mas autoridades suspeitam que esse não seja o caso: Uliarte teria sido recebida por volta do meio-dia do dia após o crime por Carrizo e Orozco. De acordo com o La Nación, avalia-se se os celulares de ambos foram manipulados antes de serem entregues à Justiça, já que materiais apagados foram constatados.

A Justiça tenta entender também o que aconteceu com o celular de Sabag Montiel, cujas informações se perderam — suspeita-se que tenha havido um problema na extração de conteúdo pela polícia. As buscas no aparelho de Uliarte já terminaram. Foi possível extrair 120 gigabytes de informações, além de um documento encriptado que será analisado.

Novas evidências

A mulher negava, até seu depoimento na terça, qualquer participação no atentado, dizendo que apenas acompanhava o namorado e que o ataque era uma "aberração". Sua versão, contudo, foi por água abaixo em um áudio entregue à Justiça por Carrizo. A uma amiga, a mulher supostamente teria mandado uma mensagem de voz no dia seguinte à tentativa de magnicídio afirmando que se orgulhava do que "Nando" tinha feito.

Vieram à tona também imagens de Uliartel em Recoleta e, no sábado, uma gravação de câmeras que mostra Sabag Montiel e Uliarte indo juntos para Buenos Aires antes do ataque. Em seu depoimento, contudo, a mulher havia dito que não via o namorado havia dias.

Em uma nova operação no sábado, a polícia encontrou ainda a bolsa e o guarda-chuva que Sabag Montiel usava no dia do ataque. Os objetos haviam sido deixados por Uliarte na casa de um ex-namorado, que se apresentou voluntariamente como testemunha e disse ter recebido a mulher pouco após o ataque.

As autoridades analisam câmeras de segurança para tentar identificar uma mulher que deixou cair no chão de uma lanchonete McDonald’s um papel que foi pego logo depois por Uliarte e entregue a Sabag Montiel.

*Com informações do jornal La Nación

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