Depois de vários anos de perseguição por parte do governo de Daniel Ortega, que se agravou depois das eleições presidenciais de 2021, o tradicional jornal La Prensa, o maior do país, foi obrigado a tirar todos os funcionários da Nicarágua. Nos últimos anos, o La Prensa já teve vários profissionais presos e intimidados, e desde ano passado funciona apenas online.
O diretor do La Prensa, Juan Lorenzo Holmann Chamorro está detido desde agosto do ano passado e, em abril deste ano, foi condenado a nove anos de prisão por lavagem de dinheiro.
Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), os últimos funcionários do jornal deixaram a Nicarágua clandestinamente entre 9 e 25 de julho, a fim de continuar realizando o trabalho de fora do país sem riscos junto com outros que já tinham se exilado.
O estopim foram buscas nas casas de vários funcionários, no dia 6 de julho, em reação a uma reportagem sobre a expulsão de freiras católicas de uma ordem fundada por Madre Teresa de Calcutá. Após a publicação, a polícia de Manágua revistou as residências de um jornalista, um fotógrafo, um assistente administrativo e dois motoristas do La Prensa.
Os motoristas, que não tiveram suas identidades reveladas, foram presos sem qualquer acusação, acusa a RSF. Alertados sobre as prisões, os demais funcionários cujas casas foram revistadas se esconderam e conseguiram evitar a prisão. Mas foram forçados a fugir do país clandestinamente.
A Repórteres Sem Fronteiras declarou apoio à equipe do jornal e a todos os meios de comunicação independentes do país “que estão sendo submetidos aos extraordinários e chocantes abusos autoritários do presidente Ortega ”.
"O aparato repressivo estabelecido pelo governo Ortega para silenciar os jornalistas é tão aterrorizante quanto intolerável", disse Emmanuel Colombié, diretor do escritório da RSF na América Latina.
Na segunda-feira, o bispo nicaraguense Rolando Álvarez, crítico do governo, denunciou que as autoridades fecharam cinco emissoras de rádio em sua diocese, na região de Matagalpa, no Norte do país. Autoridades afirmaram que as estações católica tiveram que parar de operar porque suas licenças de operação não eram válidas, o que Álvarez nega.
O fechamento se soma à suspensão, em junho do ano passado, do canal de televisão da Conferência Episcopal da Nicarágua (CEN). As tensões entre a Igreja e o governo aumentaram em 2018, quando vários templos católicos deram abrigo a manifestantes feridos nos protestos que eclodiram contra Ortega.
Entre 2018 e 2019, a Igreja também tentou mediar um diálogo entre o governo e a oposição, mas não teve sucesso. Em março, o Vaticano informou que o governo nicaraguense retirou a aprovação para permanecer no país ao seu núncio em Manágua desde 2018, Waldemar Sommertag.
Apagão de informação
No fim de 2020, o governo aprovou três leis, de crimes cibernéticos, agentes estrangeiros e traição, que vêm sendo usadas para silenciar vozes críticas, principalmente a dos repórteres e suas fontes de informação.
A de crime cibernético, por exemplo, é utilizada para decidir quando uma publicação é uma "notícia falsa" e tem como alvo direto funcionários públicos que vazam informações do Estado, chave para o jornalismo. As penas estabelecidas pela lei de crimes cibernéticos variam de um a oito anos de prisão.
Com o aumento da repressão, as edições dos jornais começaram a ficar repletas de "fontes anônimas" e os nomes dos jornalistas sumiram por "segurança". Ou seja, os repórteres pararam de assinar suas notas.
Além da perseguição a jornalistas e à Igreja, o governo Ortega ordenou a prisão dos sete candidatos da oposição com maior chance de enfrentá-lo nas eleições — das quais ele foi proclamado vencedor, apesar de terem sido rejeitadas pela comunidade internacional.
Entre os detidos estão ex-guerrilheiros sandinistas, antigos companheiros de Ortega na luta contra a ditadura da família Somoza, que governou a Nicarágua por 47 anos. Também prendeu analistas políticos, feministas, ativistas sociais e até empresários.
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